Enquanto seus filhos pareciam mais sossegados, talvez à espera da decisão judicial que blindou o Senador Flavio no caso das “rachadinhas”, Bolsonaro dá a impressão de que resolveu recrudescer, voltando a fazer declarações sempre desagradáveis, sempre agressivas, sempre dominadas pelo ressentimento, para satisfazer a bolha de seus fãs mais viciados no discurso do ódio com o qual ele se elegeu e espera reeleger-se.
Ele tem tido o cuidado de não agredir o Supremo, nem dizer nada que possa caracterizar a pregação direta do golpe, mas quase chegou perto disso nos últimos dias a falar mais uma vez sobre o conteúdo das provas do Enem deste ano.
Isso aconteceu na quarta-feira. Na quinta, outra manifestação sua no cercadinho do Palácio da Alvorada revelou um Bolsonaro muito carente, política e emocionalmente, depois da recepção a Lula, com honras de chefe de Estado, no Palácio do Eliseu, em Paris, em seu encontro com o Presidente da França, Emmanuel Macron.
Bolsonaro, infantilmente, considerou uma provocação a ele próprio e seu governo a recepção a Lula e assim passou recibo do fato de que recepção idêntica não acontecerá com ele. Mas o que, afinal, Bolsonaro poderia esperar de Macron, depois das grosserias que cometeu, inclusive, infantil de novo e cafajeste como sempre, ao fazer ironia com a idade da sra. Macron?
A cena de ciúme da quarta-feira explica o estado de espírito de decepção e frustração de Bolsonaro ao dizer, na quinta-feira, que gostaria de poder intervir no conteúdo das provas do Enem, para incluir nelas alguma coisa sobre o “regime militar”, na verdade sobre a golpe de 1964, a fim de zerar a narrativa sobre esse regime.
Bolsonaro gostaria de ver reescrita a história do golpe e dos vinte anos seguintes de governos militares de modo a exaltá-los em todos os sentidos e esconder fatos, circunstâncias e episódios hoje perfeitamente documentados, sobre a prática da repressão política, das torturas e dos assassinatos nos piores anos daquele período.
Ele esquece, porém, ou não percebe, que não chegaria até onde chegou se tivesse feito durante o regime militar aquilo que fez no governo civil nos anos 80 e que provocou sua saída do Exército.
No governo civil de Sarney, Bolsonaro foi simplesmente afastado e teve arquivado o inquérito que o incriminava depois de seu plano de promover atentados a bomba para intimidar o governo e conseguir aumentos de soldo para os militares. Afastado do Exército sem qualquer punição formal, Bolsonaro pôde tornar-se vereador no Rio e depois deputado por 28 anos, até ser catapultado pela Lava Jato à Presidência da República.
Se sua campanha terrorista tivesse acontecido nos tempos do governo militar, Bolsonaro não seria poupado de um IPM, de um processo-crime na Justiça Militar e certamente de uma cassação pelo AI-5 – e aí, adeus à carreira política. Como tantos outros cassados, ele teria de recomeçar a vida vendendo enciclopédias a prestação.
A condescendência com que as autoridades militares o trataram no regime civil que ele despreza não configurava necessariamente cumplicidade com suas culpas, apenas se enquadrava no perfil baixo, discreto e de quase invisibilidade em que os três ministérios militares de então queriam manter os efetivos das Forças Armadas na transição para a hegemonia do poder civil. Quanto menos os militares fossem notícia, melhor para eles e para o país.
Bolsonaro, então, deixou de ser notícia pelos atentados a bomba que planejara e não chegou a ser notícia como vereador. Como deputado, em seguida, sua obsessão verbal eram os valores da família, como ele os concebia. Na década de 1990, tive a oportunidade de entrevistá-lo num programa de televisão e verifiquei que sua única preocupação política eram as novelas da TV-Globo, pelas cenas imorais que, segundo ele, elas mostravam.
Ainda hoje, seus referenciais são os mesmos – ele vai passar o resto da vida reclamando e ressentido por não lhe fazerem justiça nem ao passado que ele fantasia.
(*) José Augusto Ribeiro – Jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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