Santa Maria da Vitória | Sua história e desenvolvimento
por Manuel da Cruz em
Santa Maria da Vitória, Bahia, anos 2000. Foto: Prefeitura Municipal de Santa Maria da Vitória/BA/Divulgação
A chegada do primeiro vapor a Santa Maria narrada de forma sensacional, fortemente poética pelo cronista, o Zidorim Alfonso do Porto Calendário. Simplesmente imperdível!!!
Inaugurou-se nesta cidade, a 16 de abril de 1898, a navegação de vapores e, na oportunidade, a realização de muitas festas. A propósito, escrevendo para um jornal da época, Izidoro Affonso de Oliveira assim descreveu o acontecimento:
“Porto de Santa Maria da Vitória. Antes tarde do que nunca”.
Santa Maria da Vitória/BA, 16 de abril de 1898. Foto: Jesuíno Lima; na falta do Amaro Cavalcanti vamos de Benjamim Guimarães
Nestes dias tem chovido, e a 16 de abril amanheceram carregados os astros e o céu de cores chumbadas: vagava a notícia aqui e ali da chegada de um vapor; confesso, não acreditei, mas, nesta época, como tudo pode ser… calei e esperei o resultado.
Qual não foi minha surpresa e como a de quase toda a população quando ouvimos o assobio do vapor e, pouco a pouco, aproximar-se desta vila: era o Amaro Cavalcanti.
Parece que até o céu de aspecto mudou-se, e as nuvens de ouro tornaram-se, no horizonte passado, o astro, o próprio astro, de galas vestira-se…, corriam para a margem do encantado Rio Corrente ondas de povo, foguetes subiam ao ar e a população entusiasmada saudava o início do progresso e da civilização e do grande adiantamento para o comércio.
Fundeara o vapor e o povo, tendo à frente o juiz de direito, Dr. Álvaro Henrique Silvestre de Farias, invadiu o navio abraçando a todos os seus empregados.
Após, o prestimoso cidadão e negociante Reginaldo Barbosa, com a música, e distintos cidadãos foram também cumprimentar a oficialidade deste vaso, e então, aí fora para o mesmo oferecido um copo de cerveja, quer aos circunstantes, quer à oficialidade, tomando então a palavra o Dr. Álvaro, que em frases brilhantes saudou ao chefe, à oficialidade e a todos que esta grande ideia realizaram. Depois usou também da palavra o advogado Santos Cunha, que em suas frases fluentes e cheias de patriotismo cumprimentou a todos, salientando o futuro auspicioso deste esperançoso lugar.
Agradecendo o gerente Sr. Cardoso que, satisfeito e comovido, saudou também o povo por tamanho benefício reconhecer, pondo à disposição dele o vapor para um passeio de recreio às 4:00h da tarde do mesmo dia, o que realizou-se, reunindo-se as principais famílias, os mais distintos cavalheiros da nossa sociedade, sempre à frente o Dr. Álvaro, juiz de direito, Dr. Migdônio, promotor público, Cel. João Affonso, Tenentes-coronéis João Augusto, João Marques de Araújo, Cap. Saturnino, o advogado Santos Cunha e quase todos os negociantes desta praça, Reginaldo Barbosa, Cap. Josué, Izidoro Affonso, intendente municipal o Sr. João José da Costa Athayde, Matias Dourado, Benedito Lopes, Antonio Athayde e muito outros que é impossível mencionar.
Eram 4:00h da tarde, quando o vapor deu sinal de partida, repleto de passeantes, e, suspendendo ferro, qual garça enorme gravemente cortando as águas com suas plumas de fumo, foi ter ao lugar determinado e, sempre às margens do rio, de ambos os lados regurgitavam de espectadores, os meninos por terra corriam acompanhando o vapor; então o bondoso comandante Sr. Góis fez parar a máquina e recebeu-os a bordo, com as carícias próprias de um pai.
Daí voltou ao ancoradouro na mesma ordem em que partira, tendo o comandante determinado para o dia seguinte às 3:00h da tarde sair o vapor depois de receber cargas.
Soou a hora da partida, os mesmos cidadãos foram despedir-se dos distintos oficiais do vapor Amaro Cavalcanti, seu representante, o inteligente Sr. Miguel Cardoso; enfim, na hora da despedida, como em todas as horas deste transe, sentimos nossos corações pulsarem saudosos e cheios de amargas recordações…
E dissemos conosco: tudo no mundo é assim!
Suceder a tantas alegrias, tão rapidamente saudades e tristezas!
É essa a lei a que está sujeita a humanidade.
Partiu finalmente o vapor, subindo o rio a fim de fazer volta, manobra predileta dos navegantes; o mesmo entusiasmo neste bom povo, que, admirado com os olhos fitos neste belo navio, olhava para suas rodas na popa, que em movimento rápido faziam cair as águas em catadupas, parecendo que se deslizavam de um rochedo encantador; feita a manobra, descia as águas do Soberano Corrente que, tranquilo, deixava seu seio rasgar a possante quilha do Amaro Cavalcanti, deixando após si longas esteiras das plácidas águas.
Quer do vapor, quer da terra, todos a um só tempo acenavam com seus lenços na hora do seu apartamento, seguindo tranquilo seu rumo o vapor.
Que o céu o conduza em plena paz e propícios votos, dizíamos nós em nossos corações.”
Nota do autor: Este artigo não se acha assinado, mas, pelo estilo, identifica-se o autor; foi achado um álbum de veludo de Izidoro Affonso, naquele tempo, o de quando o obtivemos, em poder do filho, nosso amigo Celso Afonso, que no-lo cedeu para a cópia.
No recorte do jornal de onde fora retirado, o artigo não consta o ano em que a navegação a vapor foi aqui inaugurado com a presença do vapor Amaro Cavalcanti; o ano de 1898 encontramo-lo num mesmo artigo de Izidoro Affonso, publicado no Almanaque do Rio Grande do Sul, de 1900, gentilmente cedido por Agnelo Braga, coletor das rendas federais de Santa Maria da Vitória. (2.3.1970)
Era a nota que fizemos no rodapé da cópia do artigo de Izidoro Affonso.
Publicado originalmente no jornal O POSSEIRO, Santa Maria da Vitória-BA, nº 57, outubro de 1985.
(*) Por Manuel da Cruz, reproduzido do jornal O Posseiro na Coluna Travessia, revoada, didivera, do Jornal Brasil Popular. A coluna é de Joaquim Lisboa Neto, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.
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