Publicidade

Carta Aberta sobre assassinato de Bruno e Dom Phillips denuncia total insegurança na AM

  • em



Neste governo, outros Brunos e outros Doms podem surgir a qualquer momento durante este governo

 

Servidores públicos da Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) e das Frentes de Proteção Etnoambiental (FPE), unidades da Fundação Nacional do Índio (Funai) dedicadas à proteção e promoção dos direitos dessa população indígena em específico, que atuam em todo o território da Amazônia Legal brasileira, divulgaram, nesta segunda-feira (20), uma Carta Aberta sobre o crime brutal que tirou a vida do indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira do jornalista britânico Dominic Mark Phillips (Dom Phillips) dia 15 de junho.

 

Na carta, eles reconhecem o trabalho do indigenista Bruno Pereira. “Reconhecimento junto aos povos originários do Vale do Javari, os Kanamari, Tsohom Djapá, Korubo, Kulina, Marubo, Matis, Matsés, além de tantos outros com os quais atuou de perto ao longo de sua trajetória, Bruno tornou-se referência obrigatória no indigenismo, em que devem refletir-se todos aqueles encarregados da nobre e dificultada missão institucional de proteger e promover os direitos desses povos – histórica e presentemente marginalizados e invisibilizados em sua enorme e diversa contribuição à sociedade”, escrevem.

 

No documento, denunciam a política de exterminíno de indígenas, indigenistas e outros defensores das terras e dos povos originários da Amazônia do governo Jair Bolsonaro (PL) e dos políticos envolvidos com o tráfico de gente, de armas, de drogas, de biodiversidade, com pescaria e garimpagem ilegais, bem com com grilagem em Terras Indígenas (TI).  Num dos trechos da carta, os servidores expressam solidariedade e apoio aos servidores que, com indignação e inconformidade se mobilizam para reestruturar e fortalecer o órgão que, neste governo, tem sido, diuturnamente, desmontado.

 

“Diuturnamente os servidores desta Fundação expõem-se aos mesmos riscos que correram Bruno e Dom, em condições precárias de trabalho, vulneráveis, sem adicionais e indenizações previstos em lei e sem o devido poder de polícia regulamentado, embora previsto em Estatuto (Decreto nº 9.010/17). Também seu quadro de pessoal encontra-se inteiramente defasado, fazendo-se urgentes novos concursos para provimento de servidores efetivos. Deve-se reconhecer, sem peias, que o órgão está à míngua.

 

Exigimos, portanto, o fortalecimento das políticas públicas indigenistas, ambientais e de segurança em todo o bioma amazônico. A sociedade brasileira não pode condescender com a destruição em curso desse patrimônio nacional e da humanidade, berço e território de tantos povos originários, maior reserva de biodiversidade do planeta e fundamental para a sua regulação climática. Destruição irrazoável e suicida que apenas favorece a criminalidade e uma economia clandestina, sem gerar desenvolvimento social e econômico minimamente relevantes.

 

São inteiramente inaceitáveis as cotidianas mortes de defensores do meio ambiente e dos direitos humanos em todo o país. São inteiramente inaceitáveis as cotidianas mortes de indígenas e suas lideranças que lutam pela sobrevivência e o respeito aos direitos mais básicos”, denunciam os servidores.

 

 

A carta é assinada pelas servidoras e servidores da CGIIRC, FPE Awá, FPE Cuminapanema, FPE Envira, FPE Guaporé, FPE Madeira-Purus, FPE Madeirinha-Juruena, FPE Médio Xingu, FPE Uru-Eu-Wau-Wau, FPE Vale do Javari, FPE Waimiri-Atroari e FPE Yanomami e Ye’kwana. Confira, a carta na íntegra.


 

 

Carta Aberta das servidoras e servidores da CGIIRC* e FPEs* pelo odioso assassinato de Bruno e Dom

 

“Ainda é cedo amor, Mal começaste […]

Já anuncias a hora de partida”

 

(Cartola. O Mundo é um Moinho)

 

É com o coração dilacerado que os servidores da CGIIRC* e FPEs* vimos a público manifestar nossa profunda consternação e revolta com o bárbaro assassinato do servidor licenciado da Funai Bruno da Cunha Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, confirmado na quarta-feira, 15, pelas autoridades policiais envolvidas na sua investigação.

 

 

Bruno Pereira dedicou integralmente sua vida à defesa dos povos indígenas. Nessa luta, sucumbiu por obra daqueles que atentam todos os dias contra a vida, os direitos e o território desses povos, patrocinados por discursos oficiais e pelo desmonte e fragilização das instituições públicas responsáveis pela garantia da legalidade, da segurança, soberania nacional, fiscalização ambiental e respeito aos direitos constitucionais assegurados aos povos originários deste país.

