Quando as pessoas da minha aldeia estão se alimentando, seja no desjejum, no almoço ou na janta, tenho a impressão, pra não dizer certeza, de que não dedicam um microssegundo sequer a louvar as trabalhadoras que tornam possível esse cotidiano prazer degustativo.
São elas quem, desde manhã bem cedinho, montam suas quitandas, chova ou faça sol, frio ou calor, expõem especiarias, frutas, leguminosas, hortaliças, dentre outras delícias da rede alimentar.
Se quedam à espera da freguesia, gentes boas e outras nem tanto, estas sempre querendo arrancar nem que seja alguns centavos do preço original, se o valor é 2 reais lá vem a pergunta “1,50 paga?”, geralmente classes média e alta, avarentos.
Sem elas nossas mesas seriam órfãs dessas iguarias que nos repõem as energias.
Convivo diariamente com três pessoas dessa ramificação laboral e a todas admiro pra valer com a mesma intensidade.
Pela ordem de chegada.
Dona Joana, a matriarca, assessorada quase sempre a distância pelo marido Mestre Enoque, e presencialmente pelo filho Jodário, além de algumas filhas e netas. São precisamente trinta e oito [38!] anos ininterruptos de atividade à frente da microempresa de tipo familiar, ou seja, quase quatro décadas com dedicação e muito prazer.
É principalmente nessa quitanda que me abasteço de, por exemplo, frutas e pão integral, ademais de degustar o cafecito das 9 e meia diariamente. E nesse vaivém lá se vai uma meia dúzia de anos, pelo menos, de frequência diária de segunda a sábado.
Andréia, cuja quitanda é administrada pelo marido Cristiano, com muita competência, diga-se de passagem. Assim como as outras quitandeiras, ela é muito carismática e simpática, sorriso estampado no rosto invariavelmente. Mulher solidária, sou testemunha e um dos beneficiários da postura louvável da cara amiga.
Solange, pontualmente assessorada pela jovem Raíssa. Sempre bem-humorada, cultivadora, assim como o autor destas linhas, de ervas medicinais, dentre as quais o milagroso alecrim, o qual adquiro nesta quitanda.
Um dado importante a ser ressaltado consiste no fato de que quase a totalidade do que essas quatro lutadoras vendem são alimentos saudáveis, orgânicos, produtos oriundos da agricultura familiar, nada a ver com os envenenados transgênicos.
Na minha opinião, o poder público municipal teria o dever de apoiar essas figuras humanas que só nos fazem bem; por exemplo, construir, no centro da cidade, um conjunto de estandes padronizados, ocupação condicionada ao pagamento de uma taxa meramente simbólica, mínima da mínima.
Fica aqui, através destas meteóricas linhas, publicado meu apreço e minha gratidão a esse trio de senhoras admiráveis.
Biblioteca Campesina, 7 março 2023.
(*) Por Joaquim Lisboa Neto, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.
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