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Tributo à cultura

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Está tudo registrado

Ninguém revoga a história

Se inscreveu nos anais

Gravou em nossa memória

A vida é uma professora

O mundo é a palmatória

Quem apanha e não aprende

É um coitado ou escória

Introduzi essa abertura

Para mencionar a cultura

De Santa Maria da Vitória

 

 

 

Uma descrição notória

Que indica a envergadura

Do vigor intelectual

Suporte da literatura

Privilégio que a cidade

Mantém em sua estrutura

A chama revolucionária

Que o sistema não atura

 

 

 

 

A arte e a educação

O debate e a reflexão

E análise de conjuntura

Nem criança nem madura

É uma jovem em construção

Que cresce na vertical

 

 

 

Em qualidade e ação

Sua chama lambe o céu

E dissipa a escuridão

Voz dos que não têm voz

Lâmpada dos sem-lampião

O nome da mulher-menina

É BIBLIOTECA CAMPESINA

A Joana D’Arc do sertão

 

 

 

Sua histórica atuação

Com o próprio nome combina

É a arte trabalhadora

Do cerrado e da campina

Um esteio resiliente

Contra a grilagem assassina

O agronegócio predatório

Que aos fracos discrimina

A voz da jovem ecoa

Porque do campo ressoa

A luta mais genuína

 

Cultura, arte e disciplina

Trio que não se desentoa

É um feito memorável

Do bravo Joaquim Lisboa

Entre outros fundadores

Resumidos em sua pessoa

Seus dotes e qualidades

Constituem sua coroa

Esta valiosa entidade

Agrega nobreza à cidade

Que não cabe numa loa

 

 

 

Como uma ave que voa

Nas asas da liberdade

É a voz do trabalhador

Que exige dignidade

O incansável Joaquim

Com sua criatividade

Instituiu um jornalzinho

De grande credibilidade

Batizado de “O POSSEIRO”

Abrangeu o Oeste inteiro

Denunciando a brutalidade

 

 

 

Daquela grilagem covarde

E lucrativa do grileiro

A violência no campo

Manchou o município inteiro

O destemido jornalzinho

Chegou como pioneiro

Traduzindo em suas letras

O inconformismo verdadeiro

Do camponês trabalhador

Pequeno ou médio agricultor

Alvos de algum pistoleiro

 

 

 

O revólver e o dinheiro

Patrocinavam o terror

A grilagem aliciava

Delegado e promotor

Juízes e policiais

Inclusive desembargador

“O POSSEIRO” os denunciava

Com firmeza e destemor

Desde aquela ocasião

Kynkas firmou posição

Em defesa do lavrador

 

 

 

Legado de alto valor

Influência e formação

Recebeu de Osório Alves

Literato de expressão

Também de Antônio Lisboa

A mais viva inspiração

Mas foi Clodomir Morais

Referência da região

Quem deu o balizamento

Para este empreendimento

De prestígio e tradição

 

 

 

Uma outra instituição

Nascida deste fermento

Conquistou o seu lugar

E na história fez acento

BIBLIOTECA EUGÊNIO LYRA

Que cito neste momento

Novo nicho cultural

Da arte e do pensamento

Fomenta o cordel e a poesia

E tudo o que se aprecia

Em termos de conhecimento

 

 

 

Sua base ou fundamento

Tem traços de filosofia

Fundada por uma mulher

De fibra e valentia

Ela é Angélica Rodrigues

Bela quanto a biografia

Militante comprometida

Com a camponesa rebeldia

Preserva e difunde o legado

Do saudoso advogado

Que aos posseiros defendia

 

 

 

Eugênio Lyra que um dia

Na rua foi assassinado

Pela sanha da grilagem

Que sequestrou o Estado

Mas Angélica o resgata

Fazendo-o homenageado

Com a biblioteca em seu nome

Eugênio é eternizado

Também cultiva os ideais

Do nobre Clodomir Morais

Homem muito respeitado

 

 

 

Segue o horizonte traçado

Por grandes intelectuais

Paulo Freire e Clodomir

Constituem os principais

Que consolidaram o método

De escopos fundamentais

Problematizador e inclusivo

Dos anseios sociais

Pedagogia do oprimido

Inclui e dá outro sentido

Aos desafios rurais

 

 

 

Os propósitos são plurais

Deste centro instituído

Por uma mulher Angélica

Nele o povo é servido

Na formação horizontal

Todo mundo é incluído

Sem perder a profundidade

De tudo que é oferecido

A biblioteca é um ambiente

Fecundo e polivalente

Com o de melhor reunido

 

 

 

Angélica tem difundido

O que há de mais premente

A formação integral

Uma revolução diferente

No campo e na cidade

Vem atuando igualmente

E desta forma descobrindo

Os talentos da sua gente

Arte, poesia e a escrita

Competem com a erudita

De teor equivalente

 

 

 

Há uma procura frequente

A biblioteca não limita

Ela é centro de pesquisa

Que a muitos habilita

Professores e estudantes

Em trabalho ou em visita

Lhe utilizam como fonte

Fonte que ela requisita

Este centro cultural

Representa para o local

A mais valiosa conquista

 

 

 

Geralmente algum turista

Lavrador ou intelectual

Procura a biblioteca

Com um propósito especial

Ela é a expressão da cultura

No âmbito municipal

Que se soma à CAMPESINA

Pelo elevado ideal

De promover a formação

E dizer um forte NÃO

À criminalidade rural

 

 

 

Angélica mulher vertical

Síntese do melhor padrão

De defesa dos humildes

Vítimas da exploração

Da sociedade e do Estado

Ou da sua omissão

As demandas das mulheres

Constituem uma questão

Que a biblioteca assumiu

E assim se constituiu

Legítima representação

 

 

 

A título de conclusão

O assunto não se exauriu

Sobre as duas bibliotecas

Este poeta resumiu

Veja o valor da equipe

Que Angélica reuniu

Elisângela e Taíse

Que a região produziu

O bravo Joaquim Lisboa

Espetáculo de pessoa

Na luta se construiu.

 

 

(*) Coluna Joaquim Lisboa Neto, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional e colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna Travessia, revoada, didivera.

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