 

 

Faltam palavras para descrever o valor e comprometimento de Bruno Pereira, servidor exemplar da Funai que serviu como Coordenador-Geral desta CGIIRC entre 2018 e 2019, além de ter atuado por anos como Coordenador Regional do Vale do Javari.

 

 

Com sua vasta experiência, conhecimento e reconhecimento junto aos povos originários do Vale do Javari, os Kanamari, Tsohom Djapá, Korubo, Kulina, Marubo, Matis, Matsés, além de tantos outros com os quais atuou de perto ao longo de sua trajetória, Bruno tornou-se referência obrigatória no indigenismo, em que devem refletir-se todos aqueles encarregados da nobre e dificultada missão institucional de proteger e promover os direitos desses povos – histórica e presentemente marginalizados e invisibilizados em sua enorme e diversa contribuição à sociedade.

 

 

Manifestamos, assim, profundo respeito e reconhecimento ao trabalho desenvolvido pela Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) e por todas as associações de base que integram o movimento indígena do VJ na proteção de seu território tradicional. Ressaltamos também o desempenho e auto-sacrifício de tantos voluntários indígenas, da equipe da FPE Vale do Javari (indígena e não-indígena) e da Univaja nas incessantes buscas pelos desaparecidos. Trabalhando em estreita cooperação e utilizando-se de uma metodologia diferenciada, a partir de conhecimentos tradicionais e uma expertise prática, foram esses atores os responsáveis pelo achamento de diversos vestígios e indícios determinantes para a investigação. Merecem por isso papel de destaque na elucidação inicial desse crime intolerável. Resta agora às autoridades policiais o seu integral e devido desfecho e satisfação à sociedade.

 

 

Prestamos, ainda, reconhecimento e solidariedade aos colegas servidores da Funai que,      com          justa   indignação               e    inconformidade, mobilizam-se pela reestruturação e fortalecimento deste órgão cuja debilidade sem dúvida compõe as condições que permitiram o nefasto acontecimento. Diuturnamente os servidores desta Fundação expõem-se aos mesmos riscos que correram Bruno e Dom, em condições precárias de trabalho, vulneráveis, sem adicionais e indenizações previstos em lei e sem o devido poder de polícia regulamentado, embora previsto em Estatuto (Decreto nº 9.010/17). Também seu quadro de pessoal encontra-se inteiramente defasado, fazendo-se urgentes novos concursos para provimento de servidores efetivos. Deve-se reconhecer, sem peias, que o órgão está à míngua.

 

 

Exigimos, portanto, o fortalecimento das políticas públicas indigenistas, ambientais e de segurança em todo o bioma amazônico. A sociedade brasileira não pode condescender com a destruição em curso desse patrimônio nacional e da humanidade, berço e território de tantos povos originários, maior reserva de biodiversidade do planeta e fundamental para a sua regulação climática. Destruição irrazoável e suicida que apenas favorece a criminalidade e uma economia clandestina, sem gerar desenvolvimento social e econômico minimamente relevantes.

 

 

São inteiramente inaceitáveis as cotidianas mortes de defensores do meio ambiente e dos direitos humanos em todo o país. São inteiramente inaceitáveis as cotidianas mortes de indígenas e suas lideranças que lutam pela sobrevivência e o respeito aos direitos mais básicos.

 

 

Exigimos a elucidação completa do assassinato de Bruno e Dom, suas motivações, mandantes e cúmplices. Exigimos a responsabilização de todos os envolvidos de alguma forma nesse crime hediondo, com todo o rigor da lei. Ninguém atenta contra a vida de um servidor do Estado brasileiro e um cidadão estrangeiro por questões menores, sem confiar na impunidade e contar com uma rede de apoio criminosa que lhe dê respaldo e, muito provavelmente, a ordem.

 

 

Há menos de três anos, o indigenista Maxciel Pereira dos Santos, ex-servidor e então colaborador da Funai foi assassinado à queima-roupa, à luz do dia, na rua mais movimentada de Tabatinga-AM e, pior, ao lado de sua esposa e enteada sem que tenha havido até hoje a elucidação do caso e responsabilização dos envolvidos. Exigimos, assim, igualmente respostas institucionais pelo assassinato de Maxciel.

