Criada pelo movimento negro em 1988, no Centenário da Abolição, a Fundação Cultural Palmares tem por missão a proteção do patrimônio cultural negro, a defesa das terras dos remanescentes dos quilombos e o combate ao racismo.
Exatamente tudo o que Bolsonaro quer destruir e apagar da nossa história. Por isso ele nomeou para a presidir a referida Fundação, com o objetivo explícito de desmontá-la por dentro, um jornalista negro assumidamente de extrema direita e inimigo do movimento negro, alguém que nega a existência de racismo e diz que a luta contra ele é “mimimi” de negros a serviço do “esquerdismo”. Como ele declara, “A escravidão foi terrível, mas benéfica para os descendentes. Os negros do Brasil vivem melhor que os negros da África”.
É na condição de presidente-coveiro de uma instituição que nasceu da luta do movimento negro pela preservação da memória da Serra da Barriga, em Alagoas, local onde o Quilombos de Palmares resistiu por cem anos; portanto, é com a autoridade que lhe foi outorgada pelo fascista Bolsonaro que Sérgio Camargo tem agido como um subalterno fiel e operoso da política racista desse governo genocida.
Primeiro, excluiu das lista de personalidades negras da Fundação todas aquelas que mais representavam a luta contra o racismo, como por exemplo, Gilberto Gil, Conceição Evaristo, Elza Soares, Milton Nascimento, Benedita da Silva, Paulo Paim, Leci Brandão, Marina Silva, Sueli Carneiro, Lea Garcia, Martinho da Vila entre outros nomes. O movimento negro reagiu e conseguiu que uma decisão da Justiça restabelecesse a lista original.
Além disso Camargo fez uma limpeza ideológica, bem à moda nazista, no acervo da biblioteca da Fundação, para excluir dele não apenas autores de orientação marxista, mas também qualquer um minimamente liberal, como Max Weber. Outra medida também impedida por ação judicial.
Para tratar desse “fogueira” de livros a Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados convocou recentemente uma audiência pública com Camargo.
Ele também reduziu nos conselhos o peso das representações da sociedade civil, centralizando seu poder na figura do presidente da Fundação, como é o caso do Comitê da Serra da Barriga.
Mas o desmonte da política de promoção da igualdade racial da Fundação encontrou resistência de funcionários, contra os quais Camargo praticou assédio moral e fez perseguição ideológica.
Foi exatamente por conta dessas acusações que a Justiça de Trabalho de Brasília o afastou da gestão de pessoal, mas não da presidência do órgão.
O afastamento do negacionista do racismo no Brasil da Fundação Cultural Palmares cujo princípio norteador é precisamente o combate ao racismo, vai exigir mais pressão do movimento negro e maior articulação com a luta antifascista em curso no país.
Na realidade, racismo e fascismo são irmãos siameses e não se combate um sem se combater ao mesmo tempo o outro, ou seja, o governo Bolsonaro que quer destruir tudo o que expresse conquistas da consciência negra.
Val Carvalho – escritor e militante de esquerda