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Hoje e ontem no universo da irrealidade cotidiana 

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Três jovens calouras de uma universidade em Bauru, São Paulo, viraram celebridades instantâneas em todo o país por terem debochado de uma colega quarentona aprovada no mesmo concurso e sua colega de turma. Na opinião das três jovens, uma mulher de quarenta anos já esgotara seu prazo de validade e não tinha nada que pensar num curso universitário. 

 

Talvez as três pertençam a famílias dominadas pelo machismo do pai e em que o lugar da mãe também quarentona seja a cozinha. Era uma contradição essas meninas terem vencido numa disputa tão difícil e não perceberem que mulheres da idade de sua mãe podiam fazer o mesmo. Em sua opinião, o destino da mãe de cada uma delas estava confinado à escravidão do forno e do fogão?

 

O episódio viralizou nas redes sociais e no dia seguinte a Universidade iniciou uma investigação. Imediatamente as três desistiram do curso mal iniciado.

 

Esse episódio pertence ao universo da irrealidade cotidiana à qual décadas atrás Umberto Eco dedicou todo um livro. Mas esse universo continua muito atuante e não é só entre terraplanistas ou no caso do acampado diante do QG do Exército em Brasília que se confessou extraterrestre.

 

O UNIVERSO DA IRREALIDADE COTIDIANA NO BANCO CENTRAL

 

Segundo o Banco Central, as reservas internacionais do Brasil cresceram 14,2 bilhões de dólares nos 73 primeiros dias do governo Lula e alcançaram o total de 339 bilhões em 10 de março. 

No governo Bolsonaro, essas reservas diminuíram 65,8 bilhões de dólares em quatro anos.

 

Apesar desse contraste e desse indiscutivelmente bom resultado dos primeiros dias do governo Lula, o noticiário plantado na grande mídia pelo próprio Banco Central e pelo mercado financeiro insistia no fim de semana que em sua próxima reunião o Comitê de Política Monetária (Copom) vai manter a taxa de juros em 13,75%.

OS EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS A APOSENTADOS

 

Assim como os bancos privados, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil decidiram suspender os empréstimos consignados para aposentados e pensionistas do INSS. No caso dos bancos privados, foi uma reação à redução dos juros determinada pelo governo, de 2,14% para 1,70% ao mês. Eles alegaram que deixariam de ter rentabilidade com o novo teto.

 

O Banco do Brasil, porém, afirmou em nota que “realiza estudos de viabilidade técnica” sobre as novas condições do consignado e a Caixa disse que “suspendeu a oferta do crédito consignado para beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para avaliação”.

 

Decisões provisórias, portanto, elas deixam o aviso de que a Caixa e o BB podem concorrer com os bancos privados cobrando juros menores. Deve ter sido para aguardar a decisão do Copom.

 

A QUEBRA DO SILICON VALLEY BANK

 

Titulo de um artigo de primeira página no The Guardian, de Londres:

 

—  Silicon Valley Bank said it was too small to need regulation. Now it’s ‘too big to fail’

 

Tradução:

 

— O Banco Silicon Valley disse que era pequeno demais para precisar de regulamentação. Agora é grande demais para poder quebrar.

 

DE NOVO A IRREALIDADE COTIDIANA

 

Do site Opera Mundi:

 

— Natal de 1969. O então governador da Bahia, Luís Viana, recebeu ofício em tom de ordem do general Abdon Sena, comandante da 6ª Região Militar: o militar queria que ele mandasse apreender a edição das poesias completas do baiano Gregório de Mattos Guerra, publicada pela pequena editora Janaína, de Salvador. E parte da edição foi realmente confiscada pelos esbirros armados e queimada.

 

 

—  ”Em defesa da família brasileira”, o general Sena emitiu, então, ordem de prisão para Gregório de Matos. Por não ser baiano, [ele] não sabia que Gregório de Mattos estava morto e sepultado desde 1695, havia dois séculos. 

 

 

 

(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.

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