Todas as pesquisas mostram que Lula pode se eleger presidente, neste ano, e garantir, a partir de 2023, a retomada do desenvolvimento social, econômico e cultural do nosso país, violentamente atingido pela desgraça chamado Bolsonaro. Mas temos motivo para acreditar que não será com chuvas espalhadas e pouco intensas. Só uma cabeça d’água* eleitoral garantirá levar de roldão o obscurantismo do fascismo bolsonarista para o oceano do lixo histórico, de uma vez por todas.
O que entendemos hoje como fascismo bolsonarista não surgiu com Bolsonaro. O fascismo sempre esteve presente nas sombras, enraizado em nossa sociedade, somente se manifestando em algumas ocasiões, especialmente em momentos eleitorais, e recebia o insosso nome de “minoria silenciosa”. Quase sempre, essa minoria, decidia eleições em favor de candidatos com conteúdo de discurso fascista e populista. Como foi o caso de Collor em 1989.
O grande feito de Bolsonaro foi assumir o fascismo de forma explícita e com muito estardalhaço tornando-o essa figura deletéria e fiel representante de algo que já existia há muito tempo em nosso país, mas de maneira silenciosa. Além de representar essa minoria fascista, ele criou mecanismos eficazes de mobilização permanente, utilizando fakenews e ameaças permanentes ao sistema, como faz com o STF.
Como representante dessa minoria, Bolsonaro demonstra sua enorme incompetência, vinte e quatro horas por dia, e ainda assim mantem o apoio incondicional de 20 a 25% de eleitores, que respondem, aguerridos, a convocações para manifestações de rua. Pacíficas ou violentas, como tentou em 7 de setembro de 2020.
Esse desgoverno, que vem destruindo a economia do país e que gerou mais de seiscentos mil mortos por Covid, se tornou insuportável para a maioria do povo brasileiro.
Ao assumir um programa neoliberal de aniquilamento da capacidade produtiva brasileira – exceção apenas do agronegócio –, conseguiu apoios importantes de atores sociais conservadores de peso, como Forças Armadas, entidades empresariais, polícias militares, igrejas neopentecostais, parte dos veículos de comunicação corporativa, como grupos dos jornais Estado de São Paulo, TV Record, TV Bandeirantes, entre muitos outros. Não há dúvida de que o fascismo bolsonarista, com ou sem Bolsonaro, ainda tem muita força, impossível de ser esmagado sem uma força antagônica muito forte.
A cabeça d’água eleitoral que é necessária visa à romper parte desse bloco conservador para, junto com quase metade do eleitorado brasileiro pró-Lula, possibilitar atingir o objetivo estratégico de tirar o fascismo bolsonarista do poder – com ou sem Bolsonaro. Assim, é vital a construção de uma frente ampla, que garanta a força política necessária para a vitória de Lula, já no primeiro turno!
Essa frente, para se tornar cabeça d’água tem que garantir o apoio de lideranças de peso do bloco conservador, um programa ousado de reconstrução do país, numa campanha eleitoral que leve milhões de pessoas às ruas, com o envolvimento do máximo possível de entidades não só populares, mas também empresariais, a atuação massiva nas redes sociais, além de forte apoio internacional de democratas de todo o mundo. É preciso eleger um grande número de deputados federais, senadores, governadores, deputados estaduais, que constituirão essa cabeça d’água.
Esse intento, entretanto, somente será conseguido se não for fechada ou vetada nenhuma possibilidade de aliança que contribua para esse objetivo, seja com Alckmin ou qualquer outro nome expressivo de matiz conservadora.
Finalmente, mas não menos importante, parece claro que a ousadia para realizar as mudanças necessárias não pode se deter diante do medo. Especialmente da Síndrome de Temer, que tem levado a pensar numa tática cuja principal finalidade é evitar o que aconteceu com a presidenta Dilma, que sofreu um golpe desferido, não só, mas principalmente, pelo seu vice na época.
A Síndrome de Temer, se não for superada, será um grande obstáculo à formação da arrasadora cabeça d’água eleitoral, podendo até ser mais forte que qualquer estratégia dos representantes do fascismo bolsonarista.
*Cabeça d’água é o aumento rápido e repentino do nível de um rio corrente ou cheio, devido a chuvas nas cabeceiras ou em trechos mais altos de seu percurso. Pode ser definida como uma poderosa enchente.
Confira, a seguir, a foto da capa/legenda: Do Instagram do @lulaoficial: Plaza de Mayo lotada pra celebrar a democracia. Obrigado, Alberto Fernández (@alferdezok) e Cristina Kirchner (@cristinafkirchner) por esse momento histórico na nossa luta por uma América Latina mais justa e soberana. ✊🏼 📷 @ricardostuckert
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