Estados plurinacionais, existem em geral como resultado do desmembramento de Impérios , de superação de realidades coloniais ou como decorrência histórica de monarquias hereditárias com soberania sobre pluralidade de povos.
A sua sobrevivência sem conflitos desagregadores depende do respeito às pluralidades culturais, religosas, étnicas e linguísticas. Nacionalismos tóxicos por parte de qualquer das partes constitutivas costumam levar a desagregação.
A África do Sul pós Apartheid é, pelo menos até agora, um exemplo de relativo sucesso. 11 idiomas nacionais, respeito às pluralidades culturais, vão consolidando um sentido de unidade nacional. Existem tensões , até pela profunda desigualdade social, cresce a xenofobia, mas riscos de secessão e desagregação não estão no horizonte .
A Espanha Franquista tentou eliminar suas pluralidades nacionais Castelhanizando o país , suprimindo os idiomas, as culturas , as tradições e reescrevendo a história . O resultado disso foi o florescimento do nacionalismo Basco e Catalão, sempre condenado pela Europa que recentemente ameaçou a Catalunha de exclusão da UE caso levasse adiante seu processo de independência da Espanha.
A Juguslavia se manteve integra enquanto Tito viveu . Sendo Croata ,num estado plurinacional historicamente hegemonizado pela Sérvia , Tito manteve a coesão , que no entanto não sobreviveu aos anos 90 . Estabelecidos os 6 estados independentes, Eslovênia, Croácia, Sérvia, Bosnia, Montenegro e Macedônia, surge o movimento independentista do Kosovo com total apoio da Otan . Parte integrante da Sérvia por vários séculos, Kosovo tem 90 % da população de Álbaneses muculmanos .
O Iraque com 3 grandes grupos etnico/ religiosos constitutivos é outro exemplo. Árabes sunitas , base do regime de Saddam Husein , Curdos e Árabes Xiitas, integram o mesmo país. Após a invasão americana, ao arrepio da Lei Internacional, sempre bom lembrar, o conflito entre os 3 povos estourou. Com apoio ocidental o Curdistão Iraquiano é na prática um estado independente , cujo reconhecimento formal pelo Ocidente só não ocorreu por resistência da Turquia, também membro da OTAN, e com uma expressiva minoria Curda .
Aí chegamos a Ucrânia. Um país plurinacional , com expressiva minoria Russa , maioria no leste e em partes do Sul, minorias Polonesas, Húngaras, Romenas e BieloRussas, tomada em 2015 por um golpe de estado liderado pelo nacionalismo tóxico protofascista Ucraniano, tornando-se uma crise de grandes proporções.
Impossível manter a unidade de um estado plurinacional quando o governo é exercido por extremistas de uma das nações que o constituem . Num primeiro momento a Rússia tomou de volta a Crimeia de maioria Russa, que até os anos 50 era parte da Rússia e que só foi transferida a Ucrânia por conveniências logísticas e administrativas da URSS . Num segundo momento, no leste da Ucrânia, de maioria Rússia, estoura a Insurgencia nacionalista do Dombass.
É da natureza do ser humano buscar explicações simples para problemas complexos. Hollywood se especializou nos anos 50 e 60 em produzir narrativas históricas simplistas onde sempre tinham os bons e os maus . Sempre com enormes doses de racismo . A mídia ocidental reproduz isso hoje .
A Ditadura Ucraniana apresentada como uma democracia, o conceito de autodeterminação de acordo com as conveniências , a invasão Russa tratada como agressão e violação da Lei Internacional. A invasão do Afeganistão, a invasão do Iraque , as intervenções na Líbia e na Síria nunca tiveram este tratamento . A hipocrisia é a regra. A independência do Kosovo é legítima. A independência do Curdistão é vista com simpatia. A independência da Catalunha é tratada com ameaças de retaliação. A independência das repúblicas do Dombass é apresentada como violação da integridade territorial da Ucrânia .
Não tenho nenhuma simpatia por Putin e seu regime oligárquico. A guerra não pode ser o caminho de solução dos problemas geopolíticos criados pela captura da Diplomacia da aliança ocidental pelo complexo industrial militar que levou à expansão da Otan para o leste .
Mas este conflito não tem mocinhos . E, sim, é melhor um mundo multipolar que um mundo unipolar. Estamos melhor com equilíbrio econômico entre a China e os EUA e com equilíbrio militar entre a Rússia e os EUA que com a Pax Americana que vigorou dos anos 90 até a derrota americana na Síria.
(*) Por José Luís Fevereiro – dirigente do PSOL.
José Luís Fevereiro é economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRJ, de 1982 a 1983, e representante dos estudantes no Conselho Universitário da UFRJ, de 1983 a 1985. Secretário Geral do PT do Município do Rio de Janeiro, de 1987 a 1988, e presidente do PT do Município do Rio, de 1988 a 1989. Secretário Geral do PT estadual de 1989 a 1993 , membro da direção nacional do PT de 1990 a 1995 e da sua Executiva Nacional de 1993 a 1995. Atualmente, membro da Direção Nacional do PSOL desde 2007.
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