Estrategista sem igual, comparável apenas a Getúlio Vargas, Lula está sabendo conduzir o seu governo nos mares revoltos da política nacional e da geopolítica internacional.
Enfrenta o seu principal inimigo imediato, o fascismo bolsonarista, com a arma da legalidade democrática e do respeito à Constituição. A extrema-direita bolsonarista sofreu o poderoso golpe da derrota eleitoral, mas ainda não foi a nocaute. Ela consegue sobreviver se alimentando da tolerância reacionária da maioria neoliberal do Congresso, mais na Câmara do que no Senado.
Lula sabe que por trás de Lira, um aliado circunstancial contra Bolsonaro, persiste um inimigo em potencial. É uma situação resultante da correlação de forças eleitorais, quando a maioria do povo votou em Lula para presidente mas não na mesma medida em deputados e senadores do campo progressista.
A única maneira de Lula derrotar – bem derrotada – a ameaça da volta do fascismo ou de um novo golpe é fazendo a economia do país crescer, gerando emprego e mercado interno de massas. Para avançar nesse caminho é preciso derrotar mais um inimigo da democracia: o presidente do Banco Central, o bolsonarista Campos Neto, que usa a “independência” desse banco para sabotar o crescimento da economia com apoio da grande mídia e de cada vez menos setores do mercado financeiro!
Com sua acuidade estratégica, Lula usa o grande peso do Brasil na questão ambiental para se aproximar da Europa e dos EUA, mas também defende a neutralidade do Brasil quanto à guerra na Ucrania. Assim, poderá aproveitar melhor as oportunidades criadas pelo mundo multipolar que vem sendo gradualmente criado no rastro dessa guerra… uma guerra que está causando o enfraquecimento da hegemonia americana no sul global! Disso também decorre o protagonismo do Brasil em relação à retomada da integração latino-americana e ao fortalecimento do Mercosul.
A coluna vertebral do projeto nacional de Lula é a reindustrialização do país, para tirá-lo desse retrocesso histórico que representa a sua volta ao antigo Brasil agrário e à condição de mero exportador de produtos primários que era antes da revolução de 30.
A reindustrialização sobre novas bases, a partir da tecnologia avançada da transição energética e da economia verde – da qual temos experiência e para a qual, muito potencial – será estimulada pelos investimentos públicos e parcerias público-privadas, assim como também será apoiada no mercado interno de massas, criado e realimentado pela geração de empregos e de políticas de inclusão social.
Esses são os contornos gerais do projeto nacional que o grande estrategista Lula está desenhando em meio ao fogo de seus inimigos e também de seus falsos amigos. Ao PT, às esquerdas e movimentos sociais em geral, cabem o trabalho de fortalecimento de sua unidade combativa e, principalmente, a tarefa suprema de conscientizar e organizar a base popular para apoiar Lula e protegê-lo contra qualquer outra tentativa de golpe, como adoram fazer as forças da direita.
Mas assim é a vida política de quem quer mudar uma realidade multissecular socialmente injusta, conservadora e reacionária.
(*) Por Val Carvalho, escritor e militante de esquerda.
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