O poeta amazonense Thiago de Mello morreu aos 95 anos, nesta sexta-feira (14). Ele faleceu em casa, em Manaus. A causa da morte ainda não foi informada.
Thiago de Mello nasceu em Barreirinha, no interior do Amazonas, e é um dos poetas mais conhecidos da região, influente tanto nacionalmente quanto internacionalmente.
Em 1964, após o golpe terrorista civil-militar financiado pelos EUA, que derrubou o presidente João Goulart (PTB), pôs fim ao regime democrático e instituiu uma ditadura militar terrorista e sanguinária no Brasil, Thiago de Mello renunciou ao posto de adido cultural no Chile.
Um perfil publicado no site Nota Terapia informa que ele foi perseguido pela ditadura militar, exilou-se no Chile por 10 anos e continuou produzindo. Dentre suas obras mais conhecidas estão: Faz escuro mas eu canto (1965), A canção do amor armado (1966), Poesia comprometida com a minha e a tua vida (1975), Os estatutos do homem (1977) e Mormaço da floresta (1984).
Ainda segundo o site, em 1975, o livro Poesia comprometida com a minha e a tua vida foi premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte. Essa premiação possibilitou que o escritor fosse reconhecido internacionalmente como um intelectual engajado na luta pelos direitos humanos.
Suas obras foram traduzidas para mais de trinta idiomas. Seu poema mais conhecido é ‘Os Estatutos do Homem’ (leia ao final deste texto), em que o poeta chama a atenção do leitor para os valores simples da natureza humana.
De acordo com a mídia, o velório do poeta amazonense ocorrerá no Palácio Rio Negro, Centro Histórico de Manaus, em horário a ser definido.
O governador Wilson Lima e o prefeito de Manaus David Almeida decretaram luto oficial de 3 dias pelo falecimento do poeta.
Em setembro do ano passado, a 34º Bienal de São Paulo homenageou Thiago de Mello. O verso que inspirou a bienal, ‘Faz escuro mas eu canto’, é parte do poema ‘Madrugada Camponesa’.
O poema, de 1965, também ganhou uma versão musical por meio de uma parceria entre Thiago de Mello e o músico Monsueto Menezes, no mesmo ano em que foi lançado.
O poeta é membro da Academia Amazonense de Letras e recebeu o destaque de Personalidade Literária do Prêmio Jabuti, em 2018. O autor foi reconhecido pelo conjunto da obra, que é referência na literatura regional brasileira.
No ano passado, em celebração aos seus 95 anos de vida, a Prefeitura de Manaus realizou a exposição virtual “Thiago de Mello 95 anos de vida, poesia e amor por Manaus”, a partir de acervos pessoais e públicos do poeta, com fotos, entrevistas e vídeos, disponível no link https://vidaecultura.manaus.am.gov.br/.
Leio o poema mais conhecido de Thiago de Mello, Os Estatutos do Homem, de 1977:
Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony
Artigo I.
Fica decretado que agora vale a verdade.
que agora vale a vida,
e que de mãos dadas,
trabalharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II.
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III.
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV.
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo Único:
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V.
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI.
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII.
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII.
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX.
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.
Artigo X.
Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.
Artigo XI.
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo.
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII.
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII.
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade.
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
Com informações do G1, Rede Brasil Atual e Nota Terapia
Vídeo: Tarancón. Madrugada Camponesa: Poema Thiago de Mello (Tarancón)
Poema completo (1965):
Madrugada camponesa
Madrugada camponesa,
faz escuro ainda no chão,
mas é preciso plantar.
A noite já foi mais noite,
a manhã já vai chegar.
Não vale mais a canção
feita de medo e arremedo
para enganar solidão.
Agora vale a verdade
cantada simples e sempre,
agora vale a alegria
que se constrói dia a dia
feita de canto e de pão.
Breve há de ser (sinto no ar)
tempo de trigo maduro.
Vai ser tempo de ceifar.
Já se levantam prodígios,
chuva azul no milharal,
estala em flor o feijão,
um leite novo minando
no meu longe seringal.
Já é quase tempo de amor.
Colho um sol que arde no chão,
lavro a luz dentro da cana,
minha alma no seu pendão.
Madrugada camponesa.
Faz escuro (já nem tanto),
vale a pena trabalhar.
Faz escuro mas eu canto
porque a manhã vai chegar.
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