Agrupados, são facções de palavrório e vandalismo, como vivandeiras de quartel
Uma imagem-choque do grotesco: bêbado, trajando verde e amarelo, homem de meia-idade com a foto do presidente numa caneca de chope provoca o entorno aos gritos de que aquele ali era “deus, sim”. Ao fundo, uma matrona embriagada saltitava.
A cena poderia constar da micareta sob a sacada da embaixada brasileira no funeral da rainha. Só que ocorreu na basílica de Nossa Senhora Aparecida, no feriado nacional da padroeira, em meio às vaias contra a homilia do arcebispo e às agressões a jornalistas. Apesar das cores nacionais, a baderna violenta carrega um nome de origem inglesa: hooliganismo.
Hooligans ou arruaceiros organizados existem desde o século 19 na Inglaterra e há algum tempo por aqui. Limitavam-se às torcidas de futebol. Mas a profanação da basílica é característica de uma inflexão política do fenômeno, sob o bolsonarismo. Foi uma reprise variada do chute na imagem de Nossa Senhora Aparecida por um pastor evangélico, décadas atrás, no mesmo feriado. A diferença está entre o ato individual tresloucado e a deliberada ação coletiva de transgressão da civilidade mínima. Ante a perplexidade sobre como se desceu a tanto, é possível pensar em efeitos de uma guerra civil molecular, que combinam ações e palavras.
São muitas as modalidades do fenômeno “guerra”. Já a rainha Vitória (1819-1901), referindo-se às repercussões do morticínio da Crimeia (1853-1856), percebia ser “incrível como a guerra é popular”. Depois dos horrores dos grandes conflitos mundiais, entretanto, a vontade de viver foi substituindo a glória dos sofrimentos inúteis por ideologias compensatórias, na maioria esteticamente formatadas pelo fascismo. Hoje, as redes sociais destilam ódio e guerrilhas no que chamam de guerra cultural.
Precursor físico do fenômeno, o hooligan é modelo globalizado do ressentimento predatório. Agrupados, são facções de palavrório e vandalismo, como vivandeiras de quartel. Movem-se pela ilusão perversa de que a realidade está nos emblemas de uma bolha. Podem ser as cores de um time ou os estandartes de um populista avesso ao consenso democrático da sociedade civil. A basílica foi vilipendiada por um surto fanatizado de hooliganismo eleitoral.
Esse tipo de arruaceiro não tem status ilegal frente ao outro (a Lei), por isso não vai preso. Não é bandido, mas o “band-aid” de si mesmo, de sua ferida moral aberta. Sem se lançar a corpo perdido na refrega, precisa de manada e do estímulo de uma mistificação endeusada. Precisa que pinte um clima: o de golpe anda esmaecido, o de rebaixamento humano depende da tampa do esgoto. Arrisca-se naturalmente a um tiro no pé pelo desrespeito comunitário. Nossa Senhora Aparecida poderá ter a última palavra.
(*) Por Muniz Sodré, sociólogo, professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autor, dentre outras obras, de “A Sociedade Incivil” e “Pensar Nagô”. Artigo publicado, originalmente, na Folha de S.Paulo, em 22/10/2022.
SEJA UM AMIGO DO JORNAL BRASIL POPULAR
O Jornal Brasil Popular apresenta fatos e acontecimentos da conjuntura brasileira a partir de uma visão baseada nos princípios éticos humanitários, defende as conquistas populares, a democracia, a justiça social, a soberania, o Estado nacional desenvolvido, proprietário de suas riquezas e distribuição de renda a sua população. Busca divulgar a notícia verdadeira, que fortalece a consciência nacional em torno de um projeto de nação independente e soberana. Você pode nos ajudar aqui:
• Banco do Brasil
Agência: 2901-7
Conta corrente: 41129-9
• BRB
Agência: 105
Conta corrente: 105-031566-6 e pelo
• PIX: 23.147.573.0001-48
Associação do Jornal Brasil Popular – CNPJ 23147573.0001-48
E pode seguir, curtir e compartilhar nossas redes aqui:
https://www.instagram.com/jornalbrasilpopular/
️ https://youtube.com/channel/UCc1mRmPhp-4zKKHEZlgrzMg
https://www.facebook.com/jbrasilpopular/
https://www.brasilpopular.com/
BRASIL POPULAR, um jornal que abraça grandes causas! Do tamanho do Brasil e do nosso povo!
Ajude a propagar as notícias certas => JORNAL BRASIL POPULAR
Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.