Levando em conta o que aconteceu com ela nos muitos anos desde a espionagem norte-americana em 2013, o consequente desencadeamento da Operação Lava Jato em 2014, o golpe do impeachment contra a Presidente Dilma em 2016 e em seguida os governos Temer e Bolsonaro até o fim de 2022, é espantosa a sobrevivência da Petrobrás e sua revitalização em tão pouco tempo, em apenas nove meses do novo governo Lula.
Na verdade a Petrobrás já estava acostumada, desde sua criação há setenta anos por iniciativa do Presidente Getúlio Vargas, a sobreviver a tentativas de liquidá-la – e com o correr do tempo ficou claro que ela deve ter pelo menos sete vidas, sobrevivendo a pelo menos quatro tentativas mais sérias de privatizá-la ou extingui-la.
A primeira foi a crise de agosto de 1954, desencadeada quando ela, encerrada a fase de sua organização, saía do papel e assumia o controle efetivo de todas as reservas já descobertas e ainda a descobrir em território brasileiro e passava a exercer de fato o monopólio estatal do petróleo.
Um atentado a tiros contra o mais famoso e feroz jornalista de oposição, Carlos Lacerda, e do qual resultara a morte de seu acompanhante, o major da Aeronáutica Rubens Florentino Vaz, desencadeou uma crise política e militar imediatamente manobrada para provocar a renúncia ou a derrubada de Getúlio. A crise mobilizou toda a grande mídia conservadora de então, capitaneada pelos jornais, rádios, uma revista semanal de meio milhão de exemplares de tiragem e duas TVs (as únicas existentes no Brasil, um verdadeiro monopólio privado) de propriedade de Assis Chateaubriand, o Rei da Mídia de então.
Nessas TVs, Carlos Lacerda falava toda noite, pelo tempo que quisesse, para responsabilizar Getúlio pelo atentado e pedir sua renúncia ou pura e simplesmente um golpe militar para derrubá-lo. Getúlio foi avisado pelo próprio Chateaubriand, por intermédio de um amigo comum, de que Carlos Lacerda poderia ser tirado das TVs e silenciado, pondo fim à crise e à desestabilização do governo, em troca de uma única retribuição: bastaria Getúlio desistir da Petrobrás.
Getúlio nem respondeu, enfrentando o golpe com o suicídio heroico que reverteu o jogo, evitou uma guerra civil, garantiu as eleições de 1954 e 1955, retardou por dez anos o golpe de 1964 e ainda garantiu a sobrevivência da Petrobrás, que passou a viver sua segunda vida.
Os vinte anos do regime militar pós-golpe de 64 não ameaçaram em nada a sobrevivência da Petrobrás e até a levaram, por iniciativa do Presidente Ernesto Geisel depois da crise mundial do petróleo de 1973, às águas da Bacia de Campos, em alto-mar no Atlântico, onde ela descobriu grandes reservas que assegurariam a autossuficiência do Brasil em derivados de petróleo e abriu caminho para as futura descobertas do Pré-Sal já no primeiro governo Lula.
Antes de Lula, porém, a Petrobrás, que já estava em sua segunda vida desde o contragolpe de Getúlio, teve de enfrentar uma primeira grande ameaça, que foi o governo Collor, eleito graças ao apoio da mesma grande mídia anti-Getúlio e anti-Petrobrás da crise de 1954.
O governo Collor não teve nem tempo nem competência para ir mais longe, mas deu início ao processo de ferir e necrosar pontos sensíveis da estrutura da Petrobrás e por pouco não vendeu seu centro de pesquisas, o Cenpes, um verdadeiro cérebro, referência já internacional na indústria petrolífera, que já vendia tecnologia para multinacionais gigantescas como a Shell.
Vivendo sua terceira vida depois de Collor ter esgotado a segunda, a Petrobrás em seguida sobreviveu ao governo Fernando Henrique Cardoso, que durou oito anos e avançou até muito mais longe. Nesses oito anos o monopólio estatal do petróleo foi extinto, a pretexto de ser flexibilizado, e áreas em que a Petrobrás já tinha encontrado petróleo ou poderia encontrar foram licitadas e concedidas a grupos privados, majoritariamente estrangeiros.
Com a eleição de Lula em 2002, a Petrobrás passou a viver sua quarta vida. Em 2006 ela descobriu o petróleo do Pré-Sal e a cobiça multinacional aumentou, até que nova chance foi criada a partir da espionagem americana em 2003, da Lava Jato em 2014 e do impeachment de Dilma em 2016. A conjugação de tudo isso teve como resultado os dois anos de Temer e os quatro de Bolsonaro, aos quais espantosamente ela sobreviveu e com a volta de Lula no início de 2023 passou a viver sua quinta vida precisamente no ano em que completou setenta anos de criação.
A Petrobrás chega a setentona com o saldo de ainda duas das sete vidas que uma antiga convicção popular costuma atribuir aos gatos. Brincadeira à parte, a sobrevivência da Petrobrás é um fato sem precedentes na história política dos séculos 20 e 21.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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