Histórias do horror cotidiano: a faxineira do Rio e os baianos do Sul
por José Augusto Ribeiro (*) – Jornal Brasil Popular/RJ em
Histórias como as que estão no noticiário e assombram e deixam revoltados os leitores não devem ser novidade no Brasil. Coisas iguais certamente aconteciam antes e só não eram denunciadas ou por não haver a quem denunciar, tal a indiferença do governo diante de tantas violações dos direitos humanos, ou por medo de represálias, que contariam com ampla blindagem e impunidade.
O caso, por exemplo, da faxineira Marcelle Oliveira, de 34 anos, contratada para um dia inteiro de limpeza num apartamento em Ipanema, um dos bairros mais caros do Rio. Ela mora em Campo Grande, na zona oeste do Rio, muito longe da Zona Sul e de Ipanema. No dia marcado, ela acordou por volta das 4h40 da madrugada e por via das dúvidas preparou sua marmita. Para estar às 8h em Ipanema, pegou uma van e um metrô.
Na que seria normalmente a hora do almoço e descanso numa jornada de trabalho tão longa, Marcelle não estranhou que não lhe fosse oferecido ao menos um lanche e pediu licença ao dono da casa para esquentar sua marmita no micro-ondas. Ouviu em resposta que “os aparelhos domésticos eram só para os moradores da casa”.
Para Marcelle poderia ser habitual não haver nem almoço nem um lanche para a faxineira num apartamento de bacanas – tanto que ela acordou a tempo de cozinhar o que levaria em sua marmita. Mas certamente nunca lhe acontecera de proibirem o uso do micro-ondas para esquentar sua comida.
Em entrevista ao site UOL, depois que seu protesto nas redes sociais viralizou, ela reconstituiu a cena:
— Quando perguntei a esse senhor, ele disse que eu não poderia usar o microondas porque é de uso dos moradores do apartamento. Eu olhei e perguntei novamente. Ele me respondeu mais uma vez e disse que os aparelhos domésticos são para os moradores da casa. Eu respirei, troquei de roupa e comuniquei a ele que estava indo embora.
Marcelle não disse se recebeu ou reivindicou algum pagamento pelas horas já trabalhadas, mas é evidente que um empregador miserável como aquele não se preocuparia sequer em indenizá-la pela despesa com a van e o metrô.
— … larguei a faxina pra lá. Não poder esquentar meu almoço que [é] isso, gente? Diarista ou faxineira é ser humano igual a vocês Não adianta ser doutor e não ter educação e respeito pelos outros.
O caso de Marcelle terá sido único ou reeditava um comportamento em moda entre empregadores dos bairros ricos? Um bacana de Ipanema talvez não tivesse peito para ser pioneiro em práticas como essa, mas não se envergonharia de seguir a moda. O caso teve pouca divulgação, comparado por exemplo com o dos baianos atraídos para a colheita de uva no Rio Grande do Sul, que já envolveu até empresas grandes e tradicionais.
Em resumo, três pessoas recrutadas na Bahia para trabalhar na colheita da uva no Rio Grande do Sul fugiram de um alojamento em Bento Gonçalves e procuraram a polícia. No mesmo dia, uma operação da Polícia Rodoviária Federal resgatou mais de 200 homens submetidos a trabalho análogo à escravidão….
— Uma rotina de tortura, humilhações e insalubridade – disse Felipe Freitas, Secretário de Justiça e Direitos Humanos da Bahia. — Além das condições insalubres, morando em local úmido, sem alimentação adequada e expostos a uma jornada extenuante de trabalho, eles também eram alvo de violência física e psicológica. Eram acordados a chicote para trabalhar.
O caso desses trabalhadores pode ter sido extremo, mas, segundo dados do Ministério do Trabalho, a prática do “emprego” em condições equivalentes à escravidão, mais que triplicou nos últimos dois anos do desastre que foi o governo Bolsonaro.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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