Nicarágua | Cruzada Nacional de Alfabetização, convertendo escuridão em claridade
por Joaquim Lisboa Neto (*) – Jornal Brasil Popular/BA em
Em junho de 1980, participei da Segunda Conferência Internacional Sobre Autogestão e Participação na América Latina e no Caribe, levada a cabo em Coronado, província de San José da Costa Rica.
Nela proferi palestra sobre a experiência autogestionária do jornal O Posseiro, diretor responsável o locutor que vos fala.
Com uma família campesina nicaraguense, ladeado por Isabel e Iván Labra, casal de psicólogos, ela panamenha ele chileno. Foto: Kynkas Lisboa/Arquivo pessoal
De lá zarpei pra Manágua, não sem antes fazer escala de uma semana em Honduras, dias e noites de aprendizagens culturais e curtições em Tegucigalpa, San Pedro Sula, Progreso Yoro e outras cidades das quais me fogem os nomes neste momento.
Era inverno, 1980, julho.
Em uma manhã, enquanto a gente quebrava o jejum, Clodomir Morais, na casa de quem eu então me alojara, disse que iria viajar para Wiwilí, ao norte, bem longe da capital do país.
Me perguntou se eu toparia ir. Aceitei o convite num átimo.
Brigadistas arribando a Manágua. Foto: Kynkas Lisboa/Arquivo pessoal
Mochilas nas costas, colocamos pé na estrada (on the road).
E lá fomos nós a bordo de um soviético Niva, que, como dizia Morais sarcasticamente, Ni va Ni viene, ou seja, Nem vai Nem vem.
A escalar montanhas rumo ao cerro Kilambé, a mais de 2.000 metros acima do nível do mar.
De noite, chuvas torrenciais, cobras (culebras) adoidado.
Área infestada de contrarrevolucionários, fronteira com Honduras, onde eles se homiziavam, assassinando, cruelmente, alfabetizadoras e alfabetizadores, brigadistas, juventude urbana a levar a magia da arte de ler e escrever a campesinas e campesinos que até então estavam mergulhad@s na mais completa escuridão derivada da ignorância.
Fomos visitar Célia Martins, então companheira sentimental de Morais, que voluntariamente se incorporou à Cruzada Nacional de Alfabetização, tendo inclusive exercido como comandante de uma esquadra feminina.
Conheci de perto, e que experiência sensacional, a empreitada sandinista heroica que, como afirmou em entrevista a uma revista o embaixador da Nicarágua no Brasil, Ernesto Gutierrez, reduziu de 59% para 12%, em três meses, o índice de analfabetismo naquele país centro-americano.
Clodomir Morais ajudando na construção de escola rural. Foto: Kynkas Lisboa/Arquivo pessoal
Nessas andanças eu não pensava em outra coisa a não ser ver o povo do meu país libertado desses grilhões, dessas mazelas que emperram o crescimento intelectual de um povo.
Las guapas nicas y su hermosa sonrisa. Foto: Kynkas Lisboa/Arquivo pessoal
O sonho não envelheceu.
No entanto, há que se ter têmpera de aço e o coração repleto de ternura para continuar lutando, sem desfalecer, apostando na vitória da cultura sobre o obscurantismo.
Biblioteca Campesina, 5 março 2023
PS: Na elaboração deste texto contei, na digitação, com o auxílio luxuoso de Thaise, secretária executiva da Casa da Cultura ALM
Paulo Freire e Sérgio Guimarães no arquivo que se segue:
(…) Mas gostaria de relembrar uma entrevista recente concedida pelo embaixador da Nicarágua no Brasil, Ernesto Gutierrez, à revista Senhor, em sua edição de 3 de outubro de 1984. O jornalista perguntou a ele: “Apesar dos pequenos intervalos de paz nos últimos anos, os sandinistas anunciam importantes realizações sociais. Que fizeram de fato até agora os sandinistas no poder?”.
E o embaixador Ernesto Gutierrez respondeu: “É uma alegria falar nisso; raras vezes temos a chance de divulgar o nosso trabalho. Na educação, por exemplo, conseguimos grande avanço. Fizemos a alfabetização em massa em 1980, logo após o triunfo da revolução, e reduzimos o analfabetismo de 59% para 12%, criando grande quantidade de escolas pré- primárias e de creches que antes inexistiam, exceto particulares. Hoje há creches nos bairros, nos mercados, sempre com a participação e controle comunitários. E tivemos a felicidade de contar com a colaboração de Paulo Freire; com a ajuda desse professor, através de seu método genial, conseguimos alfabetizar cerca de 6001 mil pessoas em seis meses. A tarefa de alfabetização foi assumida por toda a juventude. Aí juntaram-se dois fatores: o método Paulo Freire e a paixão dos nicaraguenses “.
1- A população da Nicarágua era de 2 milhões de habitantes em 1980
2- Além do Método Paulo Freire, na CNA se aplicou também o Método criado pelo ucraniano A. S. Makarenko, autor da monumental obra Poema Pedagógico, um dos grandes nomes dentre os pedagogos-renovadores do século XX.
(*) Por Joaquim Lisboa Neto, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.
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