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Os juros altos são como os preços altos da Petrobrás: para enriquecer os rentistas

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Nesse debate sobre juros altos, meta de inflação e independência do Banco Central, nem o Presidente deste, Roberto Campos Neto, nem seus defensores nem a grande mídia neoliberal deram a menor atenção aos argumentos contra juros altos do economista e professor André Lara Resende, um dos formuladores dos Planos Cruzado, do governo Sarney, e Real, dos governos Itamar Franco e Fernando Henrique.

 

Ninguém mais autorizado que ele para discutir essas questões, Lara Resende chegou há algum tempo à conclusão de que os juros altos não são o recurso infalível contra a inflação e expôs seus argumentos em artigos, entrevistas e até um livro. Isso fez dele um réprobo, um renegado entre os economistas defensores dos juros altos. Não por discordarem dele, mas porque as constatações dele contestam e desmoralizam os pretextos que dissimulam a verdadeira razão dos juros altos: eles aumentam substancialmente a remuneração dos rentistas, portadores de títulos da dívida pública.

 

Assim como a Petrobrás aumentava seus preços para pagar dividendos maiores a seus acionistas privados, o Banco Central precisa aumentar os juros para engordar os juros pagos a esses rentistas.

 

Lara Resende deve ter incomodado ainda mais seus agora adversários, a começar por Campos, ao dizer em seu último pronunciamento:

 

– Juros altos premiam os rentistas e inviabilizam os investimentos na expansão da capacidade produtiva. Quero que o leitor se pergunte porque, mesmo diante de resultados muito mais favoráveis do que o esperado, os analistas e a mídia redobram sua histeria em relação ao tal do ‘risco fiscal’ e clamam por juros ainda mais altos. A razão é a PEC da Transição, o terceiro governo Lula, dirão. A PEC da Transição autorizou despesas em torno de 2% do PIB. A alta da taxa básica de juros, promovida por canetadas do BC desde o início de 2021, custou quase o dobro desses 2% do PIB, só em 2022. Faz sentido? 

 

Paralelamente a esse pronunciamento irrespondível, o colunista Jefferson Miola, acrescentou em artigo no site 247 uma lembrança ainda mais devastadora:

 

– Só nos dois últimos anos do governo Bolsonaro, o aumento dos gastos para o pagamento dos juros estratosféricos fixados pelo Banco Central representou um excedente de gastos de R$ 410 bilhões – quase quatro anos de Bolsa Família de R$ 600 turbinado com R$ 150 por criança de até 6 anos de idade. A direção “autônoma” do Banco Central, nomeada pelo governo anterior, simplesmente despreza as diretrizes do governo eleito e mantém a política de juros altos, mesmo com o fracasso rotundo desta escolha.

 

O debate aberto por Lula sobre essa questão enfrenta a muralha de críticas a ele na grande mídia e de silêncio sobre os argumentos contra os juros altos. Mas mesmo nela algumas frestas são abertas e mesmo no Globo isso aconteceu, segundo o mesmo site 247:

 

O jornalista do Globo, Bernardo Mello Franco, fez uma crítica às vozes do mercado financeiro que tratam Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, como um personagem acima do bem e do mal. “O Brasil pratica a maior taxa de juro real do mundo. Isso dificulta a abertura de negócios, a geração de empregos e a retomada do crescimento. Ninguém deseja um repique da inflação, mas questionar a política monetária não deveria ser proibido. Por mais que o mercado goste do presidente do BC, ele também não está acima do bem e do mal.”

 

 

PESSOAS DE MENTALIDADE RICA E DE MENTALIDADE POBRE

 

Também do 247 é a revelação do que está acontecendo no sistema de ensino público do Paraná, onde a Associação Paranaense de Professores, um sindicato respeitadíssimo, denunciou o material de apoio pedagógico que está sendo passado aos professores:

 

O material de apoio sugere que os alunos aprendam “as principais diferenças entre pessoas de mentalidade rica e de mentalidade pobre”, listando características que caracterizariam cada um dos perfis. Uma pessoa de “mentalidade rica”, conforme o material, assume os próprios erros, vê as adversidades como aprendizado, tem ânsia de aprender, planeja o futuro e faz o dinheiro trabalhar. Já alguém de “mentalidade pobre” culpa os outros e o governo, vê as adversidades como insuperáveis, não planeja o futuro e trabalha pelo dinheiro.

 

Em pleno século 21! Incrível!

 

 

(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.

 

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