A Salvação do Rio São Francisco por um sanfranciscano
por Joaquim Lisboa Neto (*) – Jornal Brasil Popular/BA em
[na ensolarada manhã do sábado 18-F, o sociólogo Cezar Lisboa lia em voz alta enquanto o locutor que vos fala deslizava os dedos pelo teclado do computer; deu no que se segue: excerto do livro… ↓]
Joaquim Antônio S. de Andrade – A Salvação do Rio São Francisco POR UM SANFRANCISCANO – BAHIA Oficinas Graphicas d’A Luva – Salvador – 1933 [páginas 18-22]
Encarando agora para o Rio Corrente, que, com o concurso dos Correntina [antigo Rio das Éguas], Arrojado, São José e outros, penetra no São Francisco, com sua valentia a uma légua além do Povoado Sítio do Mato e três léguas abaixo da Cidade da Lapa, ficamos com o espírito enlevado numa agradável sensação pelo capricho da sábia natureza.
Desde Sítio do Mato vê-se a listra verde-claro ao lado do listrão amarelo, que se estende à vista do viajante embevecido na contemplação do panorama que oferece a grande artéria majestosa, a qual o vapor há 60 anos sulca com suas rodas laterais, arrastando contra a correnteza um lanchão de 60 toneladas, e quando chega à embocadura do tributário entra familiarizado por uma tangente de águas cor de esmeralda, correndo entre uma floresta verde-escura para o lado oriental.
O vaporzinho parece avantajar a marcha, para que o passageiro curioso contemple mais depressa aquelas ribas sempre verdes; e só depois de vencer 12 léguas chega-se a Porto Novo, com suas casinhas graciosas e suas Agências de Correio e do Comércio de Santana dos Brejos.
Depois da necessária demora, larga-se âncoras para a Cidade de Santa Maria, que tem um comércio regular e suas oficinas de beneficiamento de algodão e fábrica de manteiga, por iniciativa do Cel. Clemente de Araújo, e grandes depósitos de rapadura.
Um cais decente e muitos melhoramentos feitos pelo atual Prefeito Dr. Cotias, um distinto médico.
Os passageiros que passaram grandes sustos nas corredeiras Miguel Dias e Domingão, dão-se pressa em desembarcar, para passear na Cidade, que fornece centenas de milhares de rapaduras de 1.500 gramas de pesos, da melhor qualidade, e muitas outras produções aos mercados marginais do São Francisco, e remete o sal e café a diversos municípios de Goiás.
Das 2 horas da manhã até às 8 do dia, uma sirena de sons variados espanta o sono da parte nervosa da população. Estes sons agudos, aflautados ou rouquenhos, são produzidos dos eixos dos carros de bois, que conduzem as afamadas rapaduras dos brejos cultivados com a enxada do pai Adão; havendo, entretanto, lavradores que fazem 10 a 12 mil anualmente.
Quando o Rio Corrente não está muito baixo, o vapor segue até São José, porto do Município de Correntina, tão fértil como o de Santa Maria e mais produtor do melhor açúcar, fabricado do mesmo modo como no reinado da casa de Avís.
O viajante esclarecido, que chega a Correntina, interessa-se por visitar a usina de beneficiamento de algodão do Major Félix de Araújo, o trabalhador esforçado e progressista, que deseja como os demais a profusão da instrução e adiantamento do lugar.
O Rio Correntina é de facílimo aproveitamento ao serviço da usina elétrica pela grande quantidade de quedas de água.
Todos desejam comprar o ouro em pó do melhor que se conhece, e que as mulheres apanham no riacho que passa no meio da rua, lavando a areia trazida pela enxurrada das chuvas.
O Município de Correntina estende-se rumo a Goiás numas 40 léguas, com sua fertilidade sem par até extremar com o Município da Posse e outros.
Houve em Correntina um antigo dono que mudou o curso do rio para extrair o ouro do seu leito.
Montou moinhos de pedra e, quando bem adiantado estava o trabalho, os seus fâmulos ou serviçais tramaram plano sinistro e quebraram as represas que desviavam o rio, o qual violentamente caiu impetuoso, afundando até a ferramenta.
Mas o dono do serviço, muito prudentemente, fez como quem não compreendia aquela trama; deu boa remuneração a todos e disse que o seu fito era dividir com igualdade o produto daquela empresa e muito cautelosamente saiu para não mais voltar.
Segundo a tradição, foi vultoso o carregamento de ouro que conduziu.
Seguindo-se da confluência do Rio Corrente a 3 léguas acima chega-se à Cidade da Lapa, onde existe o santuário do Bom Jesus, que atrai todos os anos um sem-número de peregrinos de diversos Estados, que em romaria vêm prestar o culto de oração ao Pai de Misericórdia.
Celebra-se a festa no mês de agosto e o comércio tem o melhor movimento nesta época.
[…]
Por detrás das Serras do Ramalho muitas léguas servem de costaneira ao São Francisco, existem mais de 50 léguas quadradas incultas porque o cerrado de Pau d’Arco, Cedro, Capim-Açu e outras madeiras de lei que impedem a penetração nessas paragens.
Dessas matas pelo Rio Corrente saem anualmente muitas centenas de toros e muitos milheiros de tábuas de Cedro, de terrenos do Estado sem haver proibição alguma.
Biblioteca Campesina, 19 fevereiro 2023
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