Um presidente ucraniano, um ex-primeiro-ministro britânico, um amigo de Vladimir Putin… Personagens pinçados da investigação Pandora Papers? Sim. E também dos Panama Papers. Como recorda Oliver Bullough, autor de Moneyland: Why Thieves and Crooks Now Rule the World and How to Take It Back (Terra do Dinheiro: Por que ladrões e bandidos agora governam o mundo e como pegá-lo de volta, tradução da coluna), em artigo para o jornal britânico The Guardian, os nomes mudaram, mas a essência continua.
Em 2016, na investigação que revelou 200 mil companhias offshore organizadas com auxílio do escritório panamenho Mossack Fonseca, David Cameron era o ex-primeiro-ministro (agora é Tony Blair); a Ucrânia tem um novo presidente; e o amigo de Putin é negociante de petróleo, não um violoncelista. Cinco anos depois, a grande finança continua escondendo valores em companhias sediadas em paraísos fiscais que têm no segredo seu principal produto econômico.
O governo britânico, para ficar em um exemplo, prometeu acabar com esse tipo de empresa, exigindo que os reais proprietários fossem revelados. Em 2021, os Pandora Papers mostram que ficou na promessa. Não por acaso, a investigação atinge firmas constituídas nas Ilhas Virgens Britânicas, um território ultramarino a serviço de Sua Majestade.
Oliver Bullough ironiza: “O registro corporativo da Grã-Bretanha é um poço de informações não verificadas, com lacunas tão grandes que os maiores escândalos de lavagem de dinheiro de todos os tempos já passaram. Os registros nos Estados Unidos são, no mínimo, piores. Em muitos estados [norte-americanos], os clientes devem apresentar mais informações para obter um cartão de biblioteca do que para criar uma estrutura corporativa.”
Sem alarde
Se aparecesse alguém de esquerda nos Pandora Papers, o tratamento seria igual ao que é dado aos financistas?
(*) Marcos De Oliveira do Monitor Mercantil