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O mais novo presidente da República do Chile, Gabriel Boric, toma posse nesta sexta-feira (11)

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Gabriel Boric assumiu a presidência da República do Chile pouco depois do meio-dia, desta sexta-feira (11/3), em uma cerimônia realizada no Congresso Nacional, durante uma sessão conjunta das duas Casas Legislativas. A cerimônia de posse foi o ponto culminante do processo de transição, iniciado após sua vitória eleitoral, em 19 de dezembro de 2021, quando obteve a mais alta votação para um Presidente da República em toda a história do Chile.

 

Com a presença de representações dos países, a cerimônia contou com a participação da ex-presidente da República do Brasil, Dilma Rousseff (PT), a cerimônia também foi realizada para a posse dos membros do novo gabinete, formado por 14 mulheres e dez homens, no qual se destaca a presença de vários ex-dirigentes estudantis, ex-colegas do agora presidente chileno. Boric recebeu sua faixa presidencial das mãos do presidente do Senado, Álvaro Elizalde, que, por sua vez, a havia recebido anteriormente de Sebastián Piñera.

 

A ex-presidente Dilma Rousseff participa da posse do novo presidente do Chile, Gabriel Boric
A ex-presidente Dilma Rousseff participa da posse do novo presidente do Chile, Gabriel Boric

 

Matéria da Telesur informa que o presidente cessante desejou sucesso ao novo presidente e presenciou a assinatura do ato correspondente ao momento da posse presidencial. Com poucas palavras à imprensa, Boric disse que se sentiu “muito animado” e acrescentou: “Saiba que vamos fazer o nosso melhor para enfrentar os desafios que temos como país. A verdade é que é difícil encontrar as palavras. nosso país na praça da Constituição hoje”, disse.

 

O novo presidente terá de enfrentar, entre outros desafios, a conclusão da redação da nova Constituição na Convenção e seu plebiscito de saída; recuperação da crise pós-pandemia e conflitos territoriais no norte e sul do país. Saindo do local, a nova porta-voz do governo, Camila Vallejo, assegurou que deu “grandes batalhas no Congresso”, como deputada em dois mandatos, e que hoje terão “muito mais força” para empurrar a agenda das mulheres, dos trabalhadores e movimentos sociais.

Perfil

 

Uma apuração da Rede Brasil Atual (RBA), parceira do Jornal Brasil Popular, dá conta de que Gabriel Boric Font tinha apenas 2 anos quando o Chile disse “no!” (não!) à ditadura do general Augusto Pinochet. Financiado e orientado pelo governo dos Estados Unidos da América (EUA), Pinochet deu um golpe de Estado em 11 de setembro de 1973, para depor à força o presidente Salvador Allende, do Partido Socialista, eleito em 1970 em um sulfrágio democrático.

 

Além de assassinar Allende, a ditadura do general Pinochet matou centenas de milhares de chilenos. O plebiscito só ocorreu em outubro de 1988, quando o general fascista tentava permanecer mais 8 anos no poder. Em 2004, o jovem Boric, 18 anos, saiu de Punta Arenas, na chamada Antártica Chilena, e percorreu os 3 mil quilômetros até a capital, Santiago, para estudar Direito. Era militante do movimento estudantil e, daí, partiu para o mundo político.

 

 

Nesta sexta-feira (11/3), aos 36 anos, ele tomou posse na Presidência da República de seu país, em Valparaíso, localidade que sedia o Congresso Nacional, e Santiago, cidade em que funciona a sede do governo. Ele é o sexto após a retomada da democracia, considerando que houve duas reeleições. A plataforma Modern Democracy apresenta Boric como representante da liderança de uma nova geração, com movimentos estudantis que passaram a ocupar as ruas ainda sob a ditadura.

 

 

“Os protestos estudantis chilenos, que defendiam a democracia universitária durante esse período, foram o prelúdio de mudanças políticas muito mais profundas que incluíram a formação de novos partidos e coalizões de oposição, a promoção de agendas que incluíam maior abertura e democracia e, acima de tudo, a geração de uma consciência social e política muito maior por parte de estudantes e jovens profissionais (…) Assim, Gabriel Boric fez parte da chamada “generación sin miedo”.

 

Bem-estar da maioria

 

 

Já o jornalista e pesquisador Bernardo Gutiérrez González cita as manifestações de 2019, no Chile, contra o sistema econômico neoliberal, que tinha entre seus slogans o lema “O neoliberalismo nasce e morre no Chile”. Assim, afirma, o novo presidente pode representar um postura diferente em relação ao poder financeiro. “O grande desafio de Gabriel Boric não é apenas acalmar os mercados, como aponta a mídia, e sim desmercantilizar a vida e possibilitar o bem-estar da maioria”. A Escola de Chicago, da qual o atual ministro da Economia do Brasil, o banqueiro Paulo Guedes, faz parte, destruiu o Chile para dar lucros aos donos do sistema financeiro.

 

 

E, mesmo tendo sido um militante de esquerda eleito para a Presidência da República , não é fácil arrancar do poder as garras da águia norte-americana das riquezas do país. Boric escolheu Mario Marcel, ex-presidente do Banco Central, para o Ministério da Fazenda. Seria uma escolha para “acalmar os mercados”? Não por coincidência, entre os nomes anunciados para compor o governo, foi o que mais críticas sofreu nas redes sociais.

