Uma palestra do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, foi cancelada após protestos de empresários associados à CIC (Centro da Indústria, Comércio e Serviços) do município, que organizava o evento.
Conforme a CIC, a palestra com Fux ainda estava “em pré-agenda” na sexta-feira (20), quando alguns associados receberam o material de divulgação da palestra “Risco Brasil e Segurança Jurídica”, que ocorreria em 3 de junho na sede da entidade.
Desde então, associados que endossam discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra o Supremo começaram a protestar contra a presença do ministro na cidade, o que levou a entidade a temer por sua segurança.
O presidente do Supremo, Luiz Fux –
Em seu Facebook, o empresário Roni Kussler, da marca de produtos de limpeza Saif, afirmou ter solicitado junto à presidência da CIC o cancelamento da vinda de Fux. Posteriormente, ele apagou a publicação. Procurado, não respondeu ao contato.
Já a financeira Sicredi, em uma carta aos seus associados de Bento Gonçalves, diz ter solicitado que a marca fosse retirada da divulgação do evento “considerando os impactos da nossa marca” e que os representantes da empresa ficariam “mais atentos para movimentos similares no futuro”.
O conteúdo da carta foi publicado pela jornalista Rosane de Oliveira, do site GaúchaZH.
Questionada, a empresa respondeu por meio de nota dizendo que “é apoiador da entidade (CIC) sem envolvimento na escolha dos convidados das palestras promovidas pela instituição”, mas não se manifestou sobre o conteúdo da carta.
A CIC, por meio de assessoria, argumenta que sua sede fica no Parque de Exposições da Fenavinho, que começa em 9 de junho e já está em fase de montagem. Em caso de protestos no local, não haveria como assegurar a segurança do convidado.
A entidade, então, recorreu a uma das suas associadas, a subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) da cidade, que assumiu a organização do evento.
A OAB local chegou a divulgar o evento em uma sede alternativa, o Spa do Vinho, onde o ministro ficaria hospedado. Afastado do centro da cidade e isolado, o local ficaria resguardado de eventuais protestos.
Porém, segundo o presidente da subseção da Ordem, Rodrigo Terra de Souza, o gabinete de Fux comunicou o cancelamento da palestra na manhã desta quarta (25).
“As coisas começaram a esquentar nas redes sociais na segunda-feira (23), e a CIC nos procurou. Acredito que faltou a quem se revoltou com a presença do ministro diferenciar preferências políticas de relações institucionais. Ficou muito mal para Bento Gonçalves rejeitar a presença do presidente de um dos Poderes na cidade”, diz Souza.
Antes de o gabinete de Fux solicitar o cancelamento, a subseção da OAB chegou a emitir uma nota em que se coloca como uma entidade “apartidária e apolítica”, diz que “democracia é feita pelo diálogo” e que a entidade tem a “obrigação institucional” de receber o ministro “independentemente de sentimentos e interesses políticos, concordâncias e discordâncias sobre posicionamentos do Supremo Tribunal Federal”.
O cancelamento do evento foi comemorado pelo deputado federal Bibo Nunes (PL): “Isso comprova que nenhum ministro do STF pode andar na rua no Brasil. Nem em local fechado”.
Para Bibo, não se trata de uma demonstração de intolerância: “Eu, em momento algum, incentivei qualquer tipo de vandalismo e de violência contra o ministro Fux. Trata-se de protesto pacífico, que é da democracia”.
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