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O machinho de peruca: Nikolas e o patriarcado

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O deputado Nikolas Ferreira, do bolsonarismo heavy metal de Minas, resolveu comemorar o Dia Internacional da Mulher com um discurso na Câmara em que debochou das mulheres transgênero, travestindo-se com um peruca feminina loura e dizendo que agora se chamava deputada Nicole.

 

O discurso pretendia constranger as deputadas Erica Hilton, do Psol de São Paulo, e Duda Salabert, do PDT de Minas, as duas mulheres trans eleitas no ano passado, mas na verdade agrediu todas as mulheres, a quem ele sugeriu em outras palavras, que se enquadrem, em pleno século 21, na antiga receita machista de que lugar de mulher é na cozinha.

 

Isso acontecia no mesmo momento em que Lula anunciava o projeto de lei que proibirá salário menor para a mulher que exerça função igual à do homem. Na impossibilidade de reclamar sem um ridículo gritante contra essa e outras propostas pró-mulher que estão na agenda de Lula e da Ministra Cida Gonçalves, do Ministério da Mulher, o deputado Nicolas recorreu ou foi induzido a recorrer ao ridículo  e ao exibicionismo ainda maiores da peruca e de se identificar como deputada Nicole.

 

Nicolas não deve ter conhecimento do que é o patriarcado que há cinco mil anos oprime e explora as mulheres – alguém mais velho e esperto deve ter escrito o discurso, que se enquadra na onda antimulher que se espalha pelo mundo, reação machista e patriarcal aos avanços da condição feminina.

 

No Afeganistão talibã as mulheres são impedidas de frequentar escola. Nos Estados Unidos, uma decisão da Corte Suprema, agora com maioria reacionária graças às nomeações de Trump, está permitindo a assembleias estaduais de maioria republicana a adoção de leis antiaborto ferozes e cruéis.

 

No Brasil as estatísticas de feminicídio são assustadoras e o pouco que as mulheres têm de proteção a seus direitos só se sustenta graças ao Suprem Tribunal Federal. A questão do aborto faz parte do estoque de espantalhos, como em 2018 o kit gay e a mamadeira erótica, com os quais a extrema-direita tenta deter o avanço civilizatório.

 

Uma das manchetes de O Globo na sexta-feira – manchete que o Nicolas devia ter lido – denunciava outro escândalo da opressão e exploração da mulher pelo patriarcado: fatos descobertos nas investigações sobre o influencer britânico Andrew Tate, atualmente preso na Romênia à espera de julgamento:

 

– Escândalo de influencer revela estratégias no tráfico sexual: cada mulher explorada gera um lucro de 100 mil dólares por ano.

 

DO NOTICIÁRIO SOBRE O DIA INTERNACIONAL DA MULHER NO BRASIL

 

3,4 milhões de mulheres do país … são responsáveis por domicílios considerados inadequados para habitação. As moradas dessas mulheres respondem por 60% do déficit habitacional brasileiro, que em 2019 era de quase 5,9 milhões de casas –ou seja, as mulheres são as maiores afetadas pelo problema.

 

Compõem o chamado déficit habitacional famílias ou pessoas que vivem, basicamente, em três situações: em casas extremamente precárias ou improvisadas … ; que dividem uma mesma residência com outra família; ou que pagam um aluguel tão caro que precisam decidir se compram comida ou arcam com a despesa mensal.

 

A VISITA DE CELSO AMORIM À VENEZUELA

 

Agora assessor de Lula para questões internacionais, sem as exigências protocolares a que estava sujeito quando Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim esteve rapidamente em Caracas para resolver a questão da dívida de um bilhão da Venezuela com o Brasil.

 

 

Foi mais que ‘devo, não nego’. Foi ‘devo e quero pagar'”, disse Amorim após reunião com Maduro

 

 

(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.

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