Morreu, na tarde desse sábado (1º/4), o jornalista e escritor paraense Palmério Dória, aos 74 anos. Em seus escritos enviados pelo WhatsApp, o jornalista Antônio Carlos Queiroz (ACQ), informa que Dória foi “um dos primeiros repórteres a revelar detalhes da Guerrilha do Araguaia, ao lado de Sérgio Buarque, Vincent Carelli e Jaime Sautchuk. Palmério foi diretor da revista Sexy e ficou mais conhecido por seu livro sobre o poder político da família do ex-presidente José Sarney.
O site Brasil 247, em que Dória tinha uma coluna, informou que “o jornalista cravou um momento de glória maior na luta de brasileiros e brasileiras contra a censura do regime militar”. Confira, na íntegra, o texto do Brasil 247 intitulado “Luta e glória de Palmério, que contou a guerrilha do Araguaia”.
Em dezembro de 1978, Palmério publicou a primeira reportagem que rompeu sete anos de censura sobre um dos principais segredos da ditadura militar instituída em 1964 — a guerrilha do Araguaia.
Organizada pelo PC do B na região onde Tocantins, Pará e Maranhão fazem fronteira, a guerrilha foi afogada na tortura e na violência contra dezenas de militantes, aos quais se juntaram homens e mulheres da população local.
O esforço para retratar a barbárie empregada contra cidadãos indefesos já havia motivado várias iniciativas de profissionais da imprensa na época. Em 1973, o Estado de S. Paulo, que possuía imenso prestígio no país daquele período, tentou publicar uma investigação bem apurada sobre o tema.
Numa reação brutal que anunciava o tratamento a ser dispensado a quem se aventurasse a entrar no assunto pelos anos seguintes, a edição do jornal foi apreendida antes de chegar às bancas.
Essa barreira só seria quebrada cinco anos mais tarde, nas reportagens de Palmério Dória, acompanhadas pelas fotos de Vincent Carelli, antropólogo que até hoje desenvolve um trabalho indispensável junto a comunidades indígenas, como se apreende num depoimento que publiquei na TV 247 (2/7/2022).
Estava claro desde a apreensão da edição do Estadão em 1973, que o problema não se resumia a encontrar informações sólidas e testemunhas com credibilidade para divulgar uma reportagem vetada pelo regime militar. Era preciso encontrar o momento político adequado para derrotar a censura e divulgar a notícia.
A mudança ocorreu a partir da revogação dos atos institucionais que, com base no AI-5, contrariavam a Constituição Federal e sustentavam a censura. Foi então que se pode preparar e publicar uma edição especial sobre a Guerrilha do Araguaia, em forma de livro, pela editora Alfa Omega — cuja base eram as reportagens de Palmério Doria, que, com o talento de um repórter tão aplicado como perspicaz, contavam a história que até então fora vetada ao conhecimento de uma população inteira.
No dia em que o Ato Institucional caía por terra, o jornalismo cumpria seus deveres e responsabilidades. Gloria para Palmério Dória, também. Levando uma existência em solo áspero, viveu não poucas injustiças no plano pessoal e carregou uma carga imensa carga de dificuldades em sua existência. Cabe reconhecer, porém, que encontrou seu lugar nos destinos do país. Alguma dúvida?
Deixe um comentário