Se algum ânimo ou expectativa deram a Bolsonaro e seu entorno, os resultados da pesquisa Datafolha da última quinta-feira limitaram-se, a seu favor, a reconhecer que ele pode conseguir votos suficientes para entrar no segundo turno. Contra ele, porém, a pesquisa reconheceu igualmente que Lula pode ganhar no primeiro turno. Assim, Bolsonaro luta neste momento para chegar ao segundo turno, enquanto Lula tem isso garantido e luta agora para vencer no primeiro turno.
Essa configuração da disputa, que mostra Lula em primeiro lugar no primeiro e no segundo turno, movimentou imediatamente pessoas e grupos bolsonaristas que não querem ficar mal em um futuro governo Lula.
É o caso do Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, um ícone do incondicionalismo adesista que é sempre a favor do governo e contra a oposição, sejam quais forem as correntes numa e noutra posição e respectiva localização no espectro ideológico do país. Lira dá a tal subserviência, ampla, geral e irrestrita, o nome de compromisso com a governabilidade – e, diante dos sinais emitidos pelo Datafolha, afirmou ao jornal Valor Econômico:
— O Presidente Lula tem vasta experiência política. Sabe todos os acertos que já fez, todos os erros que o partido dele já cometeu. Sabe que ele já enfrentou a Câmara e ganhou, sabe que já enfrentou e perdeu.
Traduzindo: Lula pode contar com o voto e o poder de articulação de Lira e é melhor que conte, pois Lira pode voltar-se contra ele como Eduardo Cunha e Temer se voltaram contra Dilma. Foi ao mesmo tempo uma oferta de adesão e um remoto aviso de que ainda terá poder de revide se for hostilizado.
Já o Ministro-Chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira preferiu a fórmula mais sutil de distanciar-se de Bolsonaro e aproveitou um debate com empresários para dizer, contestando a obsessão de seu chefe:
— Eu confio nas urnas brasileiras, eu confio no sistema eleitoral … A Constituição brasileira será respeitada por todos nós.
Traduzindo: que Bolsonaro não conte com seu próprio Gabinete Civil se quiser virar a mesa depois de derrotado no primeiro ou no segundo turno da eleição presidencial; que Lula conte com o Ministro-Chefe do Gabinete Civil para organizar a transição em ordem e em paz de um governo a outro, inclusive com a garantia de fornecimento de informações e documentos confiáveis sobre o estado das finanças públicas e da economia em geral.
Entanto isso um grupo de empresários apoiadores de Bolsonaro passava, segundo O Estado de S. Paulo, a fazer acenos para o lado de Lula. O mais importante membro desse grupo seria Flávio Rocha, das Lojas Riachuelo, que em 2018 foi pré-candidato a Presidente da República, mas depois desistiu. Outro integrante do grupo, Salim Mattar, fundador do grupo Localiza, de aluguel de carros, chegou a participar do governo Bolsonaro, como titular da Secretaria de Desestatização do Ministério da Economia.
O que “animou” esse grupo, segundo o Estadão, na verdade o pretexto para se aninhar perto do possível novo governo e longe do atual, foi a declaração de Lula, em evento na Fiesp, sobre a necessidade de uma reforma administrativa e de um programa de “desoneração da produção” – nada que significasse qualquer concessão às ideias de direita, às vezes extrema direita, desses empresários.
Outra mudança significativa em atitudes diante do poder do governo, foi a firmeza de uma delegada da Polícia Federal encarregada do inquérito sobre a declaração pública de Bolsonaro, no auge da Covid e de sua campanha negacionista, em que ele atribuiu às vacinas o perigo de transmitirem o vírus da Aids.
A delegada, em relatório oficial, afirmou que a declaração de Bolsonaro constitui crime. Esse relatório foi encaminhado ao Supremo, que julgará Bolsonaro se o Procurador-Geral da República o denunciar e a Câmara dos Deputados, por dois terços de seus membros, admitir o processo. No Supremo, o caso foi entregue ao Ministro Alexandre de Moraes, que conduz o inquérito sobre atos antidemocráticos instaurado há tempos pelo então Presidente do STF, Ministro Dias Toffoli, e o Ministro já o despachou para o Procurador Geral.
Em outros tempos um delegado da Polícia Federal não teria condições e segurança para fazer uma coisa dessas, assim como nem ministros do Supremo podiam contestar qualquer iniciativa da Lava Jato sem passar pelo linchamento morar da grande mídia, sob a acusação de cumplicidade com a corrupção.
Assim como contra a Lava Jato, hoje a onda virou contra Bolsonaro. E a maldição do folclore político de Brasília já deve ter alcançado seu gabinete, onde chega frio até o cafezinho que ele pede para ser gentil com as visitas.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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