Algumas ponderações importantes sobre a posse de Alexandre de Moraes hoje à noite: O país está nessa expectativa há mais de um ano. Pense: quantas vezes você leu a frase “Alexandre de Moraes, que assume a presidência do TSE em agosto de 2022 (…)”?
Isso por si só já é uma anomalia. Eu trabalhei nas eleições de 2014. Só fui descobrir quem era o presidente do TSE das eleições da Dilma em 2019 (o Toffoli). Essa informação, na época, era totalmente irrelevante para mim. Nas Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP), saber quem será o árbitro de uma eleição não é informação primordial. É informação extra. O que importa é a corrida eleitoral propriamente dita.
Pense: quem é o juiz eleitoral nos EUA? Na França? Na Inglaterra? No Japão? Na Argentina? Entendeu? Já o juiz eleitoral do Brasil é conhecido. No Brasil e no mundo.
Essa relevância de Alexandre de Moraes na corrida eleitoral tem outras consequências:
– As gestões Barroso e Fachin foram apagadas. Gente, passamos os últimos seis meses na expectativa da posse do Xandão, o Fachin era mera formalidade! O trabalho dele foi apagado, deletado, zerado, sumido. Todos os atos de Edson Fachin eram ponderados com “mas em agosto o Xandão assume”.
– A posse do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, no meio de um processo eleitoral, deve(ria) ser apenas formalidade. Sempre foi. Neste ano da graça de 2022, em meio a um processo artificialmente discursivo de desconfiança das urnas eletrônicas e da ação da própria justiça eleitoral, a posse do presidente do TSE virou “thetalkofthetown”. O assunto do dia.
Dois mil convites foram distribuídos, e todos os ex-presidentes vivos (à exceção do nonagenário FHC) confirmaram presença. O evento se tornou um dos mais disputados dos últimos anos na Capital Federal. O presidente da república no exercício do mandato não tem como não ir ao evento.
– Isso é genial: um evento que deveria ser mera formalidade virou um ato político, de apoio à justiça eleitoral. Quem vai ao evento vai apoiar e respaldar os trabalhos do TSE e de Xandão à frente da instituição. Se Bolsonaro for (e vai ter que ficar calado, a cerimônia prevê discurso de apenas dois ou três integrantes do próprio TSE), vai ouvir calado o discurso do Xandão, que vai ser ovacionado por, pelo menos, 400 pessoas (eu acredito que, depois da confirmação dos ex-presidentes, até pelo ineditismo de reunião de Dilma, Temer, Lula e Bolsonaro, o número de confirmados deve chegar perto de mil).
– Alexandre de Moraes chama para si e recebe em seu colo todo o peso da responsabilidade que o cargo e a conjuntura representam neste momento. E o faz com garbo e prazer. Não é um fardo para ele. Se Moraes está fazendo isso, já tem rascunhados todos os seus atos até outubro. Não duvidem disso.
Agora vamos para o STF, e vamos pensar em tudo o que Xandão vem fazendo com os inquéritos que preside há dois anos. Pense na relevância que o ministro adquiriu, dentro do Tribunal, nos últimos tempos. Pense na alteração da correlação de forças lá dentro. Pense nos nomes mais destacados do STF até 2020, e pense nos nomes do STF mais mencionados de 2020 pra cá. Para além de Xandão mais poderoso, pense em quem perdeu forças (Gilmar Mendes, que está ciumentíssimo porém ocupado com Nunes Marques), pense em quem tenta adquirir forças que não tem nem de onde puxar, pois isolados (Mendonça e Marques), e pensa em quem confere poderes a Xandão (Rosa e Carmen, Barroso, Toffoli e Fachin).
Temos Poderes Executivo e Legislativo que não sabem se movimentar politicamente (no sentido de fazer política e mover a máquina do sistema e do estado). Sobrou para o Judiciário “carregar o país nas costas”. E Xandão está à frente desse processo.
O que vai acontecer em 2023?
Como diz o Cunha, ao final dos episódios do Medo e Delírio em Brasília: “Que Deus tenha misericórdia desta nação ” (mas até o momento Ele não teve!)
E amanhã eu conto aqui procêistudo todos os sabores das tortas de climão oferecidas na posse do Xandão.
#PosseDoXandão #EuVou
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