Os corpos da cantora e compositora Marília Mendonça, 26 anos, e de seu tio e assessor Abicieli Silveira Dias Filho, foram sepultados no Cemitério Parque Memorial de Goiânia, às 19h20, deste sábado (6), após um longo velório e cortejo.
Durante mais de 4 horas, milhares de fãs se despediram da cantora, cujo corpo ficou exposto ao público no estádio Goiânia Arena. O velório durou das 13h às 17h30 deste sábado (6). Segundo a Polícia Militar, mais de 100 pessoas passaram pelo estádio.
Ela morreu tragicamente numa queda da aeronave bimotor Beech Aircraft, da PEC Táxi Aéreo, de Goiás, prefixo PT-ONJ, com capacidade para seis passageiros, na sexta-feira (5). O avião caiu numa cachoeira na serra de Caratinga, interior de Minas Gerais, a 5 quilômetros do local em que ela ia fazer um show.
Morreram também seu produtor, Henrique Ribeiro; seu tio e assessor Abicieli Dias Filho; o piloto, Geraldo Medeiros Junior; e o copiloto, Tarcíso Viana. Todos sepultados neste sábado (6).
A cerimônia de despedida da cantora reuniu artistas, fãs e parentes e foi marcada por lágrimas e música. Apesar da exposição do corpo no caixão durante a tarde do sábado, no Goiânia Arena, o tempo não foi suficiente para que as mais de 100 mil pessoas se despedissem.
Quem não conseguiu entrar no estádio, tentou se despedir ao longo dos 12 km que separam o estádio do cemitério. Apesar de reservado à família e aos amigos mais próximos, fãs e admiradores da artista lotaram a entrada do Parque Memorial para prestarem suas últimas homenagens.
Os fãs da cantora seguiram o cortejo, feito pelos caminhões do Corpo de Bombeiros, que transportaram os corpos para sepultamento, das mais diversas formas: de carro, bicicletas e até a pé, de modo que o trânsito no caminho até o local se manteve lento ao longo da tarde.
Marília Mendonça foi a única sertaneja a criticar o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL/União Brasil). Feminista, antifascista e mulher pioneira no gênero sertanejo “sofrência”, Marília Mendonça liderou um movimento novo no estilo sertanejo e inovou em suas músicas, ao falar diretamente às mulheres.
Radical contra a violência doméstica, ela tratava desse e de outros assuntos relacionados à mulher em suas composições. Ajudou muitas mulheres a se empoderarem. Em 2018, ela apagou das suas redes sociais um vídeo no qual se declarava contra o candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro.
Ela aceitou um convite de Daniella Mercury e aderiu à campanha #EleNão, contra Bolsonaro. Em seguida, após deletar o vídeo, divulgou na redes que foi obrigada a apagá-lo porque ela e sua família passaram a sofrer ameaças.
Apesar da morte precoce, aos 26 anos, ela está na estrada há algum tempo. Começou a compor também precocemente, aos 12 anos. Considerada um gênio da música sertaneja chamada “sofrência”, ela foi capaz de construir pontes entre vários gêneros musicais e passeava por diferentes ritmos.
Com um formato de composição único, cantou hip hop, samba, axé, MPB etc. Seu talento a fez experimentar vários gêneros e novas linguagens a ponto de inaugurar, dentro do seu estilo musical, o chamado “feminejo”, no qual traduziu o espírito de sua época e se comunicou como uma explosão musical com o público feminino.
Descritas pelos especialistas como um fenômeno nacional e internacional, um de seus principais legados foram as 324 composições. Foi a voz mais ouvida no Brasil nos últimos anos. Na pandemia, foi a única artista do mundo a ter mais de 3 milhões de cliques simultâneos durante uma live. Várias lives têm mais de 14 bilhões de cliques.
Para falar dessa meteórica atuação, César Fonseca, repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana e colunista do site 247, escreveu o texto intitulado “Rainha da libertação feminina contra machismo fascista”. O texto foi publicado, originalmente, no site 247. Confira
Rainha da libertação feminina contra machismo fascista
(*) Por César Fonseca
Como sempre, a mídia, dominada pelos clichês capitalistas e comerciais, avessa à libertação cultural, especialmente, da mulher, busca enganar, sofismar e mentir para alienar. Ela construiu a imagem distorcida de que a grande Marília Mendonça, que Caetano Veloso, numa sacada feliz, genial, chamou de Maravilha Mendonça, foi a Rainha da Sofrência. Nada a ver. Ao contrário, a maravilhosa Marília, tragicamente, desaparecida aos 26 anos em desastre aéreo em Minas Gerais, em Caratinga, foi a Rainha da Libertação Feminina contra o machismo fascista muito em voga em tempos bolsonaristas.
Diante da sua poderosa voz, as mulheres se enxergaram, elevaram sua autoestima, muniram-se das armas psicológicas para lutar contra o machismo negacionista que as oprimem e as matam, como mostram as estatísticas, sem que os poderes públicos reajam à altura para protegê-las como verdadeiras cidadãs, como se não pudessem usufruir dos direitos humanos institucionalmente consagrados na democracia.
A Rainha da Sofrência nunca existiu. Existiu, sim, uma mulher de luta, determinada, que mobilizou com sua arte multidões impressionantes, incalculáveis pelas ruas e praças, primeiro, do Brasil, em seguida pelo mundo afora. E prometida muito mais, conforme denota sua agenda de shows, programados nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina. Logo, logo estaria abafando na China, a nova fronteira econômica e política global, contra qual se mobiliza, inutilmente, a potência norte-americana, sem poder suportar seu ritmo avassalador desenvolvimentista etc.
