A Márcia é manicure, tem 4 filhos e veio de Piranhas, Alagoas, para morar na periferia do Distrito Federal. Nos últimos cinco anos, a família encontrou dificuldade para trabalhar na cidade nordestina: “Antes de vir pra cá, tava difícil, agora está melhor porque aqui (em Brasília) tem mais emprego”.
É notável a piora dos indicadores de desigualdade social no Brasil de 2015 pra cá. Para o economista Júlio Miragaya, a crise econômica e o aumento do desemprego pioraram com as reformas liberais – em especial a trabalhista, ainda em 2017 e a previdenciária, em 2019. E a tendência não é favorável, na opinião dele: “se agravará com a pandemia e o desgoverno Bolsonaro, pois o desemprego e o trabalho precário aumentaram assim como a inflação”.
A situação no estado de Goiás é a mesma do restante do país. A presença forte do agronegócio tende a piorar a desigualdade social, já que o setor gera muita riqueza concentrada, e emprega pouca mão-de-obra. Mesmo ao analisar os indicadores antes da pandemia, é notável a carga social e econômica sobre a população goiana.
É de janeiro de 2018 um estudo da SEGPLAN, a secretaria estadual de Gestão e Planejamento de Goiás, que retratou a vulnerabilidade social dos municípios goianos. Diante da realidade diversa do estado, os municípios são apresentados em 5 grupos diferentes, a partir da análise de 68 variáveis, “de acordo com as características que essas buscam medir, quais sejam: demografia, educação, concentração de renda, mercado de trabalho e estrutura dos domicílios”.
A maioria dos municípios da região metropolitana integram o grupo 4, marcado pela baixa perspectiva educacional e boa empregabilidade. Por estarem perto do Distrito Federal, as oportunidades de trabalho são maiores quando comparada ao restante do estado. Mas um indicador interessante é o baixo percentual de trabalhadores no setor público, “indício da baixa oferta de serviços públicos e que causa algumas das vulnerabilidades verificadas neste grupo”, diz o estudo da SEGPLAN.
Outro dado negativo apontado sobre a população da região do Entorno do DF é a menor expectativa de estudo da população. E mais uma realidade desfavorável: o alto “percentual de mulheres chefes de família sem o ensino fundamental completo e com filhos menores que 15 anos”. Com isso, “A responsabilidade de criar filhos e ser a provedora do lar dificulta muito a valorização do capital humano por parte destas mulheres”.
Por fim, a região tem o maior número de pessoas vulneráveis à pobreza e que levam mais de uma hora para chegar ao trabalho, o que é sinal de regiões periféricas dos grandes centros.
Com a pandemia, a situação ficou pior para as populações empobrecidas. A atividade econômica está ainda mais enfraquecida, o que fez aumentar o desemprego e os empregos pouco qualificados e de baixa remuneração, como alertou o economista Júlio Miragaya.
Caso o governo federal não atue para criar oportunidades de emprego, assim como políticas públicas de transferência de renda e de combate à inflação e à alta dos preços, chegaremos ainda mais ao fundo do poço.
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