Manhã de 19 de julho de 1980, Manágua, Nicarágua.
Naquela histórica data todo o país se agitou, afinal estaria sendo comemorado o primeiro aniversário da Revolução Popular Sandinista, os guerrilheiros da Frente Sandinista de Libertação Nacional-FSLN há um ano entravam vitoriosos na capital nicaraguense tomando o poder e botando o último ditador da dinastia Somoza, Anastasio Debayle, pra correr.
Sobre ele um presidente usamericano, Richard Nixon ou Ronald Reagan [Ricardo e Ronaldo, o impichado e o malvado], afirmou: “Ele é um filho da puta, mas um filho da puta nosso!”, son of a bitch, na língua gringa.
Um ano e meio depois el hijo de puta foi merecidamente justiçado com um potente bazucazo em Assunção, Paraguai.
Por uma dessas coincidências felicíssimas, naquele dia eu estava na terra de Sandino, hospedado na casa do nosso grande mestre Clodomir Morais, Pasaje El Coyote, bairro Las Colinas.
Tempranito disparei para a Praça da Revolução, local da concentração.
Era gente chegando de todos os rincões, campesin@s, operári@s, estudantes…, afinal se tratava da comemoração de um triunfo sobre a mais duradoura ditadura da América Latina, através da insurreição popular, um povo bravo levantado em armas contra a tirania somozista.
Nada menos que 500 mil pessoas atenderam ao chamamento da FSLN, praça superlotada.
Vibração total, a multidão a plenos pulmões exclamando as palavras de ordem “Patria libre, Venceremos!”, “Sandino ayer, Sandino hoy, Sandino siempre!”, “Ianquis, enemigos de la humanidade”, entre outros brados libertários.
O apogeu da festa se deu quando o mestre de cerimônias anunciou o próximo orador a ocupar a tribuna.
Ele, o Comandante das Américas, Fidel Castro, grande orientador e apoiador de primeiríssima hora da FSLN desde seus inícios em 1961, quando criada por Carlos Fonseca Amador, Tomás Borge e Silvio Mayorga.
Carlos, grande amigo de Clodomir, se conheceram no Festival Mundial da Juventude, 1957, em Moscou.
Nesse dia Lula e Frei Betto também estavam lá como convidados especiais de Ernesto Cardenal, então ministro da Cultura.
Prêmio maior não poderia eu receber.
Além de participar de um grandioso encontro popular revolucionário, ter o privilégio de ver e ouvir aquele que nós, os povos oprimidos do Terceiro Mundo, consideramos como o Estadista Maior do Século XX e limiar do XXI.
Foi um discurso de uma hora e meia, relativamente curto se comparado com a grande maioria dos pronunciamentos do Comandante, sempre incendiários e pedagógicos, plenos de conteúdos político-sociais.
Voltei pra Las Colinas como se estivesse em êxtase, em transe, estado de alumbramento.
Só aquela histórica manhã valeu pelos noventa dias em que circulei por cidades e montanhas daquela vulcânica região, Centroamérica.
Biblioteca Campesina, 19 de julho de 2023
(*) Joaquim Lisboa Neto, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.
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