A prisão-relâmpago do ex-Ministro da Educação Milton Ribeiro foi em geral recebida, ao menos a julgar pelos registros da grande mídia, com aprovação ou anuência, tais as reações de surpresa, escândalo e revolta provocadas pela revelação, semanas ou meses atrás, dos negócios sujos com dois pastores evangélicos supostamente recomendados por Bolsonaro.
Surpresa, quando se tornarem públicos esses negócios, porque já não parecia possível ousarem coisas ainda piores depois das negociatas reveladas pela CPI da Covid. O governo – pode-se perguntar – não tomou cuidado depois delas para poupar Bolsonaro das perdas eleitorais decorrentes desses negócios? E o próprio Bolsonaro não se deu conta de que ao recomendar os dois pastores expunha-se (e também expunha sua reeleição) ao risco de a recomendação ser revelada?
Agora sabemos que, mesmo depois de confessadas as malandragens que a CPI descobriu no Ministério da Saúde no caso das vacinas, novas imprudências e malandragens aconteceram no Ministério da Educação, com o pedido de propinas pré-pagas e pós-pagas feito pelos tais pastores.
Daí a surpresa, acrescida de decepção, ao se confirmar que no governo Bolsonaro sempre pode acontecer alguma coisa pior que a anterior. Daí o escândalo, daí a revolta, daí a aprovação geral ou ao menos a anuência com que a prisão foi recebida. Maiores surpresas, porém, viriam depois.
O ex-ministro recebe uma ligação da filha e, sem se certificar de que ela estivesse num celular “seguro”, conta ter recebido um telefonema de Bolsonaro, avisando-o de que pode acontecer uma busca e apreensão em sua casa. Quando ela diz que está falando de um telefone “normal”, o pai muda de assunto e logo se despedem.
Antes de se tornar pública essa conversa, sabia-se que o delegado da Polícia Federal encarregado do caso, e autor do pedido de prisão do ex-Ministro, reclamara de interferências de autoridade superior no inquérito, e a conversa entre pai e filha deixou claro que era Bolsonaro essa autoridade.
A partir desses fatos, o caso do ex-ministro fatalmente precipitaria e precipitará outros acontecimentos. Confirmando o que ele contou à filha, sua mulher, em telefonema a um parente, disse saber da iminente busca e apreensão. Ou seja, a imprudência na família era generalizada e não adiantou Bolsonaro garantir-se contra uma delação premiada do ex-Ministro, providenciando logo sua libertação em troca de silêncio, porque ele entregou espontaneamente e a troco de nada uma informação que pode custar o futuro de Bolsonaro.
Independente do que já possa ter acontecido e do que ainda venha a acontecer, esse triste episódio encerra outro fato a ser observado.
Em contraste com a geral concordância à ordem de prisão, Lula discordou dela e protestou. Para ele a prisão foi prematura e se antecipava à existência de provas conhecidas contra o ex-Ministro. Com certeza Lula via na pressa da PF uma inconfessada nostalgia dos tempos da Lava Jato e uma possível reedição do que ele próprio sofreu desde sua condução coercitiva em março de 2016.
De fato, não foi da prisão que resultou o que se conseguiu em matéria de prova nesse caso: foi da escuta, esperemos que autorizada judicialmente, dos celulares do ex-Ministro e de seus próximos. Em favor do pedido de prisão, não endossado pelo Ministério Público, mas deferido pelo juiz, a PF argumentava com a necessidade de evitar a destruição de provas – destruição que pode ter acontecido, se é que não aconteceu, graças ao telefonema de Bolsonaro ao ex-Ministro.
O protesto de Lula adverte-nos para um cuidado que precisamos ter: a investigação do que acontece de abuso, de ilegalidade, de violência e de safadeza no governo Bolsonaro não pode converter-se numa vingança, numa revanche, numa Lava Jato ao contrário.
Os abusos, as ilegalidades, as violências e até a safadeza da Lava Jato (lembram-se da famosa fundação com milhões da Petrobrás?) é que nos levaram ao que acontece nos dias de hoje.
(*) José Augusto Ribeiro – Jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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