The Lancet, uma das mais antigas e conhecidas revistas médicas do mundo e descrita como uma das mais prestigiadas, divulgou os resultados do imunizante russo, mas a Anvisa vê pendências para aprová-lo no Brasil
O governo acreano decretou, nesta terça-feira (2), bandeira vermelha em todo o estado e avisou que está com 98% do total de leitos da rede pública de saúde ocupado por pessoas infectadas pelo novo coronavírus. O Amazonas já vem mandando levas de doentes de Covid-19 para outras unidades da Federação desde o início de janeiro porque seu sistema de saúde entrou em colapso e precisa correr para salvar vidas. Nesta semana, dez estados brasileiros começaram a registrar sucessivos e crescentes aumentos da média móvel de mortes.
Em contraposição a esse quadro de crise geral, que avança da Região Norte e desce Brasil afora, numa segunda onda da pandemia do novo coronavírus que mais parece um tsunami, o mundo inteiro recebeu, na manhã desta terça-feira (2), a notícia de que a vacina Sputnik V, desenvolvida pelo instituto russo de pesquisa Gamaleya, tem 91,6% de eficácia, com resultados apresentados em um teste de fase três.
A novidade foi divulgada pela revista científica The Lancet, um dos mais antigos e conhecidos periódicos médicos do mundo e descrito como um dos mais prestigiados, publicado pela Elsevier, no Reino Unido. A revista divulgou um estudo em que mostra que a vacina russa Sputnik V para Covid-19 tem sim uma eficácia superior a 91,6%. Contra casos moderados e graves da doença, a sua eficácia foi de 100%.
O imunizante russo foi o quarto, na lista de vacinas em produção contra o novo coronavírus, a ter resultados de fase três publicados em uma revista científica. As análises, segundo a revista, foram feitas com quase 20 mil participantes.
Testes
A Sputnik V foi administrada em duas doses. Após 21 dias de aplicada a sua primeira dose – que coincidiu com o dia da segunda dose –, 16 dos 14.964 pacientes no grupo que recebeu o imunizante e 62 dos 4.902 que estavam no grupo de placebo contraíram a Covid-19.
O estudo indica que os resultados ainda são preliminares e dizem respeito a um teste duplo-cego (quando nem o médico e nem o voluntário sabem qual medicação está sendo administrada) e randomizado, feito com 21.977 pacientes acima dos 18 anos e que não tomaram nenhum tipo de vacina 30 dias antes do começo do ensaio.
Ainda em andamento, o ensaio tem o objetivo de incluir um total de 40 mil participantes – o monitoramento de segurança e eficácia continua. No entanto, os cientistas já constataram que a vacina era 91,6% eficaz. Pacientes no grupo de placebo sofreram efeitos adversos que não tinham relação com a vacina.
Outra informação do artigo é que a vacina funcionou bem entre idosos. Uma subanálise num grupo formado por 2 mil adultos com mais de 60 anos mostrou eficácia de 91,8%. “Ela também foi bem tolerada nessa faixa etária”.
Durante o estudo da fase três, foram registradas quatro mortes, três no grupo vacinado e uma no grupo de placebo, contudo nenhuma das mortes, segundo os pesquisadores, teve relação com a vacina.
Anvisa segura aprovação da Sputnik V
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é acusada de segurar a aprovação do imunizante desde o início do ano. Ela tem alegado que há pontos pendentes em avaliação. Enquanto isso, o Brasil ultrapassa as 225 mil mortes, 9,2 milhões de casos confirmados e mais de 1.062 mortes por dia de Covid-19.
A Sputnik V, por sua vez, além de ter sido reconhecida por uma das melhores revistas médicas do planeta, foi a primeira vacina do mundo a receber registro e a primeira (também do mundo) a ser aprovada por autoridade sanitária. Ela já foi certificada pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e foi com base nessas informações que o Estado da Bahia pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de importá-la.
Nesta terça-feira (2), o presidente da farmacêutica brasileira União Química, Fernando de Castro Marques, disse que, talvez, com a publicação dos resultados dos estudos fase três da vacina contra a Covid-19, seja mais fácil a Anvisa aprovar o uso emergencial do imunizante. A União Química é a parceira industrial do governo russo na América Latina e entrou com o pedido de uso emergencial do imunizante junto à Anvisa no início de janeiro com a proposta de distribuir 10 milhões de doses.
Mas, até hoje a agência não o aprovou. O laboratório, por sua vez, que já está produzindo a vacina em sua fábrica de biofármacos, situada no Distrito Federal, já avisou que não precisa de autorização da Anvisa para exportar as 10 milhões de doses disponibilizadas para o Brasil. A Bahia, por sinal, tem um contrato de prioridade para recebimento de até 50 milhões de doses da Sputnik V.
A Sputnik V já está em uso em 16 países, como Bolívia, Venezuela, Argentina, Hungria, Irã, Rússia entre outros. O drama da Sputink V no Brasil começou no ano passado com as idas e vindas do governo federal em relação à compra de vacinas contra a Covid-19. Para a Anvisa receber o laboratório, foi preciso o Estado da Bahia entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no STF para que fosse permitido ao estado baiano e às demais unidades federativas a possibilidade de importar e distribuir a Sputnik V no País sem autorização do governo Bolsonaro.
Registro
A Sputnik V foi a primeira vacina a ser registrada no mundo e foi elaborada com base no adenovírus humano fundido com a espícula de proteína em formato de coroa que dá nome ao coronavírus. É por meio dessa espícula de proteína que o vírus se prende às células humanas e injeta seu material genético para se replicar até causar a apoptose, ou seja, a morte celular, e, então, partir para a próxima vítima.
A tecnologia é a mesma utilizada em outras vacinas, como é o caso da de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca. A Sputnik V é a quarta vacina a ter resultados publicados em uma revista científica, ficando atrás somente da Pfizer/BioNTech, Oxford/AstraZeneca e Moderna. Quando isso acontece, significa que os dados foram revisados e validados por outros cientistas.
Com informações da Internet