No alvorecer ouço o barulho dos papagaios na Praça da Matriz. Ainda bem que escuto o canto de outros pássaros também.
Silêncio no Piratini. Nem luzes.
Na Assembleia algumas luzes.
E a TV que ligo vem com a mesma papagaiada de sempre: os venenos que querem liberar no parlamento gaúcho são defensivos inofensivos, segundo a Farsul. E no meu celular o mesmo papagaiar vem de um deputado de situação.
Na sessão da Câmara Municipal local foi um papagaiar sem fim de que a Lei Ambiental por Adesão e Compromisso – LAC – acabaria com a burocracia e que não era para passar a boiada.
Passou: 24 a 10.
E o barulho dos papagaios continua no parlamento municipal, preparam-se para fazer o mesmo barulho na Praça Montevidéu e no Paço: agora que tudo seria diferente, não será. Continuará como dantes. Papagaios soltos por todos os lados. Continua a barulheira: não escutam os outros e a patrola levantou a pá cortante, só mudou o condutor.
Fácil é falar do barulho dos outros. Difícil é pedir menos barulho do lado de cá. Difícil é pedir que, em vez de papagaiar a mesmice sem mudar o tom, se pense para falar à sociedade com serenidade e consistência.
Papagaiamos que somos mais isso ou aquilo. Bem, é dever da esquerda ser mais justa e coerente.
Mas somos incoerentes quando achamos que o povo faz escolhas estúpidas. Sim, o voto pode e eleger nulidades, mas é porque nós papagaiamos muita mesmice, não mudamos o tom e ficamos iguais demais.
A direita elegeu o petismo na atualidade como símbolo dos males…
No passado era o comunismo.
Voltam agora com uma mistura, um ‘shake” de antipetismo, China e comunismo.
Vamos acordar. Este barulho está demais.
Nossos modos não podem continuar assim como se a gente ainda governasse o país, fosse a Cidade do Orçamento Participativo e do Fórum Social Mundial. São outros tempos aqui e no mundo afora: a direita cada vez mais raivosa, xenofobia, misoginia, homofobia, racismo.
Somos oposição. Ainda o PT é o maior partido, e – estando com 1/5 da sociedade a seu lado – o tom não pode ser de papagaio.
Nosso mundo é o da favela, da comunidade, do desempregado, dos despossuídos e dos que tentam respirar.
Nosso lado é a democracia, mas devemos saber andar com quem quer chegar ao mesmo ponto; fim do bolsonarismo, fim do Estado mínimo, fim das privatizações e das terceirizações sacanas.
Adeli Sell é bacharel em Direito, consultor e escritor