 

 

Bruno vive na memória dos privilegiados que o conheceram e seguirá como exemplo de conduta, de pessoa, de servidor público. Todos os seus colegas herdamos e aprendemos com seu desprendimento e completa dedicação ao trabalho e à luta compartilhada com os povos indígenas. Bruno foi em vida um gigante, força da natureza. Restará, após a heróica passagem, como chama viva no coração de quem luta a luta correta.

 

 

Estendemos a toda a família e especialmente à mãe, esposa, filha, filhos e irmãos do Bruno nossa mais profunda comiseração. Choramos juntos essa perda irreparável e incomensurável.

 

 

Estendemos também à esposa e demais familiares de Dom Phillips nossa dor pela partida antecipada de tão valioso ser humano, como testemunha tanta gente que o conheceu e queria tão bem. A causa a que se dedicava com rara qualidade une a todos que aqui assinam e a todos que almejam um futuro melhor para o planeta, a humanidade e todos os seres que o habitam.

 

 

JUSTIÇA POR DOM E BRUNO!!!

 

Brasília, 20 de junho de 2022

 

Assinam as servidoras e

servidores da

CGIIRC, FPE Awá,

FPE Cuminapanema,

FPE Envira, FPE Guaporé,

FPE Madeira-Purus, FPE Madeirinha-Juruena, FPE Médio Xingu,

FPE Uru-Eu-Wau-Wau, FPE Vale do Javari,

FPE Waimiri-Atroari e FPE Yanomami e Ye’kwana.

 

 

Em memória de Bruno e seu legado, seguem registros de luta e amor.

 

Cercado pelos Korubo da Aldeia Talaoka no Rio Ituí, 2017
Cercado pelos Korubo da Aldeia Talaoka no Rio Ituí, 2017

 

Maio de 2013. Reunião da “Rede 8” – CRs Alto Purus, Juruá, Vale do Javari e Alto Solimões e CFPEs Envira e Vale do Javari –, na sede da CR Juruá em Cruzeiro do Sul/AC
Maio de 2013. Reunião da “Rede 8” – CRs Alto Purus, Juruá, Vale do Javari e Alto Solimões e CFPEs Envira e Vale do Javari –, na sede da CR Juruá em Cruzeiro do Sul/AC

 

 

Encontro dos Coordenadores das Frentes de Proteção Etnoambiental em Brasília, 2018
Encontro dos Coordenadores das Frentes de Proteção Etnoambiental em Brasília, 2018

 

Confraternização com os Coordenadores de Frente de Proteção Etnoambiental em Brasília, 2018
Confraternização com os Coordenadores de Frente de Proteção Etnoambiental em Brasília, 2018

 

Cercado pelos Korubo da aldeia Mário Brasil no Rio Ituí, 2017
Cercado pelos Korubo da aldeia Mário Brasil no Rio Ituí, 2017

 

 

O Jornal Brasil Popular também quer saber quem mandou matar Bruno Pereira e Dom Phillips. Foto da capa/legenda: Indigenista Bruno Pereira cercado pelos Korubo da Aldeia Talaoka no Rio Ituí, 2017. Foto: Arquivo CGIIRC e FPE

 




SEJA UM AMIGO DO JORNAL BRASIL POPULAR

 

Jornal Brasil Popular apresenta fatos e acontecimentos da conjuntura brasileira a partir de uma visão baseada nos princípios éticos humanitários, defende as conquistas populares, a democracia, a justiça social, a soberania, o Estado nacional desenvolvido, proprietário de suas riquezas e distribuição de renda a sua população. Busca divulgar a notícia verdadeira, que fortalece a consciência nacional em torno de um projeto de nação independente e soberana.  Você pode nos ajudar aqui:

 

• Banco do Brasil
Agência: 2901-7
Conta corrente: 41129-9

• BRB

 

Agência: 105
Conta corrente: 105-031566-6 e pelo

• PIX: 23.147.573.0001-48
Associação do Jornal Brasil Popular – CNPJ 23147573.0001-48

 

E pode seguir, curtir e compartilhar nossas redes aqui:

📷 https://www.instagram.com/jornalbrasilpopular/

🎞️ https://youtube.com/channel/UCc1mRmPhp-4zKKHEZlgrzMg

📱 https://www.facebook.com/jbrasilpopular/

💻 https://www.brasilpopular.com/

📰🇧🇷BRASIL POPULAR, um jornal que abraça grandes causas! Do tamanho do Brasil e do nosso povo!

🔊 💻📱Ajude a propagar as notícias certas => JORNAL BRASIL POPULAR 📰🇧🇷

Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.

  • Compartilhe

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com