Local de grandes manifestações nacionais, Brasília viveu, nesta terça-feira (22), uma das cenas mais cruéis e desumanas de sua história, um retrato do momento caótico brasileiro. Cerca de 850 lideranças de 50 povos indígenas de todas as regiões do País foram recebidas com dezenas de bombas de gás lacrimogênio na Via S2.
Eles chegaram em marcha pacífica, com palavras de ordem nas diversas línguas nativas e foram surpreendidos com repressão violenta pela polícia legislativa. Na correia, um dos índios desmaiou e foi arrastado pelos companheiros por aproximadamente 200 metros, por diversas vezes tendo que ficar deitado no chão desacordado. Mesmo assim, as bombas não paravam. Na Esplanada, havia concentrações de militares a cavalo em diversos pontos, equipados para o confronto.
Os indígenas estão desde o dia 8 no Acampamento Levante pela Terra, ao lado do Teatro Nacional, em Brasília, para protestar contra o Projeto de Lei (PL) 490/2007, que tramita na Câmara Federal e ameaça direitos territoriais e também o Projeto de Lei 191/2020, de autoria do governo Bolsonaro, que busca liberar a mineração em terras indígenas. No Supremo Tribunal Federal (STF), eles ainda acompanham o recurso extraordinário com repercussão geral que servirá de diretriz para o governo federal e todas as instâncias do Judiciário nas questões relativas a demarcação de terras.
Os índios estiveram durante toda a manhã no Acampamento Levante pela Terra, em discussões sobre as estratégias que terão durante a semana em Brasília. Almoçaram e por volta das 13h saíram em caminhada na Esplanada até o Ministério das Relações Exteriores, onde passaram pelo pequeno túnel que dá acesso à via que leva aos anexos dos ministérios. Em marcha pacífica, mulheres, homens, velhos e crianças foram surpreendidos assim que se aproximaram da porta da Câmara Federal que dá acesso às salas das comissões legislativas. As bombas começaram a ser lançadas continuamente por cerca de 20 minutos, provocando terror e fazendo-os correr e se esconder atrás das árvores. Ao mesmo tempo em que gritavam por socorro para atendimento ao companheiro ferido.
Neste mês de junho esta é a segunda vez que os índios são agredidos por forças policiais na capital federal. No último dia 16, a Polícia Militar do Distrito Federal enfrentou os manifestantes armada e com bombas de efeito moral, cercando o prédio da Fundação Nacional do Índio (Funai), onde eles estavam para conversar com o presidente Marcelo Xavier.
“Naquele dia não teve conversa. Marcelo Xavier fechou a porta e desrespeitou nossos caciques. Ele não merece sentar naquela cadeira. O presidente da Funai nos recebe com bomba e spray de pimenta e aceita ruralistas dentro do seu gabinete, aceita madeireiros e sojeiros”, ressalta Alessandra Korap Munduruku, liderança do Médio Tapajós, no sudoeste do Pará, que esteve na Funai. “Mesmo com a pandemia a gente precisava estar aqui. Não aguentamos mais tantos invasores nos nossos territórios. O PL 191 é de (Jair) Bolsonaro desde que (Sérgio) Moro era ministro da Justiça e serve pra legalizar a entrada de mineradoras, hidrelétricas, explorar petróleo e gás nas nossas terras”, ressalta a líder Munduruku.
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