Soube, neste momento, do falecimento do escritor e cineasta Arnaldo Jabor. Luto!
De um ponto de vista assumidamente pessoal, Jabor estava, culturalmente, morto e, por opção e pelos rumos que sustentou durante décadas. O crítico e professor da Universidade de São Paulo (USP), Ismail Xavier, já havia dado conta dessa transformação do Jabor a partir dos anos 1980 num ensaio extraordinário publicado no livro “O olhar e a cena”.
Xavier vai fundo e acredito que deixou Jabor bastante chateado. Mas ele apenas diz e demonstra o óbvio das opções políticas bem à direita do Jabor e o serviço que prestou a um setor do empresariado predador desse país. Ismail faz esta crítica ferina por saber do passado de Jabor no cinema novo e na resistência à ditadura que seus filmes representam.
Jabor tem os três grandes filmes dos anos 70 e que nos faz perceber a “classe média” e seus delírios como tema e horizonte. Num diálogo singular com a obra de Nelson Rodrigues, Jabor foi fundo. Lembro de: “Toda nudez será castigada”, “O casamento” e “Tudo bem”. Filmes inesquecíveis. E necessários ainda hoje… e mais, ainda hoje.
Os filmes massacram uma classe média delirante, fascista, hipócrita e sempre à disposição para apoiar ditaduras. Mas não sem trazer a baila personagens marginais como ponto de contradição da teleologia das classes dominantes. O palavrão, a cultura popular, os sonhos dos pobres, a religiosidade popular… Estão em confronto com o tradicionalismo, o catolicismo de fachada, a ostentação do luxo das classes dominantes e das classes médias apoiadoras dos de cima.
Jabor tem mais um mérito nesses filmes dos anos 70: a forma freudiana como trabalha a sexualidade(s) no cinema. Criticar o moralismo e as maneiras de “repressão sexual” foi um ponto forte do cinema de Jabor e num contexto de ditadura moralista. Percebe-se uma dimensão libertaria do sexo. Prostitutas, homossexuais, transsexuais (lembro da travesti Vera Abelha do filme “Eu te amo”. Impecável interpretação). Era preciso explodir essas formas ressentidas de ver e sentir o sexo. Jabor tinha consciência disto.
Recuando ainda mais. 1967 e o seu fabuloso e pioneiro: “A opinião pública”. Um documentário de tese sobre a classe média e as razões subliminares de seu apoio ao golpe de 1964 e à ditadura que se seguiu. Jabor nos joga na cara uma juventude idiota, uns funcionários públicos delirantes e tolos, umas donas de casa sem sonho ou perspectiva… Uma classe média imersa em seu moralismo hipócrita e religioso. Essa gente se identifica com as patriotadas de militares, padres e pastores de plantão.
Por fim, recuando mais ainda encontramos uma pequena obra de gênio: “O circo” (1966). Um curta sobre a morte lenta do circo popular. Jabor vai a cidade de Niterói e ao centro do Rio de Janeiro para filmar, escutar e nos mostrar palhaços, dançarinas, anões e contratadores de pessoas para trabalhar em circos. Um fundo musical melancólico tirado de J. S. Bach. Filme singular. Jabor nascia para o cinema como aquele cineasta em aliança com os de baixo e com um projeto popular de Brasil.
O que ele abandonou nos anos 80 e 90 e abraçou a ideologia neoliberal e tornou-se seu porta voz na Globo e na Folha de São Paulo. Morreu a primeira vez. Esse Jabor colaborou para a tragédia que estamos enfiados hoje. Mesmo que ele tenha feito críticas tardias a Bolsonaro e seu grupo. Seu antipetismo foi maior e fatal. Deveria ser eleitor de Sério Moro se vivo estivesse.
Hoje, ele morreu de vez. Siga em paz.
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(*) Por Romero Venâncio, graduado em Teologia pelo Instituto de Teologia do Recife – ITER, em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB, mestre em Sociologia pela mesma universidade e doutor Interinstitucional em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Atualmente, leciona na Universidade Federal de Sergipe (UFS)
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