Para entendermos a lógica do Racismo Estrutural, na sociedade brasileira, não precisamos ir muito longe. Nas nossas reflexões, basta avaliarmos a vivência diária dos afrodescendentes, onde podemos perceber o quanto dói viver em um país onde o ser negro e negra torna-se sinônimo de “perigoso” ou “complicado”.
Sou mulher negra, nordestina e me considero também indígena! Ainda criança, já sofria as consequências do fato de ter uma pele da cor “diferente”. Eu era taxada como a “nega do cabelo duro”. Esse tipo de situação, me levou, por muitas vezes, a questionar o por que Deus tinha sido tão cruel comigo? Porque me fez uma criança que era odiada por ser negra e “FEIA”? E essa situação me levou a não ser aceita entre os colegas de escola!
Mas, infelizmente, essa criança pôde; ao longo do seu duro processo de amadurecimento; perceber que tudo que vivia não era particularidade sua, e que tudo aquilo fazia parte da história da maioria dos negros e negras desse país.
Buscando entender o meu papel na sociedade, encontrei nos movimentos pastoral e estudantil, duas formas de vida: exercer a liderança, que existia muito forte dentro de mim, e também poder falar daquilo que achava injusto, a partir da minha realidade.
Na Pastoral da Juventude do meio popular, vivi o processo de descobertas, como cristã, e na participação nas lutas cotidianas do povo nordestino, tão sofrido!
Renasci nos movimentos da igreja libertadora, que tinha e tem em Jesus Cristo, um revolucionário e foi através do Cristo libertador que me apaixonei pelas missões da igreja, travando grandes lutas, por toda a minha vida, lutas internas e externas. E não foram poucas!
Ser protagonista de uma história, defender o seu lugar e conquistar seu espaço é muito árduo quando se é preta, principalmente quando somos mulheres!
Digo que me chamo resistência. Resisti para viver numa sociedade patriarcal e matriarcal branca.
Sei que, por mais que faça, que se dedique, o preto ainda é visto somente como “um preto”. Ele não é visto e nem valorizado por suas qualidades! Somos lembrados quando somos números ou quando precisamos incluir as “cotas”! Vivemos numa solidão constante, nos recuamos porque a violência mental é dilaceradora! E submergir a agressão do olhar daqueles que estão nos espaços de poder é um ato de sobrevivência!
Sinto que ainda vivemos a “Escravidão”! O medo nos escraviza, porque ainda somos minorias nos espaços de decisão e no trabalho. E o lugar onde se fala que somos iguais, ainda somos desiguais!
Às vezes penso que falar de negros e negras, virou um certo modismo nos espaços de poder.
O Movimento Negro conquistou, a duras penas, a referência do mês da Consciência Negra, mas não temos muito a comemorar. As estatísticas são assustadoras! Dados mostram que na Capital Federal, “a cada dois dias, ao menos três pessoas são vítimas de injúria racial”, os negros e negras são 60% na capital.
É fato que tivemos algumas conquistas importantes, a exemplo, das cotas raciais nas universidades. Mas ainda é muito pouco diante de tantas disparidades e desigualdades.
Precisamos discutir, diariamente, o Racismo Estrutural, mas que tais discussões sejam de dentro para fora e não de fora para dentro. As ações devem ser efetivas, diante de tantos preconceitos que nós, povo negro, enfrentamos todos os dias.
O meu maior desejo é que, um dia, o “lugar de fala” não seja somente de fala, mas também de direito, direito à igualdade em todos os espaços, inclusive nos espaços de trabalho e decisão!
Senti meu coração, para fazer essa singela reflexão no mês da Consciência Negra!
(*) Por Silvânia Gomes, educadora popular, fundadora do Centro de Formação e Cultura Nação Zumbi, assessora voluntária em políticas públicas do Instituto Agostin Castejon, colaboradora do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (Cefep).
Foto da capa: Imagem de uma tela da série “Máscaras”, do artista plástico Ronaldo Ferreira, baiano de Salvador e radicado em Brasília-DF. Instagram @ronaldobatik
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