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O apartheid social numa economia em desaceleração

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O Prefeito Felipe Augusto. de São Sebastião, no litoral de São Paulo e provavelmente o lugar mais castigado pelas chuvas no Carnaval, deu entrevista para contar que cerca de 500 moradores de classe média e alta da cidade, “reuniram-se com a prefeitura para barrar a construção de casas populares em um bairro nobre”. Segundo o Prefeito, esse grupo se mobilizou contra o projeto, no bairro de Maresias, “que possui em torno de 300 famílias morando em áreas de risco”.  

 

— Há dois anos – disse ele – lancei um programa para a construção de 400 casas. Houve um absurdo: os moradores de média e alta renda, incluindo empresários e famosos, reuniram-se com a prefeitura simplesmente negando a construção. Fui simplesmente bloqueado por pressão popular e cancelaram nossos programas na Caixa Econômica Federal.

 

À pressão popular digamos que ele poderia resistir. Mas sem o financiamento da Caixa o projeto deixava de ter viabilidade. O Prefeito não explicou – e talvez isso não lhe tenha sido perguntado – como e por quem o financiamento da Caixa foi cancelado. Pela dimensão do projeto e por ter como prioridade 300 famílias moradoras em áreas de risco, essa decisão só pode ter vindo de cima, por influência de gente poderosa, economicamente ou politicamente ou as duas coisas.

 

Assim que o Prefeito deu essa entrevista, representantes do bairro rico que protestava contra o projeto de casas para moradores pobres procuraram o site UOL para defender-se e alegaram que o novo bairro seria construído num banhado e comprometeria os serviços de água e esgotos do bairro rico.

 

A Presidente do PT, Gleisi Hoffmann, entrou no debate e se manifestou nas redes sociais:

 

Tragédia no litoral de SP expõe apartheid social brasileiro. No passado, ricos foram contra a construção de casas populares para tirar o povo das áreas de risco e hoje chamam vítimas socorridas de desabrigados da favela. Reconstrução passa também pelo enfrentamento à luta de classe.

 

O seis anos desde o golpe da deposição da Presidente Dilma, especialmente os quatro do governo Bolsonaro, marcaram um período de agravamento da desigualdade e da exclusão sociais que se manifestam na situação no litoral de São Paulo depois das chuvas, assim como pouco antes se revelavam na luta contra o genocídio dos ianomamis e anteriormente na condução (ou descondução) das ameaças da Covid.

 

Os governos Temer e Bolsonaro nada fizeram em favor da maioria despossuída dos brasileiros e fizeram muito contra ela e a favor da minoria já privilegiada. Isso contaminou o tecido social e aumentou o apartheid denunciado por Gleisi. 

 

Seria assustador imaginar o que estaria acontecendo se Bolsonaro tivesse conseguido a reeleição que perdeu por apenas dois milhões de votos num país de mais de duzentos milhões de habitantes. Ele estaria passeando de jet ski em alguma praia sem chuva e preocupado com a possibilidade de interromper as férias. 

 

A CAIXA CONTRA O BANCO CENTRAL

 

Por falar em Caixa, sua nova Presidente, Maria Rita Serrano, ex-Presidente do Sindicato dos Bancários do ABC e ex-representante dos funcionários no Conselho de Administração da empresa, anunciou que não pretende praticar os juros altos, de 13,75%, fixados pelo Banco Central.

 

A nova Presidente do Banco do Brasil, Taciana Medeiros, dos quadros do próprio banco e primeira mulher a presidi-lo em mais de duzentos anos, ainda não se pronunciou sobre a questão.

 

A ECONOMIA EM DESACELERAÇÃO

 

O Boletim Macro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, alertou que a desaceleração se espalha pela economia, segundo um estudo do próprio Instituto, e que essa perda de fôlego já contamina também o mercado de trabalho. 

 

Segundo reportagem de Marsílea Gombata, do jornal Valor Econômico, a desaceleração da atividade é percebida com mais força por diferentes setores da economia e o mercado de trabalho começa a indicar perda de fôlego, principalmente vindo de serviços, com aumento da insegurança sentido também pelos trabalhadores.  

 

O estudo da FGV nem precisava dizer que uma das causas, possivelmente a principal, dessa situação, que ameaça aumentar o desemprego e retardar o crescimento da economia, é a teimosia do Banco Central em manter no Brasil o absurdo dos juros mais altos do mundo.

 

 

(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.

 

 

 

Este artigo não representa a opinião do Jornal Brasil Popular e é de responsabilidade do articulista.

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