Esse é o segundo episódio que ocorre contra o povo em menos de um mês. Segundo lideranças, a suspeita é de que o incêndio tenha sido criminoso
“Esse é o segundo episódio que ocorre contra o povo Mbya Guarani em menos de um mês”.
O povo Mbya Guarani, da comunidade Tenondé, localizada no município de Camaquã, no Rio Grande do Sul (RS), foi surpreendido nessa quarta-feira (24) por um incêndio que consumiu duas casas de indígenas que moram no local. Uma casa de reza – Opy, assim chamada por esse povo – quase foi atingida também, mas os próprios indígenas conseguiram protegê-la do fogo até a chegada dos bombeiros.
Esse é o segundo episódio que ocorre contra o povo Mbya Guarani em menos de um mês. O outro caso ocorreu a madrugada do dia 14 de novembro, na aldeia Pindó Mirim, na Terra Indígena (TI) Itapuã, em Viamão (RS).
Segundo lideranças, a suspeita é de que o incêndio tenha sido criminoso, pois esse já é o terceiro caso na mesma área. O momento inicial das chamas não foi visto, pois parte do povo estava em um açude distante da aldeia.
“Ninguém ficou ferido, mas os pertences das famílias foram consumidos pelo incêndio”
Ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi), uma das lideranças disse que, desta vez, ninguém ficou ferido, mas houve perda de bens materiais que estavam dentro das casas.
“Está queimando tudo e a gente não consegue controlar. O vento está forte e as chamas já estão muito altas. Ninguém ficou ferido, mas os pertences das famílias foram consumidos pelo incêndio”, afirmou. Segundo os indígenas, os bombeiros ajudaram a controlar o fogo.
Para Roberto Liebgott, coordenador do Cimi Regional Sul, caso o episódio tenha sido realmente criminoso, atribui-se aos crimes de ódio e racismo, “já que na região não há nenhum litígio sobre a área de Tenondé”.
O coordenador explica que, em 2012, o Departamento Nacional de Infraestrutura e de Transportes (DNIT) criou uma iniciativa para atender as famílias do povo Mbay Guarani após a duplicação da BR-116. “Foi criado um programa que previu uma série de atividades permanentes, porque essas comunidades viviam acampadas nas margens da BR-116. Com a duplicação, elas foram impactadas. Então o DNIT comprou áreas de terra para assentar essas famílias”.
“Essa é uma área adquirida por meio desse programa. Não há nenhum litígio fundiário, o que nos faz concluir que esses crimes sejam motivados por intolerância contra os indígenas”, aponta Roberto.
Ainda segundo o coordenador, já foram acionados os órgãos públicos responsáveis pelas causas indígenas: o Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Nacional do Índio (Funai).
“Não há nenhum litígio fundiário, o que nos faz concluir que esses crimes sejam motivados por intolerância contra os indígenas”
“Agora, os órgãos devem identificar a origem dos incêndios. Se forem criminosos, que os responsáveis por essas práticas sejam responsabilizados civil e criminalmente. Civil para a reparação dos danos materiais e morais causados. E, criminalmente, pela prática de crime do incêndio, motivadas por racismo e ódio. Nossa solidariedade aos Mbya Guarani no enfrentamento a mais esse caso de violência”, concluiu.
Foto da capa/Legenda: Incêndio criminoso na aldeia Pindó Mirim, Terra Indígena Itapuã, em Viamão, no Rio Grande do Sul. Foto: Povo Mbya Guarani
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