O livro “Anatomia de um Credo”, de Ronald Rocha, desvenda alguns mitos sobre o capitalismo brasileiro atual, principalmente de que há uma burguesia interna (ou nacional) “produtiva” e um capital financeiro (bancário) que vampiriza essa “classe produtora”. Rocha demonstra de modo histórico que, em nível internacional, a fusão de capitais financeiros e industriais se processou no início do século XX. No Brasil, esse processo é mais recente, começa nos anos de 1950 e se materializa nos dias atuais.
O autor lembra que essa falsa visão é difundida pela imprensa, por intelectuais (inclusive de esquerda) e por federações milionárias de industriais. Na verdade, essa realidade abarca apenas as pequenas empresas (pequena burguesia) que vivem emparedadas pelas grandes empresas, cujo lucro é pequeno e por isso imaginam a utopia de que seria possível existir um mundo sem juros bancários. Porém, esse mesmo grupo esquece que a origem de seus negócios e de seus lucros começa com o capital bancário, na forma de empréstimo para abrir o negócio ou na cobrança de tarifas na venda a prazo, etc.
Rocha lembra também que as ditas classes industriais produtivas roubam da realidade o fato de que a produção é feita por quem trabalha na construção de carros, mesas, sapatos ou celulares e essa classe produtiva é a classe trabalhadora. Demonstra que o interesse industrial não é distinto dos capitais financeiros, ao contrário, a forma de governo e as políticas de arrocho e retirada de direitos das classes trabalhadoras produtivas é feita em nome de um único interesse: o da burguesia.
O livro é bem escrito e traz um conjunto de dados que sustenta essa grande demonstração histórica. É um texto de interesses dos trabalhadores e de todos aqueles que precisam entender a realidade para transformá-la.
“Anatomia de um credo” (o capital financeiro e o progressismo da produção), Ronald Rocha. 148 pag, Ed. O Lutador, Belo Horizonte, 2018.