A última sexta-feira (14/08) entrará para a história como um momento de impacto e larga importância na história comercial do Maranhão. Nesta data, nos instantes finais do expediente, o Grupo Mateus protocolou na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o documento preliminar da oferta inicial de ações (IPO), operação por meio da qual prevê a captação, em outubro, de nada menos que R$ 4,1 bilhões, bolada monumental, que pode chegar a R$ 5 bilhões e com a qual reforçará seu caixa, consolidará sua estrutura e turbinará seu crescimento. Com a entrada no mercado de ações, o Grupo Mateus, hoje reconhecido como um dos gigantes do varejo no Nordeste, deixará de ser uma empresa familiar – só tem quatro sócios -, para se tornar um megacomplexo empresarial a ser gerido pelo empresário Wilson Mateus com o apoio de sócios. E para se ter uma ideia do tamanho da operação deflagrada na noite se sexta-feira, ela está sendo liderada pela XP Investimentos, tendo o Bradesco BBI como agente estabilizador, e a participação direta do BTG Pactual, do Itaú BBA, do BB Investimentos, do Santander e do Safra, ou seja, a nata do mercado de capitais.
O documento que formula a oferta inicial de ações revela o gigantismo do Grupo Mateus. Ao longo de 34 anos de trabalho duro, movido pela obsessão de investir tudo o que ganhava, e muitos lances de ousadia incorporando empresas comerciais que haviam estacionado no tempo, como o Grupo Lusitana, que não resistiu ao domínio familiar liderado pelo lendário empresário Manoel Ferreira, e outras mais agressivas, como a rede Preço Bom, criada pelo empresário Carlos Gaspar, Wilson Mateus montou um império. O seu grupo é hoje formado pelas marcas Mix Atacarejo, Supermercado Mateus, Eletro Mateus e Camiño Supermercados, além de uma plataforma de e-commerce. Essas bandeiras estão espalhadas pelo Maranhão, Tocantins e Pará por meio de 137 lojas físicas, sendo 29 atacarejos, 24 supermercados, dois hipermercados, 66 lojas de eletroeletrônicos, 16 lojas de vizinhança e nove centros de distribuição. Bem azeitado, o ano passado, o grupo faturou R$ 9,9 bilhões e teve lucro líquido de R$ 338 milhões.
O Grupo Mateus não está desembarcando no mercado de capitais por acaso nem por algum ímpeto impulsivo do seu construtor e chefe maior, Wilson Mateus, um sujeito de aparência modesta, de hábitos simples, que usa roupas baratas – quase sempre calças jeans e camisas de algodão de talho convencional -, carregando no bolso uma caneta Bic, e que, circulando dentro de uma das suas lojas, dificilmente será identificado como o dono. A entrada da empresa no mercado de ações está diretamente ligada ao seu atual gigantismo. E o interesse que tem despertado no mercado de capitais é fruto amadurecido da estrutura que montou e da sua competitividade que o mantém forre na região onde atua. “Isso proporciona um crescimento e uma rentabilidade contínuos. Além disso, a companhia conseguiu criar uma estrutura de logística e de venda digital in house, o que é louvável”, diz um especialista envolvendo na operação.
Na avaliação de quem entende do riscado comercial, a oferta inicial de ações do Grupo Mateus é uma das mais aguardadas da temporada de captação no mercado brasileiro. Há até quem preveja que, com base no seu movimento atual e no seu potencial de crescimento nas diversas áreas em que atua, a captação pode chegar a R$ 5 bilhões, ou seja, R$ 900 milhões a mais do que a expectativa inicial do comando da empresa e dos coordenadores da operação. De acordo com a proposta de abertura de capital, os recursos captados serão investidos na abertura de novas lojas.
Homem de negócios que tem demonstrado enxergar muito mais que um palmo além do seu nariz, Wilson Mateus sabe que, por mais competente que seja sua gestão, uma empresa desse porte corre um risco enorme se mantida sob um controle societário familiar, principalmente agora, quando a pandemia do novo coronavírus vem impondo mudanças radicais no funcionamento de empresas comerciais, especialmente os supermercados. Sabe também que, muito além de uma gestão profissionalizada, comandada por executivo experientes e competentes, a estabilidade e o crescimento do Grupo dependerão também de capital sólido e acionistas de grande envergadura. Tanto que os recursos a serem captados serão investidos na abertura de novas lojas.
O desembarque do Grupo Mateus no mercado de ações é o caminho natural de empresas do seu porte e com garra para crescer. E é exatamente por isso que a operação protocolada na CVM representa, sem favor, um marco na história econômica economia do Maranhão representa um marco.