O professor de geografia, Sérgio Roth Pinto, 40 anos, que também era orientador educacional na escola Camilo Alves, no município de Esteio, no Rio Grande do Sul, morreu no dia 27 de fevereiro. Ele não tinha nenhuma comorbidade. A secretária de escola Liane Peletti, que trabalhava na EMEI Pedacinho do Céu, na mesma cidade, faleceu de Covid-19. A terceira morte decorrente do vírus foi no município de Imbé, no litoral norte, da professora da Escola Municipal Olavo Bilac, Patrícia Morais.
Por causa dessas mortes, a Justiça gaúcha suspendeu as aulas presenciais, nessa segunda-feira, 1º de março, por meio de uma liminar da juíza Rada Maria Metzger Kepes Zamam, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, enquanto durar a bandeira preta pelo modelo de Distanciamento Controlado, que significa alto risco de contaminação. A ação civil pública foi ajuizada pela Associação de Mães e Pais pela Democracia e o CPERS-Sindicato.
Com a decisão, as aulas presenciais nas escolas públicas e privadas não podem voltar na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental, como previsto pelo governo estadual. As escolas da rede estadual não devem reabrir no dia 8 de março. Segundo o despacho, “os números são, completamente, alarmantes e a previsão dos profissionais da saúde não é de diminuição dos contaminados em futuro próximo, mas de agravamento em todo o estado”, diz o texto da liminar.
“Venceu o bom senso e a preservação da vida”, destacou a presidente do CPERS-Sindicato, Helenir Aguiar Schürer. Segundo avaliação da entidade, ainda não foi possível “fazer um levantamento abrangente de quantos professores foram contaminados porque, quando as escolas abriram, ano passado, havia inconstância do processo todo. Abriram durante uma semana, depois, fecharam novamente devido à liminar e, quando, finalmente, a maior parte reabriu, eram tão poucos estudantes que poucos tiveram aula presencial”.
A morte de três professores em pleno exercício presencial do magistério por causa das complicações da Covid-19 expõe o risco de um retorno inseguro, sem vacinação em massa, às salas de aulas, sobretudo, das escolas públicas, cujo contingente de estudantes e trabalhadores da educação é muito maior do que o da iniciativa privada.
Outro estado que registrou mortes de professores por contatos em aulas presenciais foi em Santa Catarina. No dia 26 de fevereiro, faleceu também em razão da Covid-19, o professor Edemilson Conradi, da Escola de Educação Básica Paulo Blasi de Campos Novos. Ele tinha 48 anos e estava afastado das suas atividades presenciais por ser do grupo de risco.
Os estados da Região Sul estão como os demais de todo o País: na iminência de um colapso no sistema de saúde por causa da pandemia do novo coronavírus. Em razão do agravamento da pandemia, dois estados sulistas estão com os retornos às aulas presenciais suspensos: Rio Grande do Sul e Paraná. Santa Catarina ainda não tem decisão sobre o assunto, apesar das contaminações e mortes.
Em Blumenau, Santa Catarina, desde o retorno às aulas presenciais, 99 professores testaram positivo para a Covid-19. A Secretaria de Promoção da Saúde informou, nesta semana, que 140 estudantes também foram afastados por manterem contato com pessoas contaminadas e cinco deles são suspeitos de terem contraído o coronavírus.
O médico infectologista, Ronaldo Hallal avalia que seria muito inapropriado o retorno às aulas presenciais. “Não pode ser no pior momento da pandemia. Não pode ser, justamente, quando há superlotação e colapso no sistema de saúde. Não esqueçamos que as crianças pequenas serão levadas às escolas pelos adultos e idosos que podem ser portadores da doença e com os quais habitam”. Ele integra o Comitê da Covid-19 da Sociedade Riograndense de Infectologia.