A revelação, feita há alguns anos, de que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) conduziu um processo de vigilância em massa de milhões de norte-americanos reacendeu a discussão sobre as más condutas dos governos e suas violações dos direitos humanos e leis de privacidade.
Até recentemente, no entanto, Israel foi poupada das devidas críticas, não apenas por seus métodos ilegais de espionagem dos palestinos, mas também por ser o criador de muitas das tecnologias que agora estão sendo severamente criticadas por grupos de direitos humanos ao redor do mundo.
Mesmo no ápice de diversas controvérsias envolvendo vigilância governamental em 2013, Israel permaneceu nas margens, apesar do fato de que Tel Aviv, mais do qualquer outro governo no mundo, utiliza perfilamento racial, vigilância em massa e numerosas técnicas de espionagem para sustentar sua ocupação militar da Palestina.
Em Gaza, dois milhões de palestinos estão vivendo sob um bloqueio israelense. Eles estão cercados por muros, cercas elétricas, barreiras subterrâneas, navios da marinha e multidões de franco-atiradores. Dos céus, os tannaana, a gíria árabe que os palestinos usam para drones não tripulados, assistem e gravam a tudo. Por vezes esses drones armados são usados para explodir qualquer coisa tida como suspeita de uma perspectiva de “segurança” israelense. Ademais, todo palestino que deseja sair ou retornar para Gaza – e poucos têm esse privilégio – é sujeitado às mais severas medidas de “segurança”, envolvendo várias inteligências governamentais e verificações militares sem fim. Isso é aplicado tanto para uma criança palestina quanto para uma mulher com uma doença terminal.
Na Cisjordânia os “experimentos” de segurança israelense tomam muitas outras formas. Enquanto o objetivo israelense é confinar as pessoas em Gaza, sua intenção é controlar o cotidiano dos palestinos na Cisjordânia e na Jerusalém Oriental. Além do Muro do Apartheid de 1,660 quilômetros de comprimento na Cisjordânia, há muitos outros muros, cercas, trincheiras e vários outros tipos de barreiras que visam fragmentar as comunidades palestinas na Cisjordânia. Essas comunidades isoladas só estão conectadas por um elaborado sistema de postos de controle militar israelenses, muitos deles permanentes, além de outros que são erigidos ou desmantelados dependendo dos objetivos de “segurança” do dia.
Muita da vigilância ocorre diariamente nestes postos de controle israelenses. Enquanto Israel utiliza o conveniente termo de “segurança” para justificar suas práticas contra os palestinos, segurança verdadeiramente tem pouco a ver com o que acontece nesses postos de controle. Muitos palestinos morreram, muitas mães deram à luz ou perderam seus recém-nascidos enquanto esperavam pela liberação de segurança israelense. É um tormento diário, e os palestinos estão sujeitos a isso porque eles são participantes involuntários de um experimento israelense muito lucrativo.
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Felizmente, as notícias das práticas anti-democráticas de Israel estão se tornando cada vez mais conhecidas. No dia 8 de novembro, o Washington Post revelou uma operação de vigilância em massa israelense, que utiliza a tecnologia “Blue Wolf” para criar uma base de dados massiva de todos os palestinos.
Essa medida adicional dá aos soldados a chance de, usando suas próprias câmeras, tirarem fotos de quantos palestinos forem possíveis e “combiná-las a uma base de dados de imagens tão extensa que um ex-soldado descreveu-a como o ‘Facebook para palestinos’ secreto do Exército.”
Nós sabemos muito pouco sobre esse novo “Facebook para palestinos” além do que foi revelado nas notícias. No entanto, já é sabido que soldados israelenses competem para tirar mais fotos de faces palestinas, porque aqueles com o maior número de fotos poderiam potencialmente receber certas recompensas, cuja natureza permanece incerta.
Enquanto a história da “Blue Wolf” está recebendo alguma atenção na mídia internacional, ela não é novidade alguma aos palestinos. Ser um palestino vivendo sob ocupação é carregar múltiplas permissões e cartões magnéticos, passar por várias autorizações, ter uma foto sua tirada regularmente, ter seus movimentos monitorados, estar pronto para responder qualquer questão sobre seus amigos, sua família, colegas de trabalho e conhecidos. Quando isso não for prático porque, digamos, você vive sob cerco em Gaza, então o trabalho é confiado a drones não tripulados que escaneiam céu, terra e mar.
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