O desmatamento em terras indígenas no Cerrado em Mato Grosso mais que dobrou entre agosto de 2020 e julho de 2021, segundo levantamento divulgado pelo Instituto Centro de Vida (ICV). Foram 17 km² desmatados, enquanto no ano anterior foram 8 km². A área mais afetada foi a terra indígena Sangradouro/Volta Grande, habitada pelas etnias Bororo e Xavante, localizada entre os municípios de Poxoréu e General Carneiro, na região sul do estado. Apesar do aumento do desmatamento, as terras indígenas continuam entre as áreas mais preservadas do bioma, concentrando cerca de 2% do desmatamento do Cerrado registrado no ano em Mato Grosso.

O desmatamento realizado em propriedades rurais foi de 681 km², sendo a maior parte, 581 km², em imóveis inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR), e outros 100 km² em áreas não cadastradas. O desmatamento registrado em assentamentos foi de 101 km².

“A destruição do Cerrado no estado continua associada a práticas ilegais. Do total mapeado em 2021, apenas 16% foi realizado em áreas com autorizações para desmate ou para supressão de vegetação válidas emitidas pelo órgão ambiental estadual”, afirma o relatório do ICV.

O levantamento mostrou que 70% do desmatamento ilegal do Cerrado feito em imóveis rurais se concentrou em apenas 300 imóveis, o que representa menos de 1% do total de imóveis no Cerrado mato-grossense. A concentração do desmatamento em determinadas propriedades pode estar associada à concentração da propriedade da terra. Do desmatamento ilegal detectado em imóveis rurais cadastrados, 51% se concentrou em grandes imóveis, com mais de 1.500 hectares, seguido dos imóveis médios, que possuem entre 400 e 1.500 hectares (31%).

Mato Grosso foi o quinto estado que mais destruiu o Cerrado no período, sendo responsável por quase 10% de todo o desmatamento detectado, que corresponde a 803 km². Quando comparado ao ano anterior, esse valor representa um aumento de 4% na taxa de desmatamento.

Desmatamento em fazendas de soja

Dos mais de 2,5 milhões de hectares de vegetação nativa da Amazônia e do Cerrado perdidos nos últimos 11 anos em Mato Grosso, 500 mil hectares foram registrados em fazendas de soja, segundo o ICV. Desse total, 92% foi realizado de forma ilegal, ou seja, sem autorização dos órgãos ambientais.

Novamente, a concentração da destruição ambiental associada à concentração da propriedade da terra fica evidente: apenas 176 imóveis foram responsáveis por mais da metade de todo o desmatamento ilegal em fazendas de soja em Mato Grosso. Desses, a maior parte (85%) são grandes imóveis, com área superior a 1,5 mil hectares.

O Cerrado segue como bioma mais ameaçado e mais afetado pelo desmatamento promovido pelo agronegócio: o desmatamento nas fazendas de soja localizadas no Cerrado foi quase o dobro (307,6 mil hectares) do registrado na Amazônia, que somou 159,6 mil hectares.

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