Com sua capacidade admirável de sintetizar o sentimento popular feminino, Maravilha Mendonça atiçou nas mulheres espírito de resistência e libertação; colegas suas cantoras do gênero Sertanejo, que encontrou nela o manifesto revolucionário anti-machista, criaram o movimento político “Feminejo” que espalhou qual fogo no paiol, produzindo entusiasmo, coragem e decisão para colocar os homens no seu devido lugar.
A disposição de luta dela se expressou em “As patroas 35”; chegara a hora delas darem as cartas diante dos seus supostos patrões, os reacionários machistas tupiniquins inveterados, incapazes de suportar sua libertação sexual, política e econômica, indispostas a nunca mais levar desaforo para casa, como na música sensacional “Saudade do meu ex”.
Ganhou extraordinária força o brado político-musical de guerra contra o feminicídio dado por Marília, com seu lindo sorriso, solto, extrovertido, típico de quem enxerga e executa a alvorada de uma vida mais feliz, ao mesmo tempo simples, ao tocar nos problemas concretos de sua existência em uma sociedade marcada pela ultraconcentração neoliberal de renda e absurda desigualdade social, fomentadora do machismo inseguro e assassino.
Bolsonarismo treme
Certamente, com Maravilha Mendonça, o bolsonarismo tremeu nas bases. Mas, na hora da sua morte, sentindo o peso da sua força de transformação revolucionária, o presidente fascista que envergonha o mundo soltou uma nota fake de lamento pela morte daquela que encabeça o movimento contra o qual não se alinha politicamente, mas, ao contrário, combate encarniçadamente. Sem dúvida, a negação política que representa Bolsonaro buscou ficar bem diante do fenômeno cultural feminista que sua política anticultural combate.
A nota presidencial de lamento pelo trágico desaparecimento da artista soa mera esperteza oportunista; visou a aparência, não a essência. A aparência foi a de tentar sensibilizar o público sertanejo que domina o Oeste brasileiro, com destaque para Goiás, terra de Maravilha Mendonça, onde está a maioria do eleitorado de Bolsonaro. Na terra do agronegócio, onde reina o bolsonarismo, ancorado no machismo feminicida, Marília foi expressão máxima da luta contra o que Bolsonaro representa.
Ele tentou pegar carona no fenômeno cultural contra o qual ataca, mas o recado da artista revela o oposto bolsonarista. Muito provavelmente, Bolsonaro estará hoje em Goiânia para participar do velório dela, vendendo gato por lebre, visando, apenas, sua campanha eleitoral de 2022. Afinal, acabou de falecer, também, Nelson Freire, um ás mundial do piano clássico, nascido em Minas Gerais, sem que o presidente soltasse uma linha sequer de louvor ao artista genial que se foi, deixando a sensibilidade global em prantos. O mesmo já havia acontecido com João Gilberto, o papa da Bossa Nova, internacionalmente consagrado, sem que ele também reconhecesse o valor da arte nacional expresso no baiano, igualmente, gênio. Claro, sensível às massas, que, invariavelmente, manipula com suas fakenews, Bolsonaro sentiu a barra e a necessidade de soltar longa nota de pesar; pensou que o JN a destacaria, o que não fez, o que, evidentemente, deixou-o, completamente, puto.
Mulher porreta unifica país
O Brasil perde uma grande mulher, porreta, no auge do sucesso e criatividade, fenômeno de massas. A tragédia abala e unifica o povo pela dor do desaparecimento do artista popular. Em 24 de junho de 1935, a Argentina entrou em trauma com a morte, aos 35 anos, de Carlos Gardel, o Rei do Tango, em desastre aéreo nas montanhas de Medellín, Colômbia; em 27 de setembro de 1952, aos 44 anos, era a vez de Francisco Alves, o Rei da Voz, se espatifar num desastre automobilístico, em Pindamonhangaba; e em 2 de março de 1996, o país era sacudido pelas mortes dos Mamonas Assassinas, 9 rapazes na faixa dos 25 anos, representantes do chamado Rock Cômico, desaparecidos na Serra da Cantareira, igualmente, em desastre aéreo.
Hoje Goiânia e o Brasil choram e estremecem na despedida do talento de Maravilha Mendonça, autora de sucessos que entusiasmaram seu fabuloso público, algo como o dos Beatles: “Alô Porteiro”, “Bebaça”, “Amante não tem lar”, “Ciumeira”, “Como faz com ela”, “Estranho”, “Festa das Patroas”, “Infiel”(sensacional), “Esqueça se for capaz”, “Vai embora que ele vem atrás”, “Sem sal”, “Supera”(grito de guerra), “Vira homem”…São mais de 320 gravações, um ritmo semelhante ao de Noel Rosa, Chico e poucos outros.
Promessa precoce que se cumpriu em matéria de arte popular, Maravilha Mendonça tocou no nervo solto da agressividade machista nacional contra a mulher que ela cantou mobilizando milhões. Pode se dizer que a luta feminina tem um marco: antes e depois de Marilia, na era da internet e das redes sociais. A política tenta se apropriar dela: presidente da República, presidente do Senado, da Câmara, do Tribunal Superior Eleitoral se pontificaram no Jornal Nacional. Pela sua luta em favor do feminismo contra o machismo, Maravilha Mendonça se alinha à vanguarda que a esquerda, historicamente, representa contra a direita, que tem caso histórico de repulsão à liberdade da mulher na luta pelos direitos humanos.
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