 

 

 

Em entrevista ao jornal neoliberal El País, Marcel declarou que o programa de governo “contempla uma reforma tributária bastante ambiciosa”. Na sempre polêmica área da previdência, o futuro ministro disse que o objetivo é construir um sistema misto, não apenas baseado na capitalização. Ele fala em um “programa de recuperação inclusiva, que assegure que ninguém fique para trás no pós pandemia”.

Desigualdade: desafio em comum

 

 

O El País também lembrou de um tema bastante familiar ao Brasil: a concentração de renda. Os 1% mais ricos do Chile detêm, aproximadamente, 49,6% da riqueza: fruto de muita rapinagem e apropriação indevida dos patrimônios, riquezas, meios de produção e outras riquezas do Estado chileno. Esse processo de concentração de renda do Chile, promovido pelo modelo econômico neoliberal, é o mesmo que o golpe de Estado de 2016, aplicado por Michel Temer (MDB) impôs ao Brasil e que Jair Bolsonaro deu continuidade após vencer eleições fraudadas pelo governo e empresários norte-americanos.

 

 

“A desigualdade do Chile ocorre não apenas porque os acessos são desiguais, mas porque a proteção social é pequena”, afirma, ao defender maior cobertura no sistema de saúde e mais segurança a aposentados e desempregados. Depois de ficar um pouco atrás na primeira rodada, Gabriel Boric venceu o segundo turno, em 19 de dezembro, com 4.621.231 votos (55,87% dos válidos). Seu adversário, José Antonio Kast (extrema direita), teve 3.650.662 (44,13%). Partidos de esquerda conseguiram pequena maioria na Câmara, o que poderá ser importante no processo de elaboração de uma nova Constituição, em andamento.

 

 

Mulheres no governo

 

 

Boric já declarou, mais de uma vez, que seu governo será feminista. E insistiu que os homens  levem a sério essa mudança cultura. Dos 24 ministros anunciados, 14 são mulheres. Mais recentemente, chamou a atenção a nomeação da tenente-coronel Cecilia Navarro Luke para ajudante de ordens das Forças Armadas, primeira mulher nessa função. “É importante lembrar que, embora o povo dos países sul-americanos dominados pelos EUA são os que pagam as contas do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, as Forças Armadas desses países, geralmente, são dominadas e obedecem aos EUA.

 

 

O Ministério do Interior também terá uma mulher pela primeira vez (Izkia Siches). A importante Secretaria de Governo ficará sob responsabilidade de Camila Vallejo, do Partido Comunista, egressa do movimento estudantil, assim como o presidente que toma posse hoje. Ambas bem jovens, outra característica do novo governo: Izkia tem 36, como Boric, e Camila completará 34 no mês que vem.

Juventude e história

 

 

“Representamos a força de uma época”, disse o presidente à BBC News Mundo (serviço em espanhol da emissora). “Acredito que representamos uma energia geracional de transformação que aprendeu ao longo do caminho a valorizar a história que nos constitui. Representamos o ar puro, a juventude, a novidade, mas com consciência da cadeia histórica dos processos. Também representamos (a ideia de) que o status quo, ou o conservadorismo, é a pior coisa que pode acontecer ao Chile neste momento.” Ele lembra que a ex-presidenta Michelle Bachelet (hoje alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos) também buscou a paridade, mas sofreu pressão das “forças do conservadorismo”.

 

 

Ele fala ainda em “novo pacto social” e em uma sociedade mais solidária”, na qual o Estado também seja capaz de garantir os direitos sociais de forma universal”. O que requer “reformas estruturais”, observou. Nada se faz da noite para o dia, admite Boric, “mas também vamos ter uma virada em relação à lógica política neoliberal de cada um por si na sociedade”.

Expectativa com Lula

 

 

“Venho da tradição socialista libertária chilena”, afirma o novo mandatário, em definição que pode remeter ao ex-presidente Salvador Allende, deposto pelo golpe de 1973. “Esse é o meu espaço ideológico de referência. Sou democrata e acredito que a democracia tem que mudar e se adaptar, e não se petrificar. Acredito que a democracia no Chile carece de maior densidade”, disse o líder chileno.

 

 

Neste sentido, Boric aponta ainda um possível “eixo” de atuação na América do Sul. “Espero trabalhar ao lado de Luis Arce, na Bolívia; de Lula, se ele ganhar as eleições no Brasil; de Gustavo Petro, cuja experiência se consolida na Colômbia.”

 

 

A propósito, o atual presidente da República não ira à posse. O Brasil será representado pelo vice, Hamilton Mourão, que tem encontros previstos com Boric e com o ainda presidente, Sebastián Piñera, en La Moneda, o palácio presidencial.

 

 

O que se sabe, com um pouco mais de certeza, é que os chilenos verão um presidente avesso ao uso de gravatas. “Um (sentido) é estético e um tanto absurdo, mas também percebi que havia no Congresso um espírito de disciplina e homogeneização por parte de uma elite muito fechada e muito parecida entre si – e por isso me mandaram para a comissão de ética, por não usar gravata. Agora, isso está totalmente naturalizado, e é totalmente normal andar sem gravata no Congresso”, comentou o ex-deputado. Até a cantora norte-americana Joan Baez, quando eles se conheceram, tocou no assunto, por ouvir uma anedota a respeito.

 

 

Da RBA e Telesur com edição do Jornal Brasil Popular.

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