No segundo semestre de 1983, orientado e estimulado por Clodomir Morais, enviei projeto para a NOVIB, Organização Não Governamental holandesa, solicitando apoio financeiro a fundo perdido.
Além da aquisição de vários equipamentos e remuneração de pessoal, se incluiu a compra de uma gráfica completa.
Anexei como reforço uma carta escrita pelo holandês Pieter van Ginneken ao Sr. John Schlanger, diretor da organização naquele país europeu. Isso ocorreu quando de minha estadia na casa de Pieter e família, em Cusco, Peru, maio de 1981.
O miserê da Campesina e, consequentemente, o meu, na época, era de tal amplitude que pra pagar as despesas postais andei catando adjutórios com amig@s.
Despachei as dez páginas tamanho ofício e desliguei, cético.
Na primeira quinzena de janeiro de 1984, me chega carta postada na terra do muito louco Van Gogh.
Abri esperando o pior: projeto indeferido, na certa.
Haja emoção na abertura do envelope.
Que nada! Gratíssima surpresa!
De Haia me informa, em documento datado de 10 de janeiro, o Dr. José Theunis, secretário-geral da ONG, que o projeto foi aprovado.
Chumbo grosso: Dfl. 55.500 florins, 18.500 dólares. Naquele tempo o peso do dólar sobre a moeda brasileira era estrondoso, dívida externa de 30 bilhões, se não me trai a memória.
A razão pela qual a inclusão de uma gráfica se fez imprescindível no projeto residia no fato de que a Casa da Cultura Antonio Lisboa de Morais precisava de um braço financeiro a fim de que nosso projeto, nossa Revolução Cultural, não sofresse solução de continuidade.
Nas conversações com o próprio Morais sempre vinha à tona o perigo que pairava sobre a CASA no concernente a recursos financeiros; não podíamos ficar de pires na mão caçando e catando níqueis e muito menos apáticos, vendo a banda passar.
Chegado o momento de se dar nome à empresa, informados de que José de Araújo Zinza exercia como clicherista, em madeira, do jornal “O Corrente”, decidimos homenagear o operário, em sintonia com nossa folha de rota.
E assim surgiu a Tipografia, posteriormente Gráfica Mestre Zinza. Que, por sinal, já no seu segundo ano de atividades se transformou na melhor do ramo em todo o Vale do Rio Corrente.
Graças a ela a Casa da Cultura ALM/Biblioteca Campesina pôde realizar dezesseis anuais consecutivas Semanas de Arte e Cultura, ademais de um sem-número de eventos artísticos e culturais, e o jornal O Posseiro pôde circular ininterruptamente até 1996.
A TMZ, falida em 1998, contribuiu para o surgimento de três gráficas: Real, Unigráfica/Líder e Burity Digital. Propriedades respectivamente de Glicério Ramos, José Queiroz/Afrânio Álvares e Tarique Lima/Elson Barbosa, esta última sediada em Correntina. Ramos, Queiroz e Tarique iniciaram suas carreiras nas artes gráficas na Zinza.
Orgulhosamente, preservando nossa memória histórica, resgatamos a figura do genial Zinza em alto estilo.
Biblioteca Campesina, 31 março 2023. Confira as imagens de data tão importante para o parque gráfico de Santa Maria da Vitória, Bahia, a cultura da cidade e, sobretudo, para a Biblioteca Campesina, que, diariamente, luta, financeiramente, para se manter viva.
(*) Por Joaquim Lisboa Neto, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.
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