Na capital que foi palco de um dos mais importantes fatos da política nacional, dos últimos tempos, a prisão do ex-presidente Lula, na sede da Superintendência da Polícia Federal, por determinação do ex-juiz Sérgio Moro, o PT tem um candidato, nestas eleições municipais, com propostas de políticas públicas que priorizem os segmentos mais vulneráveis, como por exemplo, o Renda Curitibana, programa pensado a partir do Bolsa Família e do Renda Mínima, de autoria do ex-senador Eduardo Suplicy (PT/SP).
Trata-se do advogado Paulo Opuszka, de 43 anos, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que, embora sem experiência em disputas político-eleitorais, tem, porém, experiência administrativa que o credencia para tal: já trabalhou na Câmara Municipal de Curitiba, ocupou o cargo de superintendente do Instituto de Administração Pública (IMAP), da prefeitura municipal da capital, e foi chefe de gabinete da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que tem status de secretaria e um orçamento equivalente ao da cidade de Londrina.
É exatamente com o propósito de mostrar que o partido tem propostas e competência para administrar a capital curitibana, que Paulo Opuszka concorre as eleições municipais, tendo como candidato a vice-prefeito, o delegado Pedro Filipe. Mas, também, com disposição para defender o partido e seu maior líder, de todos os ataques feitos pelos adversários. Opuszka rechaça o termo “República de Curitiba”, defendendo a volta da imagem da capital como “referência de desenvolvimento”, e fala dos principais problemas a serem enfrentados pelo futuro prefeito.
Mestre e doutor em Direito, pela UFPR, Paulo Opuszka leciona Direito e Processo do Trabalho, comanda o programa de Pós-Graduação em Direito e atua como pesquisador, liderando o Grupo de Estudos em Trabalho, Economia e Políticas Públicas da instituição.
O candidato petista concedeu esta entrevista ao Jornal Brasil Popular (JBP), realizada por meio digital, devido à pandemia da Corona Vírus (Covid-19).
JBP – Por que você aceitou ser candidato a prefeito da cidade onde, ao ficar preso, por um ano, Lula foi o principal assunto e arrebanhou críticas, por causa das grandes manifestações, realizadas na cidade, por delegações de todas as partes do país, pedindo sua liberdade?
Paulo Opuszka: Ter sido escolhido para representar o Partido dos Trabalhadores neste pleito é uma grande honra. O fato de o presidente Lula ter ficado preso em Curitiba e ter levado milhares de pessoas à porta da Polícia Federal, apenas nos mostra que os governos petistas acertaram ao olhar para os mais pobres, para os que sempre são preteridos pelos governos de centro e de direita. E esse olhar social é o que marca a nossa trajetória. Desejamos o mesmo para Curitiba. Queremos uma cidade que volte a ser referência de desenvolvimento e não que seja reconhecida por ser a capital da Lava Jato. Falar em República de Curitiba é motivo de vergonha e não de orgulho. Vergonha porque coloca a cidade em uma postura autoritária que combina apenas com a farsa da Lava Jato e com uma prisão totalmente ilegal e arbitrária, que visava apenas tirar o presidente Lula do jogo político.
JBP – Sem nunca ter concorrido eleições, em que você se respalda para postular a prefeitura de Curitiba, tradicionalmente, ocupada por políticos de larga experiência administrativa?
Paulo Opuszka: De fato, eu jamais concorri eleições. Mas isso não quer dizer que eu não tenha experiência no campo da administração pública. Possuo experiência administrativa na Câmara Municipal, na administração municipal e como chefe de gabinete da Universidade Federal do Paraná (UFPR). É importante lembrar que a universidade possui status de secretaria e tem um orçamento que equivale ao da cidade de Londrina. Além disso, tenho segurança em relação à minha experiência política – que teve início ainda na juventude -, e em todas as bandeiras que o PT defende e implanta, ao longo das décadas.
JBP – Em sua campanha, você fala que vai “cuidar de pessoas”. Isso não soa demagógico?
Paulo Opuszka: Se você não tiver propostas concretas, algumas delas inspiradas em políticas já implantadas e que tiveram sucesso, pode soar. Mas nossa campanha e nosso plano de governo explicam de que maneira pretendemos cuidar dos moradores de Curitiba. O Renda Curitibana, por exemplo, é um projeto pensado a partir do Bolsa Família e do Renda Mínima, do Suplicy (Eduardo Suplicy). Além disso, nossa proposta visa todos os cidadãos e cidadãs, sempre com olhar especial àqueles e àquelas que moram nas periferias e nas ruas. Cuidar das pessoas, no nosso caso, ultrapassa o discurso demagógico que vemos, por exemplo, na administração em curso. E se você me perguntar como posso garantir isso, respondo: basta vermos como foram os governos petistas. Foi nesse período, que saímos do Mapa da Fome, que garantimos mais empregos e melhores salários, que o país figurou entre as maiores economias mundiais e passou a ser uma boa referência. Apesar de hoje estarmos indo contra tudo isso no âmbito federal e, no caso do Paraná e de Curitiba, também nas esferas estadual e municipal, acreditamos que podemos iniciar uma onda reversa, a partir da mudança nos municípios.
JBP – Quais os principais problemas a serem enfrentados pelo próximo prefeito de Curitiba?
Paulo Opuszka: a crise sanitária se somou à econômica e os frutos disso não são nada bons. Vemos a população em situação de pobreza aumentar. O desemprego e a falta de moradia são grandes questões. Teremos de trabalhar rápida e eficazmente nesses campos, gerar emprego e renda. Precisamos auxiliar os micro e pequenos empresários que estão com dificuldades tremendas para se manterem. As pessoas precisam ter o mínimo para viver, precisam comer e suprir suas necessidades mais básicas. Isso está cada dia mais difícil. Não é uma questão que passa por fazer economia e diminuir as saídas para comer fora. É ter como comprar comida, ter o que comer. Temos também a questão hídrica. É preciso planejamento e a adoção de políticas públicas que possibilitem passar por momentos de seca. Não se pode jogar a culpa apenas no tempo. É preciso ter estratégia e políticas. Além disso, a pandemia criou uma enorme pressão sobre o sistema de saúde e é fundamental que o prefeito esteja amplamente ciente de como o SUS (Sistema Único de Saúde) funciona. O que vemos é muita gente falando sobre o sistema, mas sem o entender de fato. Aqui tivemos postos fechados para reforma e outras coisas durante a pandemia. Como você tira atendimento e manda pessoas que estão sem renda se deslocarem? Não nos parece uma política acertada. Outro ponto que merece atenção é o aumento da demanda por ensino público. Precisamos ampliar o acesso, revogar o Pacotaço do Greca (Rafael Greca, atual prefeito) e atuar para impedir que se vendam retrocessos, como a militarização do ensino, como sendo coisas boas.
JBP – Como você avalia a atuação da atual gestão municipal, diante da pandemia da Covid-19?
Paulo Opuszka: Começamos bem, mas o prefeito cedeu às pressões das grandes empresas e comerciantes e acabou sendo tudo em vão. Os números estão aumentando, vemos reclamações sobre a não atualização de dados… Além disso, vimos o fechamento de mais de 30 unidades de saúde em plena pandemia. Temos de lembrar que o trabalhador que faz a roda girar não pode ficar em casa, não pode se proteger. E em relação a essas pessoas o que o município fez? O que fez em relação aos micro e pequenos empresários? Se elencarmos tudo veremos que não tivemos uma política eficiente em relação à pandemia e arrisco dizer que isso pode piorar, após as eleições já que sabemos que é nesse período que as informações deixam de ser escondidas.
JBP – Se eleito prefeito, você irá enfrentar dois governos opositores: estadual, de Ratinho Júnior e nacional, de Bolsonaro. Como você irá agir para garantir parcerias e recursos, para investir nas necessidades da população, especialmente, a mais vulnerável?
Paulo Opuszka: o governo Bolsonaro é antidemocrático e só tem retirado direitos dos trabalhadores e dos cidadãos e cidadãs. Além disso, temos de ver quase que diariamente declarações totalmente descabidas, que nos parecem ser cortinas de fumaça para desviar o foco dos casos que envolvem a família e os amigos do presidente. Aqui no Estado, o governador Ratinho Jr. vem rifando as estatais. A onda de privatizações que o governo quer para o Estado é absurda e retira dos paranaenses bens fundamentais. Ele também vem destruindo a educação, ao promover a política de militarização das escolas. Acredito que ao vencer uma eleição os homens e mulheres públicos deixam de falar por si e passam a falar por aqueles que os elegeram. Isso em relação a todo e qualquer cargo. Assim, creio que apesar das diferenças será possível manter o diálogo e negociar as pautas que temos para Curitiba, em âmbito oficial.
JBP – O PT está coligado com partidos de esquerda em várias cidades do país. Por que isso não aconteceu em Curitiba?
Paulo Opuszka: Aqui foi pensado em fazer uma frente com os partidos de esquerda. Contudo, por conta da representatividade que alguns partidos precisam ter na Câmara Legislativa, isso não foi possível.
JBP – Em Curitiba, o PT concorre com 28 candidaturas proporcionais, sendo 19 homens e 9 mulheres. Há mulheres negras participando das eleições? Qual a previsão de vitória de mulheres?
Paulo Opuszka: Temos 11 candidaturas negras, sendo que três são de mulheres: Carol Dartora, Vanda de Assis e a Mandata Coletiva das Pretas. Acreditamos que teremos pelo menos duas mulheres eleitas para o próximo pleito. Atualmente, nossa representante é a professora Josete Dubiaski da Silva.
JBP – Nas eleições deste ano, a proposta de mandatos coletivos, participativos e populares ganhou muita visibilidade, inclusive em Curitiba. Como você avalia essa nova forma de fazer política?
Paulo Opuszka: De maneira muito positiva. É fundamental que as vozes dessas pessoas, que são representadas por esses coletivos, sobressaiam, apareçam. O importante, nesse caso, não é como elas serão ouvidas, mas que ecoem. E essa foi uma excelente saída para isso, a meu ver.