A questão da divisão do trabalho entre mulheres e homens — isso que chamamos divisão sexual do trabalho — foi apresentada pela primeira vez, no fim do século XIX, no livro Da divisão do trabalho social, de Émile Durkheim (1858-1917). Ele defendia que a divisão sexual do trabalho “é fonte de solidariedade conjugal”, pois são diferentes, mas complementares, permitindo a solidariedade.
A partir de 1970, os estudos críticos feministas destacaram que essa divisão coloca a mulher na casa/no privado e o homem no espaço público; a mulher com trabalho não-pago e o homem com trabalho remunerado/assalariado. Cria, assim, relações de dominação com hierarquia entre homens (superiores) e mulheres (subordinadas).
Essa divisão só é possivel porque as relações sociais de sexo/gênero são relações de poder, marcadas por desigualdades. Assim, nos espaços privados/domésticos, é realizada uma massa de trabalho gratuito, não-pago pelas mulheres esposas-mães-donas-de-casa, em nome de uma “natureza” orientada para a maternagem, para o cuidado — de crianças, de doentes, de pessoas com deficiência, de idosos, e para uma relação de serviço e de permanente disponibilidade para o outro.
O trabalho dos homens e o tempo social desse trabalho produtivo masculino têm valor social agregado maior do que o trabalho reprodutivo das mulheres. E na sociedade capitalista contemporânea, as formas de trabalho precárias, terceirizadas, informais e destituídas de proteção social têm tido, cada vez mais, um rosto de mulher.