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Morre Erasmo Carlos, pioneiro do rock no Brasil e símbolo da Jovem Guarda

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Cantor e compositor, Tremendão tinha 81 anos e estava internado no Hospital Barra D’Or, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro

 

 

 

Treze dias depois da morte de Gal Costa e Rolando Boldrin, o Brasil chora a morte de Erasmo Carlos, um dos criadores do movimento popular e cultural denominado Jovem Guarda. Esse movimento introduziu o rock and roll na música brasileira e abriu caminhos para que surgissem outros movimentos culturais importantes, como o Tropicalismo.

 

 

 

O cantor e compositor morre, aos 81 anos, morreu, nesta terça-feira (22), no Hospital Barra Dor, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro,com um quadro de paniculite complicada por sepse de origem cutânea. Paniculite é uma inflamação da camada de gordura que fica abaixo da pele. O velório e sepultamento, segundo nota da família, será restrito à família e amigos íntimos.

 

 

 

Na nota, a família lembrou que Erasmo “criou, amou, acompanhou a cada um de nós nos momentos importantes das nossas vidas. E além de todas as maravilhas que compôs e cantou durante décadas, ele nos deixou recados: o futuro pertence à jovem guarda. E que é preciso saber viver! Vamos continuar cuidando das novas gerações, por nós e por ele”.

 

 

Há cinco dias, Erasmo Carlos foi um dos premiados do Grammy Latino 2022. A premiação aconteceu no dia 17 de novembro, em Las Vegas. Ele já havia vencido premiação em 2014. No Grammy Latino 2022, ele levou a melhor na categoria ‘Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa’ com o álbum “O futuro pertence à… Jovem Guarda”.

 

 

O disco, lançado em fevereiro de 2022, reúne oito canções lançadas entre 1964 e 1966 nas vozes de artistas da Jovem Guarda, ou da pré-Jovem Guarda, mas que, até então, eram inéditas na voz do cantor.

 

 

Erasmo concorria na categoria com Baco Exu Do Blues (“Qvvjfa?”), Criolo (“Sobre Viver”), Lagum (“Memórias (De Onde Eu Nunca Fui)”) e Juçara Marçal (“Delta Estácio Blues”).

 

Capa do álbum 'O futuro pertence à... Jovem Guarda', de Erasmo Carlos — Foto: Ilustração de Marcelo Ment

 

O Tremendão, como era chamado, deixa a esposa e dois filhos: Gil Eduardo Esteves e Leonardo Esteves, e três netos: João Gabriel,Daniel e Pedro Gil. O seu filho do meio, Carlos Alexandre, morreu em um acidente de moto em 2014, com 40 anos. No dia 2 de novembro, o artista comemorou a alta hospitalar, nas redes sociais, após duas semanas de internação para tratar uma síndrome edemigênica. Mas voltou a ser hospitalizado, no dia seguinte, dia 3.

 

 

 

Segundo apuração da TV Globo, ele chegou a ser intubado na última segunda-feira (21), mas não resistiu. Essa doença ocorre quando há um desequilíbrio das forças bioquímicas que mantêm os líquidos dentro dos vasos sanguíneos e, geralmente, é causada por patologia cardíacas, renais e dos próprios vasos.

 

 

 

 

“Você é lar, você acolhe, você enxerga, você crê. Perdi a capacidade de me lembrar de como era a vida sem você, talvez ela nem tenha existido… e talvez tenha sido tão simples esquecer porque a gente se acostuma facilmente com a paz. Não foi de primeira, você brigou muito para mostrar, mas por fim encontrei a paz em você”, postou a mulher de Erasmo, Fernanda Passos.

 

 

 

Mais de 600 músicas

 

 

Autor de mais de 600 músicas e de clássicos como “Sentado à Beira do Caminho”, “Minha Fama de Mau”, “Mulher”, “Quero que tudo vá para o inferno”, “Mesmo que seja eu” e “É proibido fumar”, o artista deixa uma legião de fãs e amigos que fez pela estrada.

 

 

Foi na Tijuca onde nasceu Erasmo Esteves, em 5 de junho de 1941. Grandes nomes da MPB participaram da infância do cantor, no bairro da Zona Norte do Rio, como Tim Maia e Jorge Ben Jor.

 

 

 

Na adolescência, gostava de se reunir com a turma no Bar do Divino, na Rua do Matoso. Foi nessa época em que ele conheceu Roberto Carlos, durante um concerto de Bill Haley no Maracanãzinho – o que teria aberto os olhos do carioca para começar seu próprio grupo.

 

 

 

Assim, antes da carreira solo, o artista passou por outros grupos musicais, como os Snakes, ao lado de outros tijucanos, mas que durou só até 1961. Sem acreditar que conseguiria seguir sozinho na música, ele decidiu, então, trabalhar como assistente do apresentador e produtor Carlos Imperial, que o ajudou a dar o próximo passo, rumo a outro grupo musical.

 

 

 

Mais tarde, ele se tornou, então, vocalista do grupo Renato & Seus Blue Caps. Erasmo garantiu a contratação do conjunto por uma gravadora e fez sucesso em uma faixa ao lado de Roberto Carlos, marcando o início da parceria entre os dois. Erasmo compôs mais de 500 canções com o amigo.

 

“Erasmo Carlos”, portanto, não passava de um nome artístico em homenagem aos parceiros que estiveram com ele no início da carreira: Roberto Carlos e Carlos Imperial. Outros apelidos lhe acompanharam: Tremendão e Gigante Gentil. Poucos anos depois, ainda nos anos 1960, a dupla Roberto e Erasmo já se destacava como uns dos principais compositores da Jovem Guarda ao som do iê-iê-iê. Sob influência do pop britânico dos Beatles, o carioca se mudou para São Paulo e, com o passar dos discos, Erasmo se tornava ícone da bossa e da MPB.

 

 

Não muito tempo longe de casa, ele voltou a morar no Rio de Janeiro após gravar “Aquarela do Brasil”, em 1969. Em 1985, Erasmo esteve na primeira edição do Rock in Rio, nas plateias lamacentas. Ainda em 2001, o cantor lançava seu 22º disco, “Pra Falar de Amor”, quando completou 60 anos. No ano seguinte, Erasmo reunia já 40 anos de carreira. Na comemoração dos 50 anos de estrada, a festa foi no Theatro Municipal do Rio. Ao longo dos anos, grandes nomes se juntaram ao artista, como Chico Buarque, Lulu Santos, Zeca Pagodinho, Skank, Los Hermanos, Djavan, Adriana Calcanhotto, Marisa Monte, Frejat, Marisa e Milton Nascimento.

 

 

Em seu último aniversário, o Tremendão usou as redes sociais para fazer um post autobiográfico. “Sou o resultado das minhas realizações…gols e bolas na trave fazem parte do jogo já que a vida é curta e minha vontade é eterna…sou o que pude e o que tentei ser plenitude…quis ser muitos e sobrou um quando dispensei meia-dúzia dos que não me souberam ser…contagiado pelo bem tornei-me um guerreiro da paz…o meu canto será ouvido assim como o som dos ventos, enquanto o sol brilhar e as lembranças resistirem…dei passos vendados em caminhos movediços para ser merecedor de um lugar no pódio do amor !!! FELIZ ANIVERSÁRIO PARA MIM !!!”, postou.

 

 

O amigo-irmão

 

 

Segundo apuração do Jornal Nacional, pouco antes de Erasmos Carlos falecer, a mulher dele, Fernanda Passos, ligou para o cantor e compositor Roberto Carlos e passou o telefone para Erasmo. Nas redes sociais, o Roberto Carlos desabafou:

 

 

“Minha dor é muito grande, nem sei como dizer tudo o que eu penso desse meu amigo querido, meu grande irmão. Meu ídolo por tudo, pela sua lealdade, sua inteligência, sua bondade, por tudo o que eu conheço dele. Um ser humano maravilhoso esse meu irmão. É um privilégio para mim ter um amigo, um irmão assim por todos esses anos. Difícil encontrar palavras para falar desse cara: o meu amigo Erasmo Carlos. Ele viverá sempre em meu coração. Que o nosso Deus de bondade o proteja e o abençoe sempre. Amém, amém, amém!”

 

 

Nas redes sociais, ele recebeu homenagens de artistas, intelectuais, políticos e do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

 

 

 

Caetano Veloso, escreveu:

“Erasmo, com seu imenso talento, com todo seu corpo grande, passava, como ninguém, a sensação de pureza. Ele dizia com sinceridade que não tinha medo da morte. Só conheci um outro que dissesse isso assim: o guitarrista Perinho Santana. Há muito o que celebrar a respeito da vida e da obra de Erasmo. Junto a Roberto e Wanderléa, ele formou uma máquina potente de criação que sintonizou a música popular do Brasil com o espírito do mundo. Não haveria tropicalismo sem eles. Sem eles não haveria vida verdadeira no Brasil. E Erasmo sempre o mais puro e o mais livre. Tenho a honra de ter escrito, desde o exílio, “De noite na cama”, a pedido dele. Outro dia falei numa entrevista de figuras decisivas na MPB. Não me referi a ele, talvez por senti-lo acima dessa sigla. Mas o fato é que, sem ele e seus companheiros da Jovem Guarda, eu não teria feito nada do que fiz de relevante. O amor pela pessoa era, foi, é ainda mais importante. 💔🌹”

 

 

Marisa Monte

“Um espírito colossal com um coração bondoso. Não era à toa que seu apelido era Gigante Gentil. Super pai, super avô, super-homem. Eu adoro a narrativa descritiva de suas composições e as cenas cinematográficas que ele sabia criar como ninguém para ilustrar as situações vividas nas canções. Aprendi muito com ele e me orgulho de ter sido sua parceira, cúmplice e amiga. Descanse em paz meu ídolo e querido amigo inspirador!💔
Te amo Gigante Gentil 💫✨💫✨”

 


Milton Nacimento, que encerrou a carreira recentemente, em último show em Belo Horizonte, também escreveu:

“Tive a sorte de conviver com Erasmo praticamente desde a minha chegada ao Rio. Sempre prestigiamos um ao outro, foram muitos shows, encontros pelo Brasil, e muitas conversas. Ele até salvou minha vida uma vez, na Urca, estava atravessando a rua e não vi o carro vindo. Erasmo saiu correndo e me empurrou bem na hora. Depois, até brinquei com ele dizendo que, se não tivesse morrido atropelado, poderia ter morrido com a força do empurrão dele. Erasmo era coração puro, fiquei muito emocionado quando o encontrei na minha última temporada no Rio, em agosto, quando dediquei o show pra ele. Vai deixar muitas saudades.”

 

 

 

 

 

 

Frejat

“Estou com o coração em pedaços pelo falecimento do meu muito, mas muito querido amigo e parceiro Erasmo Carlos.
Vai deixar muita saudade por seu carinho, gentileza, bom humor e talento.
Vai por esse caminho de luz 💫que sempre te iluminou🌟,amigo querido!❤️❤️❤️❤️🎶🎶🎶🎶🙏🏼🙏🏼🙏🏼🙏🏼🙌🏼🙌🏼🙌🏼🙌🏼”

 

 

“Nos deixou hoje este amigo de talento, gentileza e harmonia gigantes @erasmocarlosbr ! Um abraço apertado em todos os familiares, amigos e fãs 💙

 

 

 

 

Com informações do G1

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