Margarida Salomão é mais um caso de violência política de gênero assusta o País. Em entrevista coletiva, ela contou que acionou a polícia, descobriu o autor da ameaça e avisou: “Não seremos tolerantes com os intolerantes”
A prefeita de Juiz de Fora (MG), Margarida Salomão, encaminhou notícia-crime e prestou depoimento à Polícia Civil, por ameaças de morte, que sofreu por meio das redes sociais, depois de adotar medidas de proteção à vida da população, contra o coronavírus (Covid-19).
Com 100% dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) ocupados, a prefeita decretou lockdown, no domingo (7/3), para frear o aumento da pandemia na cidade e do número de vítimas. Foi o suficiente para ela e o vice-prefeito, Kennedy Ribeiro (PV), virarem alvos de pessoas que, contrárias às medidas restritivas, os ameaçaram de morte.
Em entrevista ao Yahoo, Margarida afirmou, sem rodeios: “Eu sou defensora do diálogo, mas, sempre serei intolerante com os intolerantes. Não é admissível que a divergência se expresse pela violência, que alguém queira eliminar o seu adversário”.
Para a Revista Fórum, Margarida Salomão considerou que, independentemente de a ameaça ter ou não fundamento, é inaceitável que se faça disputa de posição política ameaçando eliminar o adversário. “Isso é fascismo. Na democracia as pessoas lidam com a divergência. Não é tolerável que na disputa política alguém queira praticar a eliminação do outro”, completou a petista.
Apoio e solidariedade
Em nota, o Partido dos Trabalhadores repudiou as ameaças feitas à prefeita, afirmando: “Não vamos aceitar que a disputa democrática de ideias e projetos, bem como a adoção de medidas para proteger a população contra a Covid-19, sejam substituídas pela prática da violência”.
O partido ressalta que a prefeita não é a única política a estar sofrendo ameaças. “Infelizmente, Margarida não é a única vítima desta cultura de ódio e intolerância que vem avançando no país nos últimos anos. Neste momento, várias vereadoras, vereadores e outros gestores ou lideranças públicas têm sido agredidos e ameaçados por se posicionarem em defesa da vida!”.
A bancada do PT na Câmara dos Deputados também emitiu nota, em que afirma: “É inaceitável a violência se transformar em instrumento de disputa e de prática política, no lugar de ideias e projetos, sobretudo num momento em que é preciso tomar medidas duras para o enfrentamento à Covid-19.”
A Fundação Perseu Abramo também, em nota, disse: “Não bastasse o negacionismo que hoje custa a vida de quase 300 mil vítimas da covid-19, há ainda o elogio da violência, a apologia às armas, a glorificação da intolerância frente ao diferente, aos adversários.”
Neste fim de semana, após a denúncia de ameaça de morte, a reportagem do Jornal Brasil Popular conversou Margarida Salomão. Ela contou que, no domingo passado, à vista da evolução muito preocupante das contaminações na pandemia e também com a exaustão dos recursos de saúde de Juiz de Fora, que já se encontrava com uma ocupação quase total dos leitos UTI disponíveis para o tratamento de Covid-19, o governo municipal decretou o lockdown.
“Aí, imediatamente, ocorreram manifestações contra a nossa decisão, o que é compreensível, porque a população está muito sacrificada com a evolução da pandemia. Há mais de 1 ano estamos numa situação de fechamento das atividades econômicas e, portanto, de redução das oportunidades do trabalho e da renda no empreendimento. Aí, num grupo de WhatsApp, surgiu uma ameaça direta à minha integridade física. Eu, imediatamente, fiz uma queixa-crime à polícia e identificamos a pessoa que fazia ameaça que nem sequer é de Juiz de Fora. É uma pessoa que não tem nenhuma atividade relacionada àquelas que foram reduzidas com o lockdown e que é, simplesmente, um hater (expressão inglesa que significa pessoa que odeia)”, contou Salomão ao Jornal Brasil Popular.
Ela disse, ainda, que fez a queixa-crime entendendo que é necessário ser intolerante com os intolerantes. “Se queremos praticar uma pedagogia da paz, então, é claro, vamos ter sempre de combater esse tipo de atitude porque ter divergências de opinião, divergências de posicionamento político é, absolutamente, compreensível e até desejável dentro de uma perspectiva democrática. Mas não concordamos com esse tipo de ameaça que aponta para o assassinato, para a eliminação física do divergente. Isso é fascismo. Nós, que somos democratas, não podemos de forma alguma tolerar isso. Essa é a razão pela qual eu fiz a queixa-crime, essa é a situação que a Polícia está averiguando e cobrando responsabilidades e nós certamente vamos levar esse fato adiante levando dentro da perspectiva da defesa da democracia”.
Violência política de gênero
Violência política de gênero é conceituada como todo e qualquer ato que vise excluir a mulher do espaço político, impedir ou restringir seu acesso ou induzi-la a tomar decisões contra a sua vontade. Ela pode ocorrer por meio virtual, e nas ruas, podendo chegar até ao assassinato. Um dos exemplos mais evidentes da violência política de gênero, é o caso da vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ), assassinada, ao sair de uma reunião de organização política.
Em 2019, a Câmara dos Deputados lançou a Campanha de Combate à Violência Política de Gênero, visando chamar a atenção para os impactos desse problema para a democracia e a participação das mulheres na política. Após as eleições de 2020, que projetou várias mulheres na esfera política, em várias partes do país, muitas delas passaram a sofrer essa violência. Em Juiz de Fora, além da prefeita, a vereadora Laiz Perrut, do PT, também sofreu atos